Wednesday, 26 October 2016

Vendaval mata e deixa arrasada cidade e província de Maputo

Um vendaval acompanhado de chuva forte, granizo e descargas atmosféricas, que apanhou a tudo e todos de surpresa, deixou óbitos, vários feridos, sofrimento e centenas de casas arrasadas e outras destelhadas, na noite de segunda-feira (24), na cidade e província de Maputo. As escolas, as salas de aulas, os hospitais e algumas vias de acesso também não foram poupados pela calamidade. Em poucos minutos, num dia em que os termómetros atingiram 34o Celsius, a vida de centenas de cidadãos ficou de pernas para o ar e outros milhares ficaram às escuras, incluindo em alguns pontos de Inhambane, devido à queda de postes de transporte de corrente eléctrica. Desespero total para quem, além de perder um familiar, não sabe como reerguer a sua habitação no meio da crise.
O rasto de destruição mantém-se calamitoso em diferentes bairros da metrópole, cidade satélite e província.
"O vento começou por soprar ligeiramente” e, de repente, “aumentou de intensidade. Por um momento senti-me a ser projectado contra a parede da minha casa, mas nada disso aconteceu. Era por causa do medo e do receio de que o pior podia acontecer com os meus filhos que ainda estavam na escola, por estudam de noite na Bagamoyo”, foi com estas palavras que Leonor Azarias, de 52 anos de idade, residente no Luís Cabral, começou por contar ao @Verdade a amargura a que esteve sujeita.
“Foi tudo assustador e nessa altura eu estava na cozinha”, erguida no canto no seu extenso quintal “a fritar peixe para o jantar. Houve corte de energia e pouco tempo depois o tecto da cozinha voou e todas as paredes caíram. O vento varria tudo e não havia como salvar alguma coisa porque a preocupação era procurar abrigo. Graças a Deus a minha casa não resistiu mas tem rachaduras que metem medo”, disse a nossa interlocutora.
Um outro cidadão contou que quando o vendaval começou ele acabava de chegar em casa após uma jornada laboral. Segundo ele, a ventania e o céu bastante nublado denunciavam que haveria de chover, mas “mas ninguém imaginava que se tratava de um vendaval e os estragos seriam maior, até porque não havia aviso mau tempo”.
Carlos Crispim, de 35 anos de idade, residente no bairro de Chamanculo, disse ainda que quando chegou do trabalho foi “ao banho e quando já estava a sair a vi a minha esposa a correr com os miúdos gritando pelo socorro porque a casa estava a cair. Não recuperámos porque em pouco tempo os escombros ficaram alisados devido à força do vento. Não pude fazer nada, passamos a noite ao relento e fiquei impotente ao ver os meus filhos a molharem com a chuva e a correr perigo”.
Os dados preliminares avançados pelas autoridades sobre esta catástrofe são divergentes. O Serviço Nacional de Salvação Pública (SENSAP) avançou que quatro pessoas que viajavam num minibus destinado ao transporte semicolectivo de passageiros morreram na Avenida da Marginal, na cidade de Maputo, em resultado da queda de uma árvore sobre a referida viatura. Entre as vítimas está o condutor.
Ainda de acordo com o corpo de bombeiros, a queda de árvores aconteceu em quase toda a extensão daquela avenida e, nalgumas vezes, sobre os carros. Houve igualmente várias pessoas feridas, algumas das quais atingidas por objectos tais como chapas de zinco projectados pelos ventos fortes.
Diversos painéis publicitários também não resistiram à força do temporal. Alguns carros, em plena marcha, foram ligeiramente repelidos para direcções contrárias e só não capotaram por um golpe de sorte. Aconteceu em diversos pontos da Estrada Circular de Maputo.
As ruas foram engolidas pelas águas, o que tornou a transitabilidade de peões e viaturas praticamente impossível em diferentes artérias da cidade de Maputo, onde a zona baixa voltou a estar à prova e obras consideradas de engenharia para escoar as águas pluviais chumbaram.



Edilidade faz o seu balanço 



Por sua vez, Nurbai Calu, vereadora de Saúde e Acção Social no município de Maputo, disse que houve três óbitos, que se encontravam num “chapa 100” sobre o qual caiu uma árvore na via publica.
Para além de mortes, o vendaval feriu 117 cidadãos, na sua maioria de forma ligeira, e que foram submetidos à observação médica em várias unidades sanitárias da urbe. Deles, apenas três ainda estão internados.
Num outro desenvolvimento, Nurbai Calu afirmou que e 17 escolas, 18 mercados e 11 unidades sanitárias ficaram destruídas, “das quais duas com danos avultados, nomeadamente o Centro de Saúde de Zimpeto e dos Pescadores, muitos postes de energia eléctrica desabados”.
A vereadora considerou que o sistema de drenagem “funcionou muito bem”, na medida em que “durante a hora de pico das chuvas houve algum alagamento das vias de acesso, particularmente na zona baixa da cidade, mas depois de a chuva ter parado as águas escoaram normalmente”.



Mortes e mais de 300 casas derrubadas

O caos não passou despercebido para o Governo, que fala de um total de 12 óbitos. Este indicou que seis pessoas pereceram e outras 23 ficaram feridas na capital do país, sendo os distritos municipais de KaMpfumu, KaMaxaquene, KaMubukwane, KaMavota, KaLhamankulo e KaTembe os mais afectados.
Mouzinho Saide, porta-voz do Executivo, disse a jornalistas, no fim da 36ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, na qual se analisou o impacto do temporal, que Polana Caniço “A”, Triunfo, Polana Caniço “B”, Maxaquene “C”, Zimpeto, Magoanine, Inhangoia, Bagamoyo, Pescadores, Luís Cabral, Inguide e Guachene foram os bairros mais fustigados.
O vendaval, que apanhou também Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) de surpresa, deixou igualmente 167 casas destruídas, vias acesso alagadas, vias de acesso obstruídas e postes de transporte de energia eléctrica deitadas a baixo. 
De acordo com o governante, que é simultaneamente vice-ministro da Saúde, outros seis cidadãos perderam a vida na província de Maputo, onde oito distritos não escaparam do mau tempo, designadamente Moamba, Boane, Marracuene, Namaancha, Manhiça, cidade da Matola, Matutuine e Magude.

No tange a infra-estruturas, pelos menos 355 habitações, sete escolas, 22 salas de aula e 12 unidades sanitárias ruíram em consequência do vendaval.
“Registou-se ainda a obstrução de vias de acesso devido a queda de árvores e alagamento de diversas zonas residenciais, bem como a destruição de postes de transporte de energia eléctrica”, disse o Mouzinho Saide, salientando que “fenómenos meteorológicos desta natureza são frequentes durante a época chuvosa e caracterizados por chuvas intensas acompanhadas de trovoadas severas, queda de granizo e ventos fortes”.
Aliás, a empresa Electricidade de Moçambique (EDM) estimou que em muitas regiões das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane aproximadamente 800 mil pessoas ficaram desprovidas de corrente eléctrica, em consequência da queda de poste na linha de alta tensão entre o bairro do Zimpeto e o distrito de Marracuene. Os danos incluem ainda o explosão de um equipamento nas linhas Chicumbane/Lindela.



País vulnerável e população sempre surpreendida 



Moçambique é um dos países do mundo mais vulneráveis do mundo às mudanças climáticas e a vendavais.  A fraca habilidade de prever os eventos extremos, a deficiente divulgação de avisos de alerta atempada e, supostamente, a elevado pobreza tornam o país muito vulnerável às calamidades naturais de origem meteorológica, nomeadamente secas, cheias e ciclones tropicais. O INAM não tem capacidade para prever fenómenos como estes, e foi o que se viu desta vez.
Estudos efectuados no país defendem a necessidade de haver acções bem planificadas, estreita colaboração inter-institucional para a prevenção e redução do impacto dos desastres naturais, bem como é essencial o fortalecimento das instituições com meios técnicos e financeiros.
O temporal de segunda-feira pode ter servido, de certa forma, para alertar que nada está a ser feito para mitigar e, quiçá, o próximo não apanhe o povo de surpresa e despreparado e que tenha sido munidos de conhecimento para enfrentar a situação.

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