O Dia Mundial do Turismo foi assinalado na passada terça-feira(27) como muito pouco para celebrar no nosso País. “Com a depreciação do metical os nossos preços não aumentaram, era de supor que para os turistas que pagam em divisas fosse muito mais barato, mas não vêm! E não vêm porquê? Porque não há políticas”, disse ao @Verdade um operador hoteleiro que repete os problemas já conhecidos: dificuldade da obtenção de vistos de entrada, alto custo das passagens aéreas... falta até publicidade para os turistas descobrirem Moçambique!
O Governo pretende que até 2025, Moçambique seja “um dos destinos mais vibrantes, dinâmicos e exóticos de África, famoso pelas suas notáveis praias e atracções costeiras, sensacionais produtos ecoturísticos e uma cultura impressionante, com uma indústria turística crescente e sustentável”.
Mas só com discursos e vontade o turismo não se vai transformar só por si numa indústria e atrair os potenciais visitantes estrangeiros que nem sequer sabem onde Moçambique fica e quando ouvem falar nos medias internacionais habitualmente não é por motivos positivos.
Os mais aventureiros acabam por ser confrontados com as dificuldades em obter um visto de entrada, são desmotivados pelos custos das passagens aéreas, e agora também pela guerra.
Um leitor brasileiro do @Verdade revelou a sua frustração ao perceber que para obter um visto para Moçambique deveria viajar da sua cidade, no interior do País sul-americano, para a capital Brasília. “A viagem custa quase 300 reais e é só para meter os papeis, depois terei de voltar para levanta-los. Vai-me sair quase metade do preço da passagem só até Johannesburg, e depois ainda tenho de voar para Maputo que sai a quase outros 300 reais”, confidenciou-nos Leandro que acabou por só visitar a África do Sul.
Desde 2013 que o nosso País acabou com a emissão de vistos de fronteira, alegadamente porque muitos cidadãos estrangeiros entravam passando por turistas quando na verdade vinham trabalhar em Moçambique, e por conseguinte os estrangeiros que queiram visitar o nosso País precisam de deslocar-se a uma das poucas embaixadas moçambicanas existentes pelo mundo. Todavia mesmo nas embaixadas não se consegue obter um visto em menos de 30 dias.
A escolha dos turistas tem sido óbvia, preferem deslocar-se para Países onde é mais fácil e barato conseguir um visto. Por exemplo no Quénia, um dos maiores destinos turísticos do continente, é possível obter um visto no aeroporto e até mesmo a vacina que é obrigatória, tudo por pouco mais de 50 dólares norte-americanos.
“O turista que nos interessa é o que chega, pernoita, passa refeições nos restaurantes e não na barraca”
O @Verdade entrevistou um proprietário de uma unidade de hotelaria localizada numa das belas praias da província de Inhambane, que preferiu resguardar a sua identidade, e revelou que “desde há 3 anos temos-nos estado a afundar, são lodges a fechar e as estatísticas não falam nisso”.
Segundo o nosso entrevistado a causa do encerramento das unidades hoteleiras nas praias de Inhambane não é a guerra. “Os lodges estão a fechar porque não há clientes, a guerra está lá longe, acima do Save. Mas também o que se faz em termos de desmistificar isso internacionalmente? Eles (Governo) é que têm que ser criativos para mudar essa imagem lá fora”.
“Com a depreciação do metical os nossos preços não aumentaram, era de supor que para os turistas que pagam em divisas fosse muito mais barato, mas não vêm! E não vêm porquê? Porque não há políticas nem de divulgação dos destinos, o que se faz nas feiras internacionais, a nossa imagem é vendida paupérrima, depois o turista vai ao google e lê tensão militar país endividado e pensa aquilo deve ser o caos” acrescentou a fonte que encerrou o seu empreendimento enquanto aguarda por melhores dias.
O empresário moçambicano desabafou, “este nosso Governo desde que descobriu o carvão, e agora o gás, não tem interesse em fazer mais nada” disse apontando que quando são precisas infra-estruturas e políticas para os mega-projectos da indústria extrativa o Executivo tem sido célere mas não se investe no turismo, aliás ainda se levantam barreiras.
“Em Inhambane os que fazem dinheiro são os operadores que estão nas ilhas” afirmou o nosso entrevistado que estabeleceu-se numa das praias da província de Inhambane em 2005.
“Como é que é possível nós fazermos turismo ali se os preços da passagens de Maputo para Inhambane são tão caras como ir a Lisboa”.
Segundo a fonte é necessária “uma política de preços para os aviões, por estrada chegam muitos turistas de autocarro mas esses são os backpackers e não vão para o hotel e comem do mercado, não deixam dinheiro, enfeitam a paisagem para dizer que estão muitos turistas mas não são os que nos interessam. O turista que nos interessa é o que chega, pernoita, passa refeições nos restaurantes e não na barraca”.
Questionado se à falta dos turistas estrangeiros os moçambicanos seriam uma alternativa o nosso entrevistado não tem ilusões, Inhambane está há várias centenas quilómetros de Maputo (ou da Beira), de carro é um dia de viagem para ir outro para regressar portanto nem nos fim-de-semanas longos é viável.
A Verdade
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