Celebrou-se esta quarta-feira, com toda a pompa e circunstância possíveis, os trinta anos de passamento físico de Samora Machel e mais de trinta membros da sua comitiva, que de regresso de Mbala, na Zâmbia, onde estiveram numa missão fulcral para a paz na região, não mais voltariam para a pátria com vida e para o recesso dos seus lares.
Ficaram se pelas Colinas de Mbuzine e por consequência disso o país perdeu o fundador da nação moçambicana, aquele que proclamou na noite chuvosa de 25 de Junho de 1975, a nossa independência.
Hoje a figura de Samora Machel é resgatada com uma elevada dose de romantismo, exaltando-se o seu purismo, para referenciar a crise (eu prefiro chamar ausência) de valores instalada pelo status quo do liberalismo e da corrupção desenfreada.
É lugar comum ouvir dizer, gente mais velha e cheia de nostalgia “se Samorá fosse vivo, isto e mais aquilo não estaria a acontecer”.
Jovens inspirados nesses relatos orais e em vídeos no YouTube , cantam e exaltam esse homem.
Mas quem foi Samorá Machel?
1- Foi o Homem que ficou com a namorada de Filipe Samuel Magaia, a Josina Muthemba, quando aquele foi “assassinado”. Também ficou com o cargo dele na chefia do Departamento de Segurança lá na luta.
2- Foi o Homem que ficou com o lugar de Eduardo Mondlane, naquilo que se chamou de “golpe palaciano”, orquestrado pelo ser “criador mor” Marcelino dos Santos. Pelos estatutos da FRELIMO o Vice presidente, em caso da morte do líder da Frente, ascendia à vacatura e Uria Simango, foi “mafiado” por aqueles dois, a vista como se sói dizer.
3- À testa do regime, numa imitação aos amigos “comunistas” criou campos de reeducação, onde foram cometidas barbaridades sem paralelo. Chancelou os fuzilamentos públicos (alguns se lembrarão do Gulamo Nabi) como aquele ocorrido ali na lixeira do Hulene.
Como qualquer mortal, era um homem passível de erros.
Jorge Rebelo, na despedida do seu Marechal de eleição escreveu qualquer coisa como: “ ...pareceu-me ouvir pela calada da noite, o suspiro de alivio de alguns camaradas”.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Era Samora Machel o puritano?
Luis Nachote
CORREIO DA MANHÃ – 20.10.2016, no Moçambique para todos
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