Monday, 3 October 2016

COLÔMBIA / GUERRA VENCE A PAZ

 


Bogotá, 03 Out (AIM) - Contra todos os prognósticos, a Colômbia optou pelo 'não', no domingo, rejeitando o pacto de paz que procurava pôr fim a 52 anos de um sangrento conflito com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) - de acordo com número oficial divulgado após a apuração de 99,95 por cento dos votos.
A agência noticiosa AFP escreve que com 50,21 por cento o 'não' liderava a disputa contra o 'sim' (49,78 por cento), pouco mais de uma hora depois do término dessa histórica votação. O nível de participação chegou a 37,43 por cento.
Embora pelo menos 6.346.055 pessoas tenham votado no 'sim', superando o mínimo de 4,5 milhões de votos exigidos para se aprovar o acordo, 6.408.350 colombianos disseram 'não'.
Por isso, o clima era de luto na sede da campanha pelo 'sim', no emblemático hotel Tequendama, no centro de Bogotá.
Depois de reconhecer a derrota, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, garantiu que continuará buscando superar mais de meio século de guerra com a guerrilha das FARC.
'Não me renderei e continuarei buscando a paz até o último dia do meu mandato, porque esse é o caminho para deixar um país melhor para os nossos filhos', declarou Santos, em pronunciamento transmitido em rede nacional da sede presidencial, a Casa de Nariño, cercado por sua equipe negociadora nos diálogos de Havana.
Já as FARC disseram que 'lamentam profundamente que o poder destrutivo dos que semeiam ódio e rancor tenha influenciado a opinião da população colombiana', afirmou o líder da guerrilha, Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko.
Falando de Havana, sede das negociações por quase quatro anos, Timochenko garantiu que os rebeldes 'mantêm sua vontade de paz e reiteram sua disposição de usar apenas a palavra como arma de construção para o futuro'.
Cerca de 34,9 milhões de colombianos foram convocados para se pronunciar sobre o pacto assinado a 26 de Setembro passado entre as FARC e o governo de Juan Manuel Santos, em um dia que transcorreu com tranquilidade.
Momentos depois do anúncio da vitória do 'não', o Exército de Libertação Nacional (ELN) defendeu, em sua conta no Twitter, que 'apesar dos resultados' é preciso 'continuar lutando pela paz'.
'Convocamos a sociedade colombiana a continuar buscando saída negociada para o conflito armado', escreveu o ELN na sua conta Twiter.
'Apesar dos resultados adversos para os acordos de Havana, os colombianos devem continuar lutando pela paz com transformações', acrescentou o grupo rebelde, que estava nas conversas iniciais para percorrer o mesmo caminho das FARC em negociação com o governo Santos.
'É como se fosse um Brexit', disse à AFP a advogada e directora da Bar Human Rights Committee, Kirsty Brimelow, convidada para a assinatura em Cartagena, referindo-se à saída da União Europeia votada pelos britânicos que também não foi antecipada pelas pesquisas.
Os colombianos afirmam estar cansados da guerra, mas muitos resistem a fazer concessões às FARC. A guerrilha marcou a história recente do país com massacres, sequestros, extorsões e desaparecimentos forçados.
Um dos eleitores que votaram no 'não' foi o aposentado José Gómez, de 70 anos, alegando que 'é um absurdo premiar alguns traficantes de drogas assassinos que fizeram do país um desastre'.
O governo já havia dito não ter um plano B em caso de derrota no plebiscito que perguntava: 'Você apoia o acordo final para o término do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?'.
As últimas pesquisas apontavam a vitória do 'sim', com 20 por cento das adesões frente ao 'não', firmemente apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
"A paz é ilusória. Os textos de Havana são decepcionantes', criticou o senador e ex-presidente.
'Não entreguemos a Colômbia', repetiu Uribe, para quem o acordo concede impunidade aos rebeldes e encaminha o país para o 'castrochavismo' de Cuba e Venezuela.


VENCEU O ÓDIO


'O ódio venceu, venceu o ódio contra as FARC', disse à AFP o director do centro de análise Cerac, Jorge Restrepo.
"Ficamos mergulhados em uma profunda crise política e com consequências económicas muito negativas', acrescentou.
Agora, são as FARC que 'vão decidir se continuam com o desarmamento, com a reintegração e com o cessar-fogo bilateral', disse Restrepo, referindo-se ao processo iniciado sob a supervisão das Nações Unidas, no cumprimento do estabelecido no âmbito do acordo já selado.
O pacto de 297 páginas com as FARC tem como objectivo acabar com o principal e mais antigo conflito armado nas Américas, um complexo emaranhado de violência entre guerrilhas, paramilitares e agentes do Estado, com balanço de 260.000 mortos e 6,9 milhões de deslocados.
O acordo previa o ingresso das FARC na vida política de forma legal. Seus 5.765 combatentes - segundo números da guerrilha – deveriam concentrar-se em 27 lugares para seu desarmamento e posterior reinserção à vida civil. Agora, porém, o que reina é a incerteza absoluta.
'Ninguém estava preparado para isso. Não havia plano B. Agora, não sabemos o que pode acontecer, mas está claro que as condições dadas às FARC para o acordo pesaram muito e a falta de mobilização do eleitorado colombiano também', disse à AFP o engenheiro Jorge Cifuentes, de 55 anos.


(AIM)

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