O Professor João Pereira deu uma extensa entrevista ao semanário SAVANAdo dia 15 de Julho em curso na qual afirmou que Filipe Nyusi era um “Presidente de faz de conta”, porque ele é apenas “um Presidente que está lá, mas não tem um punho pessoal.” Dito de outra forma, é um Presidente controlado e teleguiado pelas forças internas com mais poderes do que ele dentro do partido. Um Presidente cujos poderes foram sequestrados pela elite interna da geração 25 de Setembro (de luta de libertação nacional).
Na mesma edição do jornal SAVANA, há um artigo da África Confidencial no qual se pode ler que “Nyusi ainda não percebeu a gravidade da situação”, porque “está a ser incapaz de compreender que o seu país enfrenta uma grande emergência económica e tenta responder à calamidade com medidas cosméticas”.
Concordo com o Professor João Pereira, mas já não concordo a África Confidencial. Não há dúvidas que Nyusi é um Presidente de “Faz de conta”, que está a “fazer de conta” que ainda não está a perceber a dimensão do buraco do barco que está a conduzir no alto mar. Digo que está a “fazer de conta” que ainda não percebeu, porque tenho impressão que ele, na verdade, sabe e percebe, profundamente, a gravidade da situação do país, mas ele é incapaz de esboçar qualquer medida séria, dado que medidas sérias afectariam, substancialmente, os interesses da elite armada dos antigos combatentes, a mesma que o colocou no poder para “fazer de conta” que ele é Presidente. Nunca houve vontade da elite dos antigos combatentes em passar o poder a quem não tenha participado na libertação do país. Porém, a falta de consenso e o desentendimento interno em torno de quem seria, entre eles, o próximo candidato do partido, fez com que optassem por uma aparente ruptura: indicar uma figura que não fosse da tradição militar, da luta de libertação nacional, mas também uma figura que não iria ameaçar os seus interesses. E essa figura era Filipe Nyusi.
O primeiro sinal de que esta elite não estava disposta a afastar-se do poder é que Nyusi, como candidato, foi eleito quando faltam sensivelmente sete meses das eleições, tempo insuficiente para que ele tentasse perceber e reestruturar as máquinas partidária e do Estado. Ao contrário, Guebuza foi eleito em Junho de 2002 como candidato às eleições de Dezembro de 2004, ou seja, com o mínimo de dois anos e meio, o que o permitiu reestruturar o partido e montar uma máquina que fosse ele a conduzir. Igualmente, teve tempo de fazer a revisão da máquina do Estado que ele conhecia muito bem.
Ao não dar tempo a Nyusi para, no mínimo entrar no partido e no Estado, estava claro que esta elite queria que entrasse e conduzisse as máquinas por ela minadas, sem que tivesse tempo de as testar. Na verdade, Nyusi entrou nos dois Leviatãs que desconhecia por completo. Foi como dar camião-cavalo manual de 16 velocidades a um condutor que aprendeu a condução com uma carinha de caixa automática, de quatro lugares.
Nyusi está num dilema. Não tem poder, não conhece o Estado nem o partido que ele dirige por dentro. O resultado é a sua incoerência e contradição discursiva. Hoje diz uma coisa e amanhã diz outra que contradiz o que disse anteriormente. O seu discurso de tomada de posse é hoje antítese do que vem afirmando em comícios populares e em entrevistas. Os resultados da sua governação são também antítese das suas promessas eleitorais.
Há uma grande diferença entre Joaquim Chissano, Armando Guebuza e Filipe Nyusi. Enquanto Chissano tinha conhecimento profundo do Estado que ele próprio participou activamente na sua construção e consolidação, conhecia e detinha influência considerável no partido, Guebuza conhecia perfeitamente o partido, que desde 1965 se encarregou de montá-lo como comissário político. Igualmente conhecia profundamente o Estado no qual foi ministro dos sectores de defesa e segurança, além de ter sido ministro dos Transportes e Comunicações, Governador provincial, etc.. Nyusi não conhece nem detém influência em nenhum dos dois monstros. É por isso que é um Presidente de “faz de conta”.
Pessoalmente, sinto que ele tem vontade, mas a sua vontade esbarra-se nos interesses desta elite gerontocrática.
O seu discurso de tomada de posse espelha a vontade que ele tem. Porém, é medroso, impotente e incapaz de avançar para uma ruptura.
Lázaro Mabunda, no Savana de 29.07.2016
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