O político e antigo braço direito do líder da Renamo, Raúl Domingos, considera que as negociações de paz em Moçambique só têm sido possíveis com recurso à pressão armada, o que se consubstancia no facto de os acordos de 1992 e 2014 terem sido rubricados por essa via. Para evitar tal situação, ele é a favor da alteração do sistema político vigente, porque propicia sucessivas crises militares resultantes do facto de os vencedores das eleições gerais governarem até os locais onde não foram eleitos à custa de outros partidos.
"Eu sei que a verdade dói, mas a experiência do Acordo Geral de Paz (1992) mostra que só se negociou porque havia pressão militar", afirmou o ex-chefe da delegação da Renamo nas negociações de paz para Moçambique naquele ano, em Roma, e que foi expulso do partido em 2000, por alegada facilitação da vitória da Frelimo nas eleições gerais de 1999.
Raúl Domingos, que falava num encontro de reflexão com os partidos políticos, subordinado ao tema “Soluções para a Paz e Estabilidade Politica em Moçambique: Contribuição dos Partidos para o Dialogo Politico”, na terça-feira (02), em Maputo, disse ainda que no país há um “défice de reconhecimento mútuo”.
E o mesmo problema, que dificulta o diálogo político entre o Governo e a Renamo, aconteceu aquando das negociações que levaram à assinatura do Acordo Geral de Paz. “Tivemos de trabalhar na confiança para poder fazer avançar o acordo".
De acordo com o político, ora presidente Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), o sistema político que “nós adoptámos, em que o vencedor das eleições gerais fica com tudo, incluindo no nível local”, mostra-se pouco adequado, uma vez que os eleitores que votam sempre determinado num partido, são ao fim e ao cabo, “dirigidos por um outro partido", o que “não se compreende”.
A alternativa a este modelo, que segundo vários políticos é parte dos problemas pós-eleitorais em Moçambique, é o exemplo da vizinha África do Sul, onde cada partido governa a província onde vence. Não interessa o partido que ganha em todo o país.
À semelhança das queixas do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) nos que diz respeito à sua alegada dificuldade de inserção política no país, o ex-número dois da “Perdiz” considera que a intolerância e exclusão políticas e o fiasco na despartidarização do Estado estão na origem da actual tensão político-militar.
No evento a que nos referimos, promovido pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), os partidos extra-parlamentares, que reivindicam participação no diálogo político entre as partes beligerantes, disseram que os acordos de 1992 e 2014 não capazes de assegurar a paz e nunca foram “acompanhados de acções claras de reconciliação. Ainda existe um longo caminho a percorrer para a sua consolidação”.
Na sua comunicação, apresentada Miguel Mabote, presidente do Partido Trabalhista, os extra-parlamentares sugeriram a criação de condições para o reaparecimento público do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, pois as negociações não podem ser feitas com ele no mato.
Eles exigiram igualmente a eliminação da intolerância política, a restituição das liberdades políticas, a aceitação mútua e a ponderação de pontos de cada uma das partes para a reconciliação.
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