Um politólogo moçambicano disse, criticando o ANC da África do Sul pelo desaire que teve nas recentes eleições eleições municipais de Agosto de 2016, que, diferentemente do partido Frelimo que percebeu que poderia perder as eleições se não adaptasse indo buscar um candidato do norte, o ANC deixou-se ficar e agora tem aí os frutos.
Esta dissertação é, completamente, falsa, nula e pode fazer cair muita gente em análise sócio-política errada. Quem anda atento aos acontecimentos do país entende que a Frelimo socorre-se de malabarismos para alcançar o poder e não se dará ao prazer de atribuir mérito a quem não o merece.
Este domingo, 07.08.2016, estive a escutar o programa ESTA SEMANA ACONTECEU, da Rádio Moçambique, em que dois dos propagandistas do regime, Gustavo Mavie e Alexandre Chivale, apelavam à ilegalização da Renamo. Apercebi-me que do outro lado, estavam uns indivíduos sem consciência do assunto que estavam a falar, num monólogo de vendidos ao diabo.
O que faz a Frelimo continuar no poder, ao longo dos pesados 41 anos, não é por se adapta a alguma coisa, mas se deve à fraudes tais como enchimento de urnas com votos falsos, violência contra os adversários, o domínio que tem sobre todos os órgãos eleitorais, o uso indevido de fundos e bens públicos a seu favor, tanto em épocas eleitorais como em outros momentos. Se, para a Frelimo, a simples mudança da etnia do seu candidato tivesse sido suficiente para vencer uma eleição, então, não se teria socorrido da violência, em Gaza, Tete e Cabo Delgado, contra o candidato do MDM.
Porquê continua a destruir símbolos e a queimar sedes do MDM? É por temer ser suplantado. O povo está muito cansado. Se a Frelimo tem um candidato de uma região diferente da habitual da origem dos seus candidatos e uma máquina eleitoral bem montada, não se entende a razão de continuar a postar na guerra para manter o país submisso aos ditames dos que promovem a guerra e medo. A guerra, ora em curso no nosso país, visa, essencialmente, encher os bolsos das elites do partido governamental porque dela tiram fabulosos lucros na compra de armamentos.
Com a guerra, não se justificam os gastos, na maioria claramente ilícitos, porque tudo será feito em nome da suposta defesa da pátria ameaçada. Os roubos e a corrupção serão feitos em nome de defender o país dos inimigos da pátria, fazendo da mentira em verdade. Um partido inserido no povo não precisa de usar os meios públicos de comunicação social para denegrir a oposição nem mesmo necessita de apoio de mercenários de consciência (G40 – um grupo de intelectuais moçambicanos vendidos ao regime da Frelimo para fazerem propaganda barata a favor do governo e do partido que o sustenta) para mostrar que faz bem ao povo.
Se a Frelimo não tivesse medo das eleições, não estaria a raptar e a assassinar os seus adversários políticos em que nem mesmo académicos e magistrados sem apego ao partidão escapam à chantagem e chacina dos seus bandidos - os perigosos esquadrões da morte que semeiam luto no seio das famílias moçambicanas. Não escapam às balas dos esquadrões da morte até membros do Conselho de Estado e do Conselho Nacional de Segurança e Defesa, desde que sejam da oposição.
Na África do Sul, o ANC não tem as mesmas manobras que a Frelimo tem a Frelimo. As possibilidades que a ZANU de Robert Mugabe, do Zimbabwe, MPLA de José Eduardo dos Santos, de Angola, de Chama Cha Mapunduzi, de Tanzânia, têm não existem na terra de Nelson Mandela.
Na África do Sul, a consciência dos seus cidadãos é bastante elevada, o nível de escolarização é alto, a sociedade civil está bastante evoluída e as leis permitem uma maior abertura democrática. Em Moçambique, as eleições, conforme mostra a prática da Frelimo, são um motim que deve ser monitorado por soldados e polícias em carros blindados e cães de guerra. As leis sul-africanas não permitem a tais barbaridades, por isso, uma eleição é uma verdadeira luta de igual para igual e não uma encenação. Jacob Zuma, presidente sul-africano, não é pior que Armando Guebuza, antigo presidente moçambicano, que laçou o nosso país na sarjeta da vergonha por dívidas ocultas e inconstitucionais.
Zuma aceitou a derrota, nem lançou blindados nem cães para rasgar os seus adversários, como tem acontecido entre nós, em Moçambique.
A Frelimo é uma força de bloqueio cuja remoção se torna, cada vez mais, um imperativo histórico e nacional, para que o país volte a caminhar pelos carris da normalidade.
Edwin Hounnou, no Facebook
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