O embaixador norte-americano em Moçambique considera que a realização de empréstimos escondidos foi “uma decisão que vai ter consequências”, defendendo a necessidade de haver transparência em todo este processo que potenciou a crise económica no país africano. “Precisamos de ter clareza sobre como os empréstimos foram contraídos, para que é que foi usado o dinheiro e se há possibilidade de recuperar alguns desses fundos”, disse Dean Pittman, citado pelo jornal norte-americano Wall Street Journal (WSJ).
“Foram más decisões, tomadas em segredo e vão ter consequências”, avisou o embaixador norte-americano em Moçambique, num artigo em que os jornalistas do Wall Street Journal abordam as relações entre os bancos Credit Suisse e VTB e vários empresários da alta finança mundial.
“Quando um empresário libanês pediu ao Credit Suisse para financiar as vendas de navios militares a Moçambique, isso parecia uma oportunidade de transformar uma relação com um empresário rico num negócio lucrativo, mas em vez disso, enredou o banco num escândalo que se espalhou desde Maputo até aos centros financeiros mundiais”, escrevem os jornalistas do Wall Street Journal nas primeiras linhas do artigo, com o título “Nos bastidores dos ‘azedados’ negócios moçambicanos do Credit Suisse”.
Em causa está a angariação de 2 mil milhões de dólares para três empresas públicas detidas parcial ou totalmente pela secreta moçambicana, um negócio que “ajudou a subir os lucros do banco de investimentos Credit Suisse e garantiu importantes contratos para Iskandar Safa, cuja empresa de construção de barcos militares sedeada em França estava em dificuldades”.
Os financiamentos, que estão a ser investigados pelos reguladores financeiros britânicos e suíços, são criticados por responsáveis do Credit Suisse que, sob anonimato, consideram que estes negócios não são adequados para o banco. “Estamos a falar de um país com extremas necessidades de saúde e pobreza”, comentou a líder da unidade africana no departamento de pesquisa da consultora Teneo Intelligence, acrescentando que “se tivesse havido prioridades corretas das necessidades de investimento público, nenhum destes projetos teria visto a luz do dia”.
Entre os negócios está um empréstimo de 622 milhões de dólares para a compra de equipamento militar e mais 850 milhões em obrigações da Ematum (Empresa Moçambicana de Atum), em 2013, e mais 535 milhões num empréstimo pela VTB para a construção de um estaleiro para servir as necessidades das frotas militares e pesqueiras.
Até 2015, os investidores estavam satisfeitos com os lucros destas operações, mas a partir desse ano “as coisas começaram a descambar para Moçambique e para os seus credores”, escreve o WSJ.
“As três empresas públicas tinham planeado pagar os empréstimos através da celebração de contratos de trabalhos de segurança para as empresas internacionais de gás natural e pela pesca do atum, mas as empresas estrangeiras suspenderam a maioria das operações em Moçambique por causa dos baixos preços do gás”, lê-se no artigo.
O texto termina lembrando que as reservas em moeda estrangeira em Moçambique caíram de 2 mil milhões de dólares em janeiro, para 1,8 mil milhões, em maio, e que o país está sem financiamento internacional e com a situação económica e a crise político-militar a piorarem.
Observador
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