Em Moçambique, a negociação entre a RENAMO, o maior partido da oposição, e o Governo da FRELIMO foi adiada para o dia 29 de abril. O jornalista moçambicano Fernando Lima diz que o adiamento é estratégico.
Moçambique aguarda um desfecho pacífico para a tensão política que se vive no país. No início do mês, confrontos entre membros da RENAMO e a polícia em Muxungué (centro) resultaram em quatro mortos e mais de dez feridos.
A RENAMO e o Governo moçambicano deviam-se ter encontrado em Maputo esta segunda-feira (22.04.2013) para resolver o clima de tensão. Mas as conversações foram adiadas uma semana, para dia 29 de abril.
Fernando Lima, jornalista e diretor do semanário moçambicano Savana, considera que este é um adiamento estratégico. Para ele, o Governo e a RENAMO estão, em primeiro lugar, a pôr termo às posições belicistas para depois se sentarem à mesa de negociações.
DW África: A imprensa local tem noticiado que o Governo moçambicano está a adquirir material bélico. A ser verdade, isso acontece por causa da tensão política que se vive no país ou estas são meras aquisições de rotina?
Fernando Lima (FL): Eu não tenho nenhuma informação sobre essas aquisições de material, especificamente para esta questão da confrontação com a RENAMO. Tenho conhecimento, sim, que há programas regulares de reequipamento das Forças Armadas e também da polícia. Isso acontece com alguma regularidade. Mas uma notícia desta natureza pode dar a entender que a polícia e o exército moçambicano estão muito bem equipados. Esta ideia não é verdadeira. É opinião corrente dos especialistas que o exército, sobretudo, mas também as forças policiais, continuam a estar deficientemente equipados para responder quer às missões de defesa da soberania, quer a missões de lei e ordem, como é o caso da polícia.
DW África: Circulam informações segundo as quais altas patentes militares do Governo se dirigem à zona centro, para além de militares. E também há informações de que se intensificam os treinos do lado da baía de Maputo. Paralelamente, há tentativas de negociações entre a RENAMO e o Governo. Como vê este paralelismo?
FL: Não estou de acordo com este cenário. Se é verdade que há treinos militares, esses treinos militares acontecem todos os dias, todas as semanas. É normal haver treinos no exército e na polícia. Também é verdade que tem havido movimentações de patentes militares e da polícia na zona centro do país. É normal que isto aconteça porque há uma situação de tensão, portanto as forças do Estado movimentam-se também nesta área.
Agora, é claro que este tipo de movimentações, quer de generais, quer de posicionamento de forças no terreno, também contribuem para o aumento da tensão.
DW África: Enquanto isso, a negociação foi adiada para o dia 29 de abril. Face a este adiamento, pode-se dizer que há realmente interesse em resolver este caso que deixa muitos moçambicanos preocupados?
FL: Eu acho que, de parte a parte, ninguém quer perder a face. E, portanto, por exemplo, a desmilitarização do centro do país não pode acontecer para já, por via dos comunicados públicos. Portanto, quer-me parecer que isto vai acontecer. As partes vão verificar esta situação e pretende-se que se chegue à mesa das conversações com um melhor ambiente, sobretudo do ponto de vista tático-militar. Uma das exigências da RENAMO é, sobretudo, que seja, de algum modo, eliminada a presença da Força de Intervenção Rápida da polícia na zona centro do país. Quer-me parecer a mim que não vai haver nenhum comunicado oficial do lado do Governo a dizer que isto está a acontecer a pedido da RENAMO.
Por outro lado, houve claramente uma concessão, creio que no sentido correto, de afastar os encontros de um restaurante, porque claramente a FRELIMO e o Governo querem minimizar o tipo de contactos que mantêm com a RENAMO. Mas, por outro lado, a RENAMO também tinha pedido para que o ministro da Agricultura, José Pacheco, fosse afastado das conversações e ele mantém-se como chefe da delegação governamental.
Por outro lado, houve claramente uma concessão, creio que no sentido correto, de afastar os encontros de um restaurante, porque claramente a FRELIMO e o Governo querem minimizar o tipo de contactos que mantêm com a RENAMO. Mas, por outro lado, a RENAMO também tinha pedido para que o ministro da Agricultura, José Pacheco, fosse afastado das conversações e ele mantém-se como chefe da delegação governamental.
Este adiamento aparente visa exatamente encaixar estas cedências de parte a parte num melhor ambiente para que tenham lugar novas conversações entre a RENAMO e o Governo.
DW, leia aqui.
DW, leia aqui.
No comments:
Post a Comment