EDITORIAL
Começa a ficar claro que as emboscadas de Setembro
contra o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, e o negativo e perigoso
episódio de 8 de Outubro, ali no Bairro das Palmeiras na cidade da Beira, não
foram eventos isolados. Agora parece também claro que todos estes eventos não
foram o corolário de posições desconcertantes e difusas, como os alegados
mediadores quiseram dar a entender.
Está agora claro que foram ensaios ou testes da
reacção popular e dos grupos de pressão para se ter uma ideia de qual seria o
efeito público de um anúncio que culminaria com a ilegalização da Renamo
armada.
E parece-nos que a reacção apática quase
generalizada dos diferentes sectores da opinião pública conferiu algum sentido
de coragem ao Governo para assumir publicamente um plano de aniquilamento da
Renamo.
O anúncio feito pelo ministro do Interior, Basílio
Monteiro, na Assembleia da República – depois dos trágicos episódios de
Morrumbala (Zambézia) e Tsangano (Tete) –, segundo o qual, “este processo
[recolha de armas] vai prosseguir até que a última arma, em mãos não
autorizadas, seja recolhida coercivamente ou entregue voluntariamente ao seu
legítimo depositário, as Forças de Defesa e Segurança”, tratou de clarificar as
águas.
As declarações de Basílio Monteiro já vinham sendo
reproduzidas pelo pouco polido comandante-geral da Polícia, Jorge Khálau, nas
suas várias intervenções públicas.
Por outras palavras, a abordagem da violência é
mesmo oficial, e a arrogância e o sentimento de que “tudo podemos” suplantou o
bom senso, e ninguém, pelos vistos, está disponível para emprestar os neurónios
para equacionar no caos decorrente desta postura e solução.
Certamente que o leitor deverá estar recordado de
que dissemos aqui, neste mesmo espaço, que o silêncio de Filipe Nyusi perante
todas as atrocidades das Forças de Defesa e Segurança era indicador de
concordância tácita. Anotámos aqui, neste mesmo espaço, que Nyusi estava a
comercializar, através da sua propaganda, uma alegada impotência perante acções
levadas a cabo pela suposta ala radical.
Quando nos referimos a este particular, colocámos
esta hipótese como nula, visto que não acreditávamos que Nyusi, com todos os
poderes discricionários constitucionalmente ao seu dispor, poderia estar a ser
usado para acções de violência criminosa.
Na segunda-feira, ficou claro que tínhamos razão. O
rosto que não se via bem nesta fotografia de acções incoerentes, que de forma
grave arrastam o país para o caos, é mesmo o de Filipe Nyusi. Agora ficou mais
claro. Nyusi foi, na segunda-feira, ao parlamento angolano informar que aprecia
o método usado pelas autoridades angolanas de eliminar fisicamente o então
presidente do maior partido da oposição, Jonas Savimbi, naquilo que agora é
considerado como “solução angolana”.
Em discurso aos deputados da Assembleia Nacional de
Angola, esmagadoramente dominada pelo MPLA (partido no poder), Filipe Nyusi
disse o seguinte: “O povo angolano encontrou a forma certa para a coexistência
pacífica entre as várias formações políticas. Uma fórmula que consegue manter
as formações políticas não-armadas. Acreditamos que essa experiência será
explorada”, disse Nyusi, ficando claro o objectivo da sua visita a Angola.
Como se pode depreender, num só parágrafo Nyusi
esclareceu um bom par de situações, ao alinhar como apreciador da inexistente
democracia angolana e a forma como foi imposta aos angolanos. Nesta única
disposição frásica Nyusi esclareceu que:
1. Sempre esteve a par das sucessivas tentativas de
assassinato do presidente da Renamo e ciente do caos e desgraça que tais
tentativas causaram em várias famílias.
2. Que Nyusi não é nenhum inocente nem parvo, qual
imagem fraudulenta que nos tentou vender por via da sua propaganda.
3. Que Nyusi não acredita em soluções pacíficas
como o diálogo para aproximação de diferenças.
4. Que os nossos concidadãos, filhos e pais que
estão a tombar nestas confrontações e a desgraça daí decorrente não são
suficientes para inspirar uma saída mais racional e menos sangrenta e
fracturante da sociedade.
É curioso que Nyusi saúde o regime angolano como
exemplo de convivência e coexistência democrática.
Isso é mentira. É em Angola onde estão detidos 15
jovens pelo simples factos de se terem reunido e lerem um livro. Foram
alistados como terroristas e com adereço de perigosos.
Até as acusações contra aqueles pobres jovens
tiveram de ser falsificadas, para conferir legalidade a actos ilegais.
Portanto, a Angola que Nyusi saúda é a mesma que está contra os seus próprios
cidadãos. Até vão a igrejas em vigílias, a Polícia com cães e material de
guerra, para vandalizar as reuniões. É essa Angola, que está na boca do povo
pelas piores razões, que vai servir de modelo a Maputo.
Mas como vale tudo nesta empreitada de busca de
legitimidade para actos ilegais e criminosos, até Angola dá jeito. Mas
cumpre-nos informar ao senhor Nyusi que o problema deste país não são as armas
da Renamo, é a pobreza, a exclusão, a corrupção, o nepotismo, que faz os irmãos
da esposa tornarem-se ministros, e filhas dos amigos tornarem-se
vice-ministras. É isto que danifica este país, e é o que faz de Angola hoje um
dos piores lugares para se viver. É claro que é inconcebível que numa
democracia haja partidos armados, mas a questão é: temos cá uma democracia?
Chega de falsos argumentos para camuflar a realidade.
Não são os homens armados da Renamo que endividaram
o país com Ematuns e convidaram o FMI, tal como em Angola não são os 15 jovens
que entregam as riquezas do país às filhas como herança. A falta de uma visão
nacional republicana e a predisposição para a destruição é, em termos de
prioridade, o nosso problema maior. É aqui onde temos de investir tempo e
intelecto. O resto é coreografia da máfia para ludibriar incautos.
(Canal de Moçambique)
(Canal de Moçambique)
CANALMOZ – 13.11.2015
FONTE : Moçambique para todos
FONTE : Moçambique para todos
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