Entre os debates mais intensos que permeiam a sociedade actual, uma questão que não pode ser colocada em segundo plano certamente é a da desmilitarização dos homens armados da Renamo. Opinar sobre tão complexa matéria é seriamente um desafio, no entanto, enquanto cidadão, tenho o direito e especialmente o dever de me posicionar, sobretudo de um assunto quanto este, que é bastante recorrente na mídia nos últimos meses.
Antes de tudo, permitam-me dizer que sou apenas um estudante de Filosofia, escrevo este texto por iniciativa própria, motivado por testemunhos diários de pessoas próximas que me levam a convicção de que, como um candidato à filósofo, se calar-me perante um assunto como este, estar a aprender a filosofar, certamente não vale a pena. Mas se há lição que não vem nos livros de Filosofia, é matéria criminal, portanto, se estiver cometendo crime com este texto, entendam e perdoem a minha ignorância.
Através da minha pequena rádio ouvi dizer, na voz do dirigente máximo da Polícia da República de Moçambique, certamente sua excelência Comandante Geral, que iriam desmilitarizar a Renamo e, para esse fim, a força seria usada se necessário. A razão para este texto é um pedido de reconsideração, uma reconsideração que acho que deve ser urgente. Devo dizer, antes de mais nada, que nada tenho contra a desmilitarização da Renamo, nem de qualquer outro grupo ilegalmente armado. E concordo que é trabalho da polícia zelar pela ordem e tranquilidade pública, o que implica que é seu dever recolher toda arma em mãos alheias e, quem porta uma arma indevidamente sabe que está correndo um risco. Desmilitarizem pois, desmilitarizar qualquer grupo ilegalmente armado é um dever da Polícia. Mas por favor, não desmilitarizem à força, pelo menos, não à Renamo.
Em primeiro lugar, a meu ver, desmilitarizar significa tirar armas de quem está armado, neste caso, serão usadas armas para tirar armas, o que leva a crer que, apesar do líder da Renamo ter declarado nas “bandas de Chiveve”, na primeira acção dessa desmilitarização, que ele era“cristão” por isso não retaliaria, nada assegura que a Renamo vai simplesmente entregar as armas e as hostilidades acabarem, o que já é um facto, meu irmão que esta(va) nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique, de apenas 21 anos sumiu desde que nos noticiou na última segunda-feira (09) que foi escalado para mais uma missão da desmilitarização da Renamo, não tivemos mais contacto com ele, quando digo meu irmão, não falo apenas do meu parente, estou a falar do primo do meu amigo que sumiu numa missão de desmilitarização na província de Tete, estou a falar do pai da esposa do meu docente que sumiu numa dessas missões na província de Manica, estou a falar do pai do meu afilhado de apenas 9 meses que certamente foi morto e, de muitos outros moçambicanos que a sua vida é interrompida por razões que desconhecem, mas que alguém pode parar, ordenando o fim das missões da desmilitarização coerciva da Renamo; sim, isso mesmo, o fim da desmilitarização coerciva, porque a desmilitarização da Renamo é preciso, mas não coerciva, e sim desmilitarização através de um diálogo para o entendimento.
Em segundo lugar, e isto é o mais importante, os conceituados analistas políticos que defendem a necessidade da desmilitarização coerciva, com justificativa de que uma vez desmilitarizada a Renamo, alcançaremos a tão almejada paz e, consigo a tranquilidade e a segurança pública. Pergunto, não seria mais coerente incentivar o diálogo, nas suas diversas modalidades, ao invés de incitar a guerra na mais aceitável significação do termo? O diálogo é o melhor caminho para se chegar a paz, e não a desmilitarização, porque a paz não se traduz pelo calar das armas. Quantos exemplos de famílias podemos dar, que não vivem em paz, mas que nenhum dos integrantes possui arma sequer. O diálogo é tudo que precisamos para desmilitarizar a Renamo, não sendo bem-sucedidos como deveriam, as estratégias do diálogo, como em qualquer outra acção humana, devem evoluir novas formas de conscientização da Renamo para optar pelos caminhos que levem a paz.
Incentivar a desmilitarização da Renamo à força, além de constituir um claro descompromisso com a paz, atesta a incapacidade do Estado para resolver questões sérias e urgentes. A atitude mais sensata é sempre eliminar o problema em sua origem, em qualquer que seja a situação. Não podemos mais conceber, a essa altura, a recorrência a mecanismos imediatistas para sanar algo que poderia ter sido suprimido no passado.
Em uma última análise, não deixaria de apelar a paz a todos os moçambicanos e, mais uma vez dizer que a paz é o que mais interessa para a maioria dos moçambicanos, e pelo menos a mim importa que ela não seja conseguida na base de sacrifício de vida de pessoas inocentes, como aquelas que enumerei. A nossa vida social, digo de nós moçambicanos, já é precária mesmo sem guerra, pelo menos da maioria é, imaginem com uma guerra que estão implementando por causa de posições extremistas que tomam, justificando que a ela querem evitar.
Por fim, devo dizer que apesar de tudo, ainda acredito na instauração da paz definitiva em Moçambique, também porque gosto de pensar que estamos em paz, embora no país real a verdade seja contrária. Me agrada, não sei porquê, fingir que Moçambique está em Paz; sim, isso mesmo me dá certa tranquilidade, e a tranquilidade gera as esperanças que preciso para continuar a viver, mesmo ciente do grande risco que a vida dos meus compatriotas e a minha correm. Pois, enquanto ainda reinar tanta insensibilidade, me resta apenas seguir um conselho que um sábio homem deu-me: seja grande optimista porque só assim, terá o luxo que só os tolos e petizes gozam, estar indiferente diante do perigo.
Texto escrito por Franquelino Agneves B. Basso
Estudante do IV ano de Licenciatura em Filosofia
FONTE: Confidencial
1 comment:
Alguem mesmo sem ter lido ouviu a mensagem e ja deu a resposta.
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