“Situação triste na Frelimo” repete-se ou profecias cumprindo-se?
Alguém pode perguntar-se o que está, efectivamente, a acontecer em Moçambique. De um País em que parecia estar no “mar alto”, conforme um dia Julius Nyerere disse, a situação transformou-se de tal forma que muitos já não hesitam em afirmar que se transfigurou.
Um dos fundadores da Frelimo e seu vice-presidente, Urias Simango, escreveu, num momento de crise na Frelimo, um documento intitulado “Triste situação na Frelimo”. Hoje é como que uma profecia anunciada a realizar-se. Os dias estão de facto muito complicados e tristes no seio da Frelimo. Um partido que se pretendia coeso e aglutinador da vontade dos moçambicanos, está seriamente dividido em pedaços de tal forma que até sua Comissão Política vê-se repudiada em decisões que toma.
Assiste-se hoje a um braço-de-ferro entre alas na Frelimo que trazem para a praça pública todo o tipo de contradições num partido que se especializou em lavar roupa suja através de discursos apaziguadores – e porque não dizer distorcidos da realidade. Onde há problema, dizem que há sucesso. Onde há crise e guerra, saem para a televisão a proclamar que existe paz.
O nível de desentendimento é tal que surgem cartas de impugnação a decisões pela CP consideradas como violação dos estatutos do partido.
E a tristeza deve se estender ao comportamento cobarde e suspeito de alguns protagonistas que no passado não hesitaram em condenar extrajudicialmente seus concidadãos à morte por divergências ideológicas. Agora como que esquecidos e em estado de senilidade avançada, não sabem onde agarrar-se ou em que apoiar-se. Varridos do Comité Central e da Comissão Política no congresso de Pemba recorrem aos jornais para fazer política. A purga afectou seu modo de vida e colocou em risco sua sobrevivência política. Estão órfãos e abandonados por seus “camaradas”. Já não são “king makers” nem conselheiros. São evitados e estigmatizados como se tivessem alguma doença altamente contagiosa que nem ébola. “Sua caneta já na risca” e pressentem o fim de linha.
Não foi a purga violenta e assassina dos dias de ontem. Afinal os “camaradas” hoje não podem fazer o que faziam ontem, quando eram os “deuses na terra”.
Buscando lições do passado e interpretando o que acontece nos dias de hoje pode-se dizer com segurança que as aspirações multipartidárias de Urias Simango estão vingando. As acusações de traição e quejandos foram feitas para auto-satisfação e protecção. A luta político militar da Renamo trouxe a democracia multipartidária que alguns continuam a abominar. Num processo sinuoso surgiram partidos políticos que morreram à nascença e outros revelaram-se autênticos abordos ou criações dos serviços de inteligência afectos à Frelimo para dividir a oposição.
Outros rebentos da oposição apareceram e rapidamente enraizaram-se como o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Hoje três cidades – Nampula, Quelimane e Beira – importantes sob todos os pontos de vista encontram-se numa situação de autarquias dominadas pelo MDM.
A Frelimo tornou-se em oposição, algo que não tem sido digerido pela maioria de seus membros. A troca de acusações é de tal ordem que alguns pedem a cabeça de seu secretário-geral. Outros avançam para cenários que se concretizados significariam um autêntico golpe no seio da Frelimo. Uma reunião do Comité Central da Frelimo sucessivamente adiada visando escolher seu candidato às eleições presidenciais de Outubro de 2014 revela dificuldades e instabilidade na Frelimo. São dias tristes na Frelimo, uma “situação triste na Frelimo” inimaginável num passado recente.
Alguns dizem que a ambição desmedida de AEG alienou uma boa parte daqueles que no seio da Frelimo o poderiam aconselhar a trilhar por caminhos que não conduzissem o partido para a auto-destruição. Admitamos que são conjecturas e que a verdade está com os membros da Frelimo. Mas assim como “não há fumo sem fogo”, não são os partidos da oposição que escreveram a depositaram no Comité de Verificação da Frelimo a carta impugnando uma decisão da sua Comissão Política, sobre os três pré-candidatos a PR.
Como no passado Portugal, seu governo entregou Moçambique para uma situação monopartidária que se antevia a União Europeia e o Ocidente em geral desvirtuaram as eleições multipartidárias subsequentes ao AGP de Roma, carimbando como livres, justas e transparentes, processos que se conheciam prenhes de irregularidades e ilícitos eleitorais. Um acto de revisionismo histórico, de confissão de que erros de avaliação e estratégia haviam sido cometidos e numa atitude de reconhecimento da justeza das reivindicações políticas da oposição a UE aparece pela primeira vez a reconhecer que as eleições autárquicas foram conduzidas sob graves irregularidades.
Uma análise mesmo que superficial mostra um conjunto de factos alinhando-se contra a liderança da Frelimo e seu governo. Comprometida a estratégia militar supostamente destinada a eliminar o líder da Renamo, numa acção “copy paste” do que algum dia José Eduardo dos Santos fez em Angola, derrotas eleitorais significativas nas autárquicas, lutas intestinas pelo poder consubstanciadas pela publicação de cartas e entrevistas de membros proeminentes, greves e insatisfação desgastante em sectores importantes, deixam um “mar encrespado” e crítico.
Será que a Frelimo vai ser suficientemente forte para ultrapassar suas questões internas e tomar em conta os interesses supremos da nação?
Será que os “veteranos” de ontem vão ser capazes de vencer esta batalha crucial para Moçambique?
Algumas pessoas dentre as quais antigos altos dirigentes como JC, MM, MS, OM, JR, PM, SV têm dificuldades acrescidas em digerir a actual situação, cada um à sua maneira procura salvar o convento. Se actual de forma coordenada ou se impulsiva os resultados o dirão.
Não há muito tempo para corrigir a situação. Há urgência em verificar os assuntos em agenda na sua magnitude e com profundidade.
Discursos de estado são aceitáveis mas têm limites quanto a sua utilidade especialmente numa altura em que a grande maioria dos moçambicanos sabe que a realidade é bem diferente do que frequentemente é apregoado.
Já não é tempo para manobras dilatórias pois sangue inocente já corre.
Conjugar os aspectos salientes que favorecem o entendimento político nacional, abrangente e conclusivo, que tenham em conta a tolerância e a inclusão, a paz e um desenvolvimento digno desse nome é não só possível como a única via para se alcançar a paz.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
Alguém pode perguntar-se o que está, efectivamente, a acontecer em Moçambique. De um País em que parecia estar no “mar alto”, conforme um dia Julius Nyerere disse, a situação transformou-se de tal forma que muitos já não hesitam em afirmar que se transfigurou.
Um dos fundadores da Frelimo e seu vice-presidente, Urias Simango, escreveu, num momento de crise na Frelimo, um documento intitulado “Triste situação na Frelimo”. Hoje é como que uma profecia anunciada a realizar-se. Os dias estão de facto muito complicados e tristes no seio da Frelimo. Um partido que se pretendia coeso e aglutinador da vontade dos moçambicanos, está seriamente dividido em pedaços de tal forma que até sua Comissão Política vê-se repudiada em decisões que toma.
Assiste-se hoje a um braço-de-ferro entre alas na Frelimo que trazem para a praça pública todo o tipo de contradições num partido que se especializou em lavar roupa suja através de discursos apaziguadores – e porque não dizer distorcidos da realidade. Onde há problema, dizem que há sucesso. Onde há crise e guerra, saem para a televisão a proclamar que existe paz.
O nível de desentendimento é tal que surgem cartas de impugnação a decisões pela CP consideradas como violação dos estatutos do partido.
E a tristeza deve se estender ao comportamento cobarde e suspeito de alguns protagonistas que no passado não hesitaram em condenar extrajudicialmente seus concidadãos à morte por divergências ideológicas. Agora como que esquecidos e em estado de senilidade avançada, não sabem onde agarrar-se ou em que apoiar-se. Varridos do Comité Central e da Comissão Política no congresso de Pemba recorrem aos jornais para fazer política. A purga afectou seu modo de vida e colocou em risco sua sobrevivência política. Estão órfãos e abandonados por seus “camaradas”. Já não são “king makers” nem conselheiros. São evitados e estigmatizados como se tivessem alguma doença altamente contagiosa que nem ébola. “Sua caneta já na risca” e pressentem o fim de linha.
Não foi a purga violenta e assassina dos dias de ontem. Afinal os “camaradas” hoje não podem fazer o que faziam ontem, quando eram os “deuses na terra”.
Buscando lições do passado e interpretando o que acontece nos dias de hoje pode-se dizer com segurança que as aspirações multipartidárias de Urias Simango estão vingando. As acusações de traição e quejandos foram feitas para auto-satisfação e protecção. A luta político militar da Renamo trouxe a democracia multipartidária que alguns continuam a abominar. Num processo sinuoso surgiram partidos políticos que morreram à nascença e outros revelaram-se autênticos abordos ou criações dos serviços de inteligência afectos à Frelimo para dividir a oposição.
Outros rebentos da oposição apareceram e rapidamente enraizaram-se como o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Hoje três cidades – Nampula, Quelimane e Beira – importantes sob todos os pontos de vista encontram-se numa situação de autarquias dominadas pelo MDM.
A Frelimo tornou-se em oposição, algo que não tem sido digerido pela maioria de seus membros. A troca de acusações é de tal ordem que alguns pedem a cabeça de seu secretário-geral. Outros avançam para cenários que se concretizados significariam um autêntico golpe no seio da Frelimo. Uma reunião do Comité Central da Frelimo sucessivamente adiada visando escolher seu candidato às eleições presidenciais de Outubro de 2014 revela dificuldades e instabilidade na Frelimo. São dias tristes na Frelimo, uma “situação triste na Frelimo” inimaginável num passado recente.
Alguns dizem que a ambição desmedida de AEG alienou uma boa parte daqueles que no seio da Frelimo o poderiam aconselhar a trilhar por caminhos que não conduzissem o partido para a auto-destruição. Admitamos que são conjecturas e que a verdade está com os membros da Frelimo. Mas assim como “não há fumo sem fogo”, não são os partidos da oposição que escreveram a depositaram no Comité de Verificação da Frelimo a carta impugnando uma decisão da sua Comissão Política, sobre os três pré-candidatos a PR.
Como no passado Portugal, seu governo entregou Moçambique para uma situação monopartidária que se antevia a União Europeia e o Ocidente em geral desvirtuaram as eleições multipartidárias subsequentes ao AGP de Roma, carimbando como livres, justas e transparentes, processos que se conheciam prenhes de irregularidades e ilícitos eleitorais. Um acto de revisionismo histórico, de confissão de que erros de avaliação e estratégia haviam sido cometidos e numa atitude de reconhecimento da justeza das reivindicações políticas da oposição a UE aparece pela primeira vez a reconhecer que as eleições autárquicas foram conduzidas sob graves irregularidades.
Uma análise mesmo que superficial mostra um conjunto de factos alinhando-se contra a liderança da Frelimo e seu governo. Comprometida a estratégia militar supostamente destinada a eliminar o líder da Renamo, numa acção “copy paste” do que algum dia José Eduardo dos Santos fez em Angola, derrotas eleitorais significativas nas autárquicas, lutas intestinas pelo poder consubstanciadas pela publicação de cartas e entrevistas de membros proeminentes, greves e insatisfação desgastante em sectores importantes, deixam um “mar encrespado” e crítico.
Será que a Frelimo vai ser suficientemente forte para ultrapassar suas questões internas e tomar em conta os interesses supremos da nação?
Será que os “veteranos” de ontem vão ser capazes de vencer esta batalha crucial para Moçambique?
Algumas pessoas dentre as quais antigos altos dirigentes como JC, MM, MS, OM, JR, PM, SV têm dificuldades acrescidas em digerir a actual situação, cada um à sua maneira procura salvar o convento. Se actual de forma coordenada ou se impulsiva os resultados o dirão.
Não há muito tempo para corrigir a situação. Há urgência em verificar os assuntos em agenda na sua magnitude e com profundidade.
Discursos de estado são aceitáveis mas têm limites quanto a sua utilidade especialmente numa altura em que a grande maioria dos moçambicanos sabe que a realidade é bem diferente do que frequentemente é apregoado.
Já não é tempo para manobras dilatórias pois sangue inocente já corre.
Conjugar os aspectos salientes que favorecem o entendimento político nacional, abrangente e conclusivo, que tenham em conta a tolerância e a inclusão, a paz e um desenvolvimento digno desse nome é não só possível como a única via para se alcançar a paz.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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