Friday, 17 January 2014

A marcha dos patos e da vergonha!

 Na minha última reflexão publicada aqui neste mesmo espaço, escrevi sobre o preocupante fascínio que a direcção do partido Frelimo nutre pelo feudalismo. O partido Frelimo funciona e com a inevitável réplica ao nível do Estado, num sistema de exploradores e explorados. E contrariamente aos sistemas tradicionais d...e exploração do homem pelo homem, a Frelimo inovou. Tratou de arranjar nomes encorajadores e disfarçantes aos seus explorados de modo a engajarem-se na exploração sem levantarem qualquer tipo de suspeita. Trata-os por “patriotas”. Os “patriotas” são cultores de um nacionalismo discriminante que prega o determinismo biológico baseado em sistema de castas, resumido na crença de que há um grupo restritamente abençoado que nasceu para governar e há os que nasceram para morrer na miséria.
E nesta distorção do real sentido dos vocábulos, o termo “patriota” passou a ser usado para designar os irracionais, os medíocres, os racistas, os tribalistas, os incapazes, os mentirosos, os sem valores e outros de equivalência equiparada. Os que, apesar de até terem um diplomazinho de ensino superior, não conhecem o patriotismo na grega (patrícios) acepção do termo, também são “patriotas”.
Vem isto, muito a propósito da fraudulenta marcha de saudação ao Presidente da República Armando Guebuza, alegadamente pela sua entrega e dedicação às causas da Nação. A marcha está a ser organizada pelos “patriotas” que acima tratei de definir-lhes o perfil.
Para não ser conotado com a intolerância, penso que é preciso deixar em posição mais cristalina, a asserção de que, cada um tem o constitucional direito de saudar o que achar conveniente, dependendo, é claro, do seu grau de sanidade mental e do comummente aceite.
Os canibais por exemplo, saúdam em seus fóruns, a iguaria que lhes é, a carne humana. Os masoquistas por exemplo, na sua prática parafílica saúdam efusivamente a dor e a humilhação ou dominação. Nas tradicionais ditaduras por exemplo, o déspota, ou seja a fonte das desigualdades e da injustiça entre os homens, é também untado com saudações esquizofrénicas. Ou seja: é tudo uma questão inerente ao ponto de vista.
Isso para dizer que, os que estão a organizar a marcha têm o constitucional direito de exercer a delinquência e a esquizofrenia. É um direito que lhes é inalienável e irrevogável.
Ninguém no seu juízo perfeito faria parte dessa marcha. Não é por acaso que precisaram de recrutar funcionários públicos, à sua revelia, para a marcha ter aderência. Ou seja: estão cientes à partida, de que a marcha é uma monumental fraude pública, pelo que ninguém no seu estado normal poderia aderir. Só com coerção, chantagem e intimidação é que os funcionários públicos vão aderir. Se é que vão mesmo. Esperemos para ver.
Só quem não tem noção do que se transformou o País, com a actual direcção, é que pode organizar uma marcha de saudação. Esta marcha não é nada mais, que uma passeata insana a favor do desespero do povo e de consagração do caos e da delinquência pública. É uma marcha contra as aspirações do povo. Como é que alguém no seu estado psíquico aceitável, pode sair à rua, para saudar o rosto da destruição e dos caos? Como é que alguém com pautas indicativas de sanidade aceitável, pode sair à rua para saudar a nossa desgraça colectiva? Só mesmo os mais acérrimos cultores do masoquismo.
Penso que o Chefe de Estado como humano é passível de cometer erros, como cada um de nós, e principalmente está mais exposto a essa possibilidade, alguém que tem por tarefa dirigir mais de 22 milhões de pessoas. Mas isso, não é credencial para transformar os erros em modus operandi. Para reduzir todo um povo a uma capoeira de patos.
Vamos falar em coisas concretas: quando Armando Guebuza chegou ao poder prometeu “mundos e fundos” e no final das contas tudo não passou de ilusão. Da corrupção à pobreza, tudo aumentou. Das oportunidades à esperança, tudo privatizou. Liberdades? Simplesmente coarctou-as. A intolerância? Financiou. Até a guerra conseguiu reanima-la, 21 anos depois. Se quisermos ir ao mais particular, diríamos que com Guebuza, as pessoas voltaram a ser transportadas em carrinhas de caixa aberta, em plena capital do País, como que de gado em trânsito se tratassem.
Transformou a Frelimo numa seita religiosa do mal que difunde o medo e o ódio. Medo de Guebuza e ódio a quem não cultua Guebuza. Transformou pessoas inteligentes em autênticos pacóvios. Conseguiu levar jovens com formação superior e com tanta energia e conhecimento, e transformou-os em sindicalistas do delírio. São estes mesmos sindicalistas que vão sair à rua, para saudar o que não se pode saudar. Irracionalidade igual, só mesmo nos patos. Quando George Orwel editou em 1945 o “Triunfo dos Porcos” é porque não sabia que em Moçambique os “patos”, também estavam em via de triunfar.
É porque definitivamente este Chefe de Estado não pode ser saudado, porque estaríamos a subverter a lógica das coisas. Estaríamos a afrontar a mais elementar norma que regula a aptidão e a competitividade entre os homens. Estaríamos a elevar os incapazes e a consagrar a injustiça e o demérito. Longe de saudações, este Chefe de Estado precisa de ser responsabilizado pelo caos em que nos meteu. Deve ser responsabilizado e convidado a dar explicações, por exemplo pelo estado de guerra civil em que nos meteu. Precisa de ser responsabilizado pela pobreza que aumentou, tal como precisa de ser responsabilizado pela corrupção que atingiu níveis olímpicos.
Esta marcha caso aconteça, ficará nos anais da história como a marcha da vergonha e da consagração dos patos “patriotas”. Uma marcha que é uma verdadeira afronta à racionalidade e lógica. Uma marcha contra o povo!


(Matias Guente, Canalmoz)

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