Monday, 11 April 2016

O abismo



Ficámos a saber do desastre financeiro da EMATUM através de publicações estrangeiras.
Cá dentro ninguém tinha aberto a boca e, aparentemente, poucos eram os que sabiam do que se estava a passar.
Agora é também através de publicações estrangeiras que ficamos a saber que o desastre é muitíssimo maior do que já sabíamos, na medida em que, na mesma ocasião, foi contraído um outro empréstimo, a favor da PROINDICUS (empresa irmã da EMATUM) num valor de US$ 787 milhões....
Ainda não conheço as condições deste novo empréstimo, mas não é preciso ser economista para perceber que este aumento da dívida pública atira o país para uma situação de impossibilidade prática de pagamento, arruinando o prestígio nacional nos mercados de capitais e tornando cada vez mais caros os futuros empréstimos que vierem a ser contraídos.
Se já tínhamos uma enorme dificuldade em pagar os juros da EMATUM, quando eram a 8.5%, agora que a dívida foi renegociada e os juros passaram para 14%, as dificuldades só podem aumentar.
Por outro lado, o Metical está, de novo, a desvalorizar em relação ao dólar. Ora as dívidas e juros são pagos em dólares, o que significa que são necessários cada vez mais meticais para pagar os mesmos dólares. Se o Metical continuar a desvalorizar, em 2023, quando se deverá pagar a dívida da EMATUM, de acordo com a renegociação, a quantidade de Meticais necessários será imensa.
E não podemos esquecer que toda esta manobra foi feita às escondidas da Assembleia da República e contrariando totalmente a lei que não permite ao Estado ser avalista de empréstimos para além de uma determinada quantia (muitíssimo inferior aos compromissos assumidos pelo anterior governo).
Mas tudo isto poderia não ser uma aberração económica se o dinheiro dos empréstimos estivesse a ser usado em actividades altamente produtivas, que iriam gerar grandes lucros, permitindo pagar as dívidas. O problema é que o dinheiro foi gasto em material de guerra. E o material de guerra não gera lucros a não ser para quem o fabrica e vende. Entre os compradores gera destruição e mortes e situações em que a economia é a primeira vítima, como a paralisação da actividade turística ou do investimento estrangeiro.
A ganhar nisto tudo só vejo aqueles que hão-de ter metido ao bolso as generosas “luvas” que os negociantes de armas sempre oferecem aos seus clientes.
Todo este desastre levado a cabo pelo anterior executivo, do “filho mais querido do povo moçambicano”, e continuado pelo actual.
Ambos do partido Frelimo.
E a minha pergunta é: Os inúmeros membros honestos e patriotas do partido Frelimo vão continuar calados perante isto tudo? Vão continuar a consentir que o país seja mergulhado no abismo para o enriquecimento de uma pequena cam(b)ada?
Têm coragem de se continuar a tratar por “camaradas” uns aos outros?




Machado da Graça, SAVANA – 08.04.2016



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