O economista e investigador moçambicano António Francisco considera que a recente descoberta de avultadas dívidas não declaradas pelas autoridades moçambicanas tornaram o país num caso de "descrédito e chacota" e terá um efeito negativo na economia do país.
"Só um otimismo cego, alguém que se comporte como se soubesse que as coisas nunca acabarão mal por pior que elas estejam, poderá entreter a ideia com a que num quadro desses a economia nacional está no bom caminho", considera António Francisco, investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) de Moçambique.
Os valores da dívida escondida, prosseguiu o académico, podem alterar significativamente a análise da macroeconomia moçambicana e nem o Fundo Monetário Internacional (FMI) está, de momento, em condições de dimensionar o seu impacto.
"Aguardo com ansiedade pelas próximas informações e avaliações que o FMI certamente partilhará. Aliás, muita gente irá aguardar com ansiedade e curiosidade, por várias razões", enfatizou António Francisco.
Segundo o académico moçambicano, antes das recentes revelações sobre dívidas escondidas, as reservas internacionais líquidas moçambicanas já tinham sido abaladas pelos 850 milhões de dólares garantidos pelo Governo moçambicano a favor da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum).
"Estamos perante um crédito espantoso, alegadamente para compra de barcos de pesca de atum, mas vamos para três anos e os tais barcos continuam parados no porto sem produzir nada", observou
Depois da "trapalhada", continuou o académico, até prova em contrário, o país tem motivos para suspeitar que se está perante um exemplo escandaloso de crédito para fins não produtivos, altamente especulativo, inconstitucional e provavelmente fraudulento.
O académico defende os moçambicanos vão ter de ter de esperar para terem a certeza de que não existem outras dívidas não reveladas, incluindo em algumas das empresas públicas, depois de o Governo ter reconhecido uma dívida ocultada acima dos mil milhões de dólares.
O Wall Street Journal noticiou no final de março um empréstimo de 622 milhões de dólares à empresa estatal Proindicus, contraído em 2013 através dos bancos Credit Suisse e do russo VTB Bank, que terão, aliás, convidado os investidores a aumentarem o valor para 900 milhões, um ano depois.
Na terça-feira, o Financial Times revelou que o Governo de Moçambique autorizou um outro empréstimo de mais de 500 milhões de dólares a uma empresa pública.
No mesmo dia, o primeiro-ministro reuniu-se com a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, e, segundo um comunicado da instituição financeira, reconheceu a existência de um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de Moçambique que não tinha sido comunicado.
De acordo com um prospeto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de Moçambique e entregue no mês passado aos investidores em obrigações da Ematum, e a que a Lusa teve acesso na quinta-feira, o volume de dívida pública de Moçambique aumentou de 42% do PIB em 2012 para 73,4% em 2015.
O rácio entre o valor da dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de 42%, em 2012, para 52%, 56,6% e 73,4% da riqueza do país nos três anos seguintes.
"A dívida pública total [incluindo a dívida interna, externa e a garantida pelo Estado] equivaleu a 56,6% do PIB em 2014 e deverá chegar aos 73,4% em 2015", lê-se no documento confidencial que os investidores em obrigações da Ematum analisaram antes de decidir trocar esses títulos por novos títulos de dívida soberana do país, no mês passado.
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