Editorial
Maputo (Canalmoz) – Escrevemos aqui, num passado recente, que as promessas de paz e tolerância feitas por Filipe Nyusi no seu discurso inaugural não passavam de uma tramóia semântica urdida por um cidadão com passado e carreira em violência.
Para um cidadão que chegou onde chegou graças à violência eleitoral a todos os níveis, que inclui a violência institucional, seria incoerente prescindir dessa mesma violência para se fazer homem.
A primeira tentativa de assassinato de Afonso Dhlakama, ocorrida em 2013, em Satungira, em operação dirigida por Filipe Nyusi como ministro da Defesa (deixou-se inclusive fotografar no local do crime) era suficiente para percebermos de que tipo de raça humana é Filipe Nyusi e quais são métodos da sua preferência para a resolução de diferenças políticas.
Em 2014, houve duas outras tentativas de eliminar fisicamente o presidente da Renamo e um humilhante cerco à sua residência no Bairro das Palmeiras, na cidade da Beira, depois de uma farsa que teve a conivência do bispo emérito da diocese dos Libombos e de outros falsos pastores. Estas acções vieram confirmar este currículo de violência e extremismo.
No passado domingo, em plena celebração da Páscoa, Filipe Nyusi deu ordens à Unidade de Intervenção Rápida para assaltar as duas residências de Afonso Dhlakama: a que não é utilizada, localizada na Av. Julius Nyere, e a do Bairro Sommershield “2”, onde residem a sua esposa, filhos e netos. Na mesma operação, a UIR foi arrombar a sede nacional do partido Renamo, também em Maputo, e, de lá, roubou documentos, computadores, dinheiro e armas.
É muito provável que nunca se venha a ouvir a opinião de Filipe Nyusi em relação a este crime, tal como não se conhece, até hoje, a opinião de Filipe Nyusi em relação aos outros crimes acima mencionados.
Mais uma vez, o silêncio de Filipe Nyusi perante todos estes actos macabros é revelador do seu pendor para a violência. Menores de idade que residem na casa de Dhlakama estiveram por mais de uma hora na mira de gatilhos e sob ameaças de disparo, se se movimentassem. Manhosamente, neste mesmo instante, Nyusi estava numa dessas igrejas onde anda a fingir ser cidadão de Bem.
Ora, que tipo de tolerância e paz são essas que Nyusi tanto anda a pregar, enquanto do outro lado vai dando ordens para espalhar terror nos seus opositores políticos e seus familiares, em que se incluem menores? Que tipo de aproximação quer com Dhlakama, quando manda humilhar a sua esposa, os seus filhos e netos? Que tipo de convivência pacífica Nyusi quer com a Renamo, quando manda a UIR roubar dinheiro na sede da Renamo, destruir bens e roubar outros? Que raio de tolerância é essa, de que tanto fala, ao promover actos de banditismo?
Por outras palavras, a opção pela violência é mesmo oficial. A arrogância e o sentimento de que “tudo podemos” suplantou o bom senso, e, pelos vistos, ninguém está disponível para emprestar os neurónios para equacionar uma solução para o caos decorrente desta postura.
Certamente que o leitor deverá estar recordado de que dissemos aqui, neste mesmo espaço, que o silêncio de Filipe Nyusi perante todas as atrocidades cometidas pelas Forças de Defesa e Segurança era indicador de concordância tácita. Uma bênção implícita ao terrorismo de Estado.
Anotámos aqui, neste mesmo espaço, que Nyusi, através da sua propaganda, estava a fabricar a ilusão de uma alegada impotência perante acções levadas a cabo pela suposta ala radical.
Quando nos referimos a este particular, apontámos esta hipótese de impotência como nula, visto que não acreditávamos que Nyusi, com todos os poderes discricionários constitucionalmente ao seu dispor, poderia estar a ser usado para acções de violência criminosa.
No passado domingo ficou claro que tínhamos razão. O rosto que não se via bem nesta fotografia de acções incoerentes, que de forma grave arrastam o país para o caos, é mesmo o de Filipe Nyusi. Agora ficou mais claro. Tudo o resto é coreografia de irresponsáveis. Vir a público com o argumento de que um partido não pode ter armas à sua guarda parece-nos pouco lúcido e amnésico. Há um documento baptizado como Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, em 1992, que dá cobertura à guarda armada da Renamo. Se há alguém que nunca cumpriu uma linha desse mesmo Acordo, esse alguém chama-se Frelimo.
(Canal de Moçambique)
1 comment:
Finalmente se revelou a verdade oculta dessa agente que finge ser pacifica
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