O investigador e economista moçambicano António Francisco considera que o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi complacente e paternalista com os alegados delírios financeiros dos governantes nos últimos anos, até descobrir que o país ocultou dívidas avultadas.
"Se o Governo moçambicano representa, neste momento, um dos piores casos de ocultação e falseamento de informação que o FMI tem enfrentado em África, espero que este incidente motive o FMI a ser menos complacente e paternalista para com os governantes moçambicanos", declarou o investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique (IESE).
Perante dúvidas que vêm sendo levantadas por investigadores sobre a situação económica, prosseguiu o académico moçambicano, o FMI optou por fazer apreciações "cor-de-rosa", qualificando sempre o crescimento da economia do país como robusto e sustentável.
"Aguardo com ansiedade pelas próximas informações e avaliações que o FMI certamente partilhará. Aliás, muita gente irá aguardar com ansiedade e curiosidade, por várias razões", declarou António Francisco.
Em 2002, no auge do "delírio financeiro" que Moçambique vinha vivendo, prosseguiu António Francisco, o ex-Presidente da República Armando Guebuza afirmou: "Já não somos um país de que se fala, mas sim um país com quem se fala".
Para o académico, a recente de descoberta de dívidas escondidas pelo anterior Governo moçambicano agrava significativamente diferentes tipos de riscos e incertezas e a nível internacional, Moçambique tornou-se motivo de "descrédito ou mesmo chacota".
"Não sabemos como é que os outros parceiros internacionais do Governo estão a reagir às revelações recentes, mas suspeito que estejam a respirar de alívio, porque antes o FMI parecia demasiado distraído e complacente. Espero que reajam com sentido de responsabilidade para com a sociedade moçambicana, mas sem complacência e paternalismo para com o Governo", enfatizou.
Quanto ao risco de tensão social, continuou o académico, muito dependerá da forma como o Governo for capaz de gerir a crise que provocou. "Se reagir de forma irresponsável, dando o dito pelo não dito e continuando a dizer que o problema foi causado pela crise global, então, devemos esperar por tensão social".
O Wall Street Journal noticiou no final de março um empréstimo de 622 milhões de dólares à empresa estatal Proindicus, contraído em 2013 através dos bancos Credit Suisse e do russo VTB Bank, que terão, aliás, convidado os investidores a aumentarem o valor para 900 milhões, um ano depois.
Na terça-feira, o Financial Times revelou que o Governo de Moçambique autorizou um outro empréstimo de mais de 500 milhões de dólares a uma empresa pública.
No mesmo dia, o primeiro-ministro reuniu-se com a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, e, segundo um comunicado da instituição financeira, reconheceu a existência de um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de Moçambique que não tinha sido comunicado.
De acordo com um prospeto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de Moçambique e entregue no mês passado aos investidores em obrigações da Ematum, e a que a Lusa teve acesso na quinta-feira, o volume de dívida pública de Moçambique aumentou de 42% do PIB em 2012 para 73,4% em 2015.
O rácio entre o valor da dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de 42%, em 2012, para 52%, 56,6% e 73,4% da riqueza do país nos três anos seguintes.
"A dívida pública total [incluindo a dívida interna, externa e a garantida pelo Estado] equivaleu a 56,6% do PIB em 2014 e deverá chegar aos 73,4% em 2015", lê-se no documento confidencial que os investidores em obrigações da Ematum analisaram antes de decidir trocar esses títulos por novos títulos de dívida soberana do país, no mês passado.
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