A Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, defendeu hoje uma investigação internacional à descoberta de pelo menos 15 corpos, na Gorongosa, centro do país, assinalando que o país está em guerra e precisa de mediação do exterior.
"Lamentamos essa atrocidade e achamos que as organizações internacionais de defesa dos direitos humanos devem fazer uma investigação ao local, para o apuramento dos factos", afirmou, em declarações à Lusa, o porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), António Muchanga.
Para Muchanga, apenas uma investigação internacional pode trazer luz à verdade, alegando que as entidades nacionais estão submissas ao Governo.
"A maioria das nossas organizações de defesa dos direitos humanos estão em silêncio e só agirão por ordens do Governo", destacou o porta-voz da Renamo.
António Muchanga assinalou que a Renamo tem relatado o suposto desaparecimento de membros do seu partido nas províncias do centro do país, incluindo na província de Sofala, onde se situa o distrito de Gorongosa, declarando que o país está em guerra.
"Para a Renamo, se há forças governamentais a praticar ações armadas, estamos numa situação de guerra", acusou Muchanga.
Comentando a deslocação no fim de semana do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, à Comunidade de Santo Egídio, onde abordou a instabilidade militar no país, o porta-voz da Renamo afirmou que a Igreja Católica e a União Europeia são entidades idóneas para mediar o conflito armado em Moçambique.
"Já dissemos e reiteramos que a Igreja Católica e a União Europeia já demonstraram no passado seriedade e idoneidade para mediar conflitos", enfatizou António Muchanga, cujo partido defende também a participação do chefe de Estado sul-africano, Jacob Zuma, na mediação da crise política e militar no país.
Pelo menos 15 corpos estão visíveis, espalhados ao abandono na região da Gorongosa, perto de uma vala comum denunciada por camponeses, numa zona fortemente vigiada por militares, testemunhou a Lusa no local.
A presença dos militares não permite o acesso à vala comum onde, segundo camponeses, se encontram mais de cem corpos, mas é visível uma dezena e meia de cadáveres nas imediações, espalhados pelo mato e alguns deles despidos.
Dos 15 corpos encontrados por um pequeno grupo de jornalistas no local, quatro foram largados numa pequena savana, a cerca de 200 metros do cruzamento de Macossa para o interior, e os outros foram deixados debaixo de uma ponte próxima da Estrada Nacional 1, a principal estrada de Moçambique.
O local onde foram depositados estes corpos fica a seguir à ponte sobre o rio Muare, no sentido Gorongosa-Caia, e onde se tem feito, ainda que de forma tímida, extração ilegal de ouro.
Os cadáveres são de mulheres e homens jovens, uns deixados recentemente no lugar e outros sem roupas, entre a presença de abutres.
As autoridades locais desmentiram a existência da vala comum, denunciada à Lusa por camponeses na quinta-feira.
Mas as testemunhas reiteram a sua versão. "É verdade, vimos os corpos", afirmou um dos camponeses, que não se quis identificar, contando que o grupo em que seguia foi atraído pelo forte cheiro de putrefação exalado pelos cadáveres.
A polícia de Sofala anunciou, na sexta-feira, que vai iniciar uma investigação para apurar a veracidade da descoberta.
Apesar do desmentido, a Comissão de Direitos Humanos de Moçambique quer apurar a veracidade dos relatos, adiantado que, a confirmarem-se, é um caso "muito preocupante" e instando o Ministério Público a investigar.
Também o líder do terceiro partido moçambicano no parlamento, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), exige o envolvimento da justiça e da Assembleia da República no esclarecimento da denúncia dos camponeses.
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