Cada dia que passa acordamos com mais uma má notícia
Primeiro foi a divulgação das dívidas escondidas. Uma a uma, sempre através da imprensa estrangeira.
Depois foram as consequências disso. Primeiro o corte de apoio do FMI, depois o do Banco Mundial, depois o do Reino Unido, depois o de todo o Grupo dos 14 que normalmente apoiam o nosso Orçamento de Estado. Agora foram os Estados Unidos a juntar-se ao grupo. Tudo cortes com carácter punitivo em relação à porcaria que o governo anterior andou a fazer e o actual continua hoje.
Dentro do país o segundo partido mais votado nas últimas eleições (de acordo com os números oficiais...) pegou em armas para exigir aquilo a que acha que tem direito.
Fontes falam de valas comuns cheias de cadáveres, mas as autoridades não permitem uma investigação independente.
As organizações não governamentais mais prestigiadas, a começar pela Ordem dos Advogados e continuando na CIP, IESE, MASC, OMR, Parlamento Juvenil, Liga dos Direitos Humanos e várias outras, já manifestaram publicamente a sua indignação e exigiram a responsabilização dos culpados das falcatruas. O mesmo defendeu o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria Extractiva e de Transformação.
A inflacção saltou para os dois dígitos em menos de um ano. O investimento estrangeiro caiu para muito menos de metade. O turismo, nos últimos dois anos, foi um desastre.
Dentro do partido Frelimo temos um Teodato Hunguana, que afirma, publicamente, que a Constituição tem que ser cumprida, sejam quais forem as circunstâncias, assim desmentindo as desculpas do Primeiro Ministro segundo as quais a Constituição não foi cumprida porque atravessamos um “período atípico”.
Sérgio Vieira declara que foram cometidos “crimes de lesa-pátria”.
Rui Baltazar traça um retrato aterrador do Moçambique actual.
Graça Machel afirma que nem ela, nem os filhos, nem os netos vão pagar as dívidas ilegalmente contraídas. No 1º. de Maio a Organização dos Trabalhadores Moçambicanos disse o mesmo a respeito dos seus filiados.
Intelectuais de prestígio, como Álvaro Carmo Vaz, choram a impotência de lutar contra isto tudo.
E, no entanto, eles sorriem. E dizem que está tudo bem, tudo normal. E inauguram coisas, e vão a encontros internacionais, com o ar mais calmo e inocente do mundo. Ou inconscientes do estado efectivo do país ou fingindo muito bem.
Com o cartão vermelho entalado na garganta impedindo-os de dizer o nome dos culpados desta bagunça toda. E os culpados directos contam-se pelos dedos de uma só mão.
E todos nós a assistir, cheios de medo, a um nível tão alto de irresponsabilidade que pode levar o país ao estoiro. A muitíssimo curto prazo...
Machado da Graça, SAVANA , 13.05.2016
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