Monday, 9 May 2016

Parlamento moçambicano vai enviar comissão para região de corpos abandonados

 
Uma delegação parlamentar vai averiguar no terreno as denúncias de violação de direitos humanos no centro de Moçambique, após a descoberta de corpos abandonados nas matas, informou hoje a Comissão Permanente da Assembleia da República.
Segundo a Comissão Permanente, foi mandatada a Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade "para ir averiguar, no terreno, a real situação para depois prestar informação ao parlamento".
O envio de uma delegação de deputados foi proposto pelo líder parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, que, além das denúncias de violações de direitos humanos, solicitou o debate do conflito no centro do país, na próxima plenária da 3.ª sessão ordinária do parlamento, prevista para 22 de junho.
Jornalistas de vários órgãos de comunicação social, incluindo a Lusa, testemunharam e fotografaram, a 30 de abril, 15 corpos espalhados no mato, no distrito de Gorongosa, nas proximidades de uma suposta vala comum denunciada por camponeses, cujo acesso está vigiado por militares.
Uma semana mais tarde, o canal televisivo moçambicano STV mostrou 13 corpos em decomposição no distrito de Macossa, centro de Moçambique, confirmando a existência de cadáveres abandonados junto à principal estrada do país.
As zonas apontadas quer pela Lusa quer agora pela STV ficam muito próximas, no limite das fronteiras entre os distritos de Gorongosa e Macossa e também entre as províncias de Sofala e Manica.
Dada a grande proximidade dos locais referidos, as descobertas dos órgãos de comunicação social poderão envolver os mesmos corpos.
Os cadáveres encontrados são de mulheres e homens jovens, uns deixados recentemente no lugar e outros sem roupas, e já parcialmente consumidos por animais necrófagos.
Camponeses ouvidos pela Lusa relataram a existência nas imediações da zona onde foram depositados aqueles cadáveres uma vala comum, onde alegam estarem mais de cem corpos, mas a presença de militares não permitiu aos jornalistas confirmar a informação no local.
A vala comum principal, segundo os camponeses, localiza-se na zona 76, entre Muare e Tropa, no posto administrativo de Canda, distrito da Gorongosa, uma região que se mantém sob vigilância de militares e da polícia e que tem sido marcada por confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
Apesar de vários desmentidos das autoridades locais sobre a existência de valas comuns na região, a descoberta de corpos abandonados e as denúncias dos camponeses levaram a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) de Moçambique, instituição estatal, a pedir o "acesso incondicional" de entidades nacionais ou internacionais aos locais.
Lembrando que o centro do país vive uma crise política e militar, o presidente da CNDH, Custódio Duma, disse na sexta-feira que o Governo deve "criar condições necessárias para que seja realizada uma investigação séria, independente e transparente", alertando para que o assunto não seja distraído pela discussão em torno do número de corpos descobertos, "quer seja um ou cem".
O Escritório do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos informou na quarta-feira estar em contacto com as autoridades moçambicanas para aceder à zona d os corpos abandonados.

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