Na sua última visita à cidade de Maputo, na semana passada, o Presidente Armando Guebuza voltou a pronunciar-se sobre a importância estratégica da construção de uma ponte para ligar a parte Leste da capital moçambicana à Katembe, e deste ponto uma estrada até à Ponta D’Ouro.
Ao reiterar a importância deste projecto, o Chefe do Estado deveria estar a dar resposta a alguns sectores críticos que encaram o empreendimento como desnecessário, ilustrando uma inversão na ordem de prioridades, num país
onde algumas regiões vivem ainda na Idade da Pedra.
Estes críticos, alguns dos quais destacados membros do partido Frelimo, têm manifestado a sua opinião através da imprensa, considerando que o empreendimento servirá apenas para alimentar o apetite de alguma elite moçamicana pela especulação imobiliária que se seguirá com a valorização de espaços do outro lado da Baía de Maputo.
Haverá uma certa dose de demagogia da parte daqueles que reprovam o projecto simplesmente baseando-se no argumento de que há outras prioridades em regiões ainda muito menos desenvolvidas do país. Nunca se chegará a um ponto em que possamos dizer que o desenvolvimento já atingiu todo o país, e que portanto já podemos avançar para o desenvolvimento de outros projectos menos prioritários.
Tudo o que se faz, em cada momento, responde a uma necessidade específi ca, e será o conjunto dessas realizações, no seu todo, que contribuirá para o desenvolvimento de Moçambique.
Na sua defesa do projecto da ponte da Katembe e estrada para a Ponta D’Ouro, o Presidente Guebuza referiu-se ao facto de muitos moçambicanos não poderem desfrutar das facilidades turísticas da Ponta D’Ouro, para além da construção, na Bela Vista, de uma fábrica de cimento, a qual poderá contribuir para a redução dos custos de construção, com uma maior oferta deste material.
Mas haverá ainda muitos outros benefícios. Por exemplo, no contexto das infra-estruturas de transportes e comunicações entre os países da África Austral, a nova estrada poderá constituir a ligação mais rápida entre Maputo e o sul da África do Sul, chegando mesmo até à Cidade do Cabo.
Os potenciais ganhos para a área do turismo são igualmente enormes, para além do impulso que disso deverá resultar para as relações comerciais entre os dois países.
O que deve ser posto em causa não é a construção destas duas infra-estruturas, mas sim os processos que conduziram à decisão para a sua construção. Como tem sido hábito neste país, a falta de transparência na forma como importantes
projectos são implementados pode ser a razão do manto de especulações que fazem com que alguns encarem com certa desconfi ança este e outros projectos.
Do que se sabe, o projecto da ponte e da estrada está ligado ao da construção da estrada circular de Maputo, num troço total de 74 quilómetros. No seu conjunto, são empreendimentos que custarão aos contribuintes moçambicanos mais de 1 bilião de dólares, através de um crédito contraido na China.
Para um valor desta magnitude, seria de esperar que o governo tivesse que envolver o parlamento. Mas não há dados que indiquem que tal tenha sido o caso. Tal como não há evidências de que o governo tenha lançado um concurso público, em conformidade com as suas próprias leis. Na ausência de todos estes elementos, não será de descartar que todo o tipo de especulações abundem.
Editorial do Savana
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