AINDA não atiraram com a toalha ao chão os mediadores e facilitadores internacionais, enfurecidos pelo modo como o governo e a Renamo reagem à negociação.
O nervosismo que Mario Rafaelli deixa escapar assusta. Dá ideia de que o quadro é tão nebluso que até apetece ao italiano bater com a porta.
Rafaelli é o único, dos que estão na mediação e facilitação, que conhece de memória o historial entre o governo/Frelimo e a Renamo, desde o processo que deu origem ao não menos inocente Acordo Geral de Paz. Por isso, devia ser ele a evitar exibição gratuita.
Acredita-se que o italiano esteja a fazer papel de faz-de-conta, estratégia que visa chamar a uma maior responsabilidade os principais protagonistas do processo.
De contrário, não se percebe tamanho papelão de Rafaelli, capaz de contaminar os demais mediadores e facilitadores.
Uma coisa é certa e o italiano devia saber que grande parte da responsabilidade para este estado de coisas é de quem andou a negociar a pacificação antes do Acordo de Roma e nos primeiros momentos da sua implementação.
Não é casual a entrada de Mario Rafaelli no actual processo negocial. A Renamo terá pretendido que fosse o italiano a ajudar na solução de um problema que tem barba rija.
A Itália forçou Aldo Ajello para representante especial das Nações Unidas para Moçambique (ONUMOZ) contra algumas vontades da comunidade internacional que nunca viram com
bons olhos a nomeação, mas encolhendo os ombros por o dossier, desde o início, ter sido gerido por italianos.
Ajello foi embora numa altura em que, se calhar, devia ter permanecido mais algum tempo. As crises pós-eleições foram sucedendo umas atrás de outras, interna e pontualmente sanadas graças à inteligência e capacidade de sofrimento de Joaquim Chissano, que viria a fomentar irmandade com o arqui-rival.
Mas as crises estiveram sempre presentes. Só que Chissano não podia estar toda a vida amarrado ao poder…
Bastou que saisse para, sucessivamente, Guebuza e agora Nyusi se identificarem com as crises que têm acontecido.
Pelos vistos, nem Nyusi nem Dhlakama estão para ceder, pelo menos de ânimo leve. Nesse sentido, a mediação internacional deve estar suficientemente preparada para o pior. Para isso foi chamada, e não deve fazer as coisas às pressas, sob o risco de se reeditar Roma 92. De contrário que não tivessem vindo, ainda por cima numa altura em que a austeridade chama por nós.
O governo não queria os mediadores, acabando por entrar na onda. Aliás, o executivo nunca foi apologista em convidar forasteiros para se entender com a Renamo. Lá terá as suas razões…
Uma coisa é certa. Não acreditamos em facilidades. Nyusi e Dhlakama não estão para ceder um milímetro que seja na questão da governação autónoma.
Em causa, a mania do orgulhoorgulho. Dhlakama não pode sair-se a contento; a Frelimo não pode sair a ganhar. Enfim, um ódio antigo que data dos primórdios de Moçambique independente...
Salvador Raimundo, Expresso de quinta-feira - 28.07.16
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