Afonso Dhlakama concedeu uma entrevista exclusiva à DW África. Nesta segunda e última parte, o líder da RENAMO afirma que não existe democracia em Moçambique e acusa a FRELIMO de roubar votos ao seu partido nas eleições.
Em Mocambique, há muito que se aguarda por um diálogo com vista ao alcance da paz. Mas passos concretos com esse rumo não existem até agora, apesar de intenções manifestadas publicamente. Recentemente o Presidente do país, Filipe Nyusi, voltou a convidar o líder da RENAMO para mais um encontro. Será que Afonso Dhlakama está disponível para um diálogo ao mais alto nível com Filipe Nyusi? Uma resposta que o líder do maior partido da oposição deu à DW África numa entrevista exclusiva a partir da Gorongosa.
Afonso Dhlakama (AD): O problema não é o diálogo. O problema é sabermos sobre o que dialogar, o que falar, saber como chegar a um compromisso. Porque a partir do Acordo Geral de Paz que foi apadrinhado pelas Nações Unidas e por todos os europeus que eram observadores em Roma, a FRELIMO pôs no lixo o Acordo Geral de Paz que significava a entrada do multipartidarismo em Moçambique.
As instituições do Estado passaram a pertencer à FRELIMO, como por exemplo, o exército, a polícia, serviços de informação do Estado, tribunais, a Procuradoria da República, o Conselho Constitucional… Estas instituições continuam a estar nas mãos do partido. Agora a pergunta é: Estou disposto a negociar, mas a negociar o quê?Porque a primeira coisa que eu posso fazer com o Nyusi é exigir, de facto, a implementação do Acordo Geral de Paz e os outros acordos que eu assinei com Guebuza em 2014 que até agora estão pendentes. Muitos dirigentes europeus pensam que se o Dhlakama e o Nyusi se encontrarem é uma solução. Mas não é. A solução passa pela aceitação por parte da FRELIMO da democracia efetiva pluralista, para que existam eleições livres e transparentes, Direitos Humanos, justiça e a separação das instituições do Estado porque elas não podem receber ordens do partido FRELIMO e atacar a oposição.
DW África: Entretanto, para que esses pontos sejam resolvidos, é necessário que as negociações entre as duas partes continuem a ter lugar, mas isso não está a acontecer. Como pretende então ultrapassar isso?
AD: Ninguém nega o diálogo. É evidente que o diálogo, mesmo dentro das nossas casas com a família, é necessário. Quem rejeita o diálogo não é bem visto. Tudo o que negociámos e já assinámos, a FRELIMO pôs no lixo. Agora, diríamos sim, estou disposto para negociar e obrigar a FRELIMO a aceitar a democracia em Moçambique porque o problema de tudo isto é a FRELIMO não querer a democracia. Quer continuar a estar no poder através do roubo dos votos e enganar os europeus de que existe democracia nesse país quando na realidade não há. É a isto que o Dhlakama não pode chamar de democracia. Terem dito que perdi as eleições... eu nunca perdi as eleições, sempre ganhei mas roubaram-me os votos.
DW África: E no caso dos mediadores? Já houve algum avanço para que seja ultrapassado o impasse nesse processo negocial? O Governo concordou com as vossas propostas? Em que pé está o assunto?
AD: Ainda há pouco tempo, aproximámos a igreja Católica e, em Moçambique, a igreja demonstou-se de facto disponível, tendo afirmado que estaria disposta a ajudar Moçambique se o Governo também se manifestasse disponível. Dirigi ainda uma carta ao Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, através da embaixada em Moçambique, e obtive uma resposta que dizia que a RENAMO deve entender-se, em primeiro lugar, com o Governo moçambicano.
DW África: E não vê nenhum problema pelo facto de o Presidente da África do Sul pertencer a um partido irmão da FRELIMO?
AD: Não, não. Nós temos coragem e eu conheço o Jacob Zuma. Quando queremos alcançar a paz, vamos esquecer os partidos, os irmãos da esquerda, de centro, direita, comunistas e tudo.
Hoje, a ideologia no mundo rege-se por interesses como a economia, a paz e o bem-estar. Conheço muito bem o Jacob Zuma que pertence ao Congresso Nacional Africano (ANC). Foi eleito e está a dirigir um país com mistura de etnias, problemas internos, entre outros. No entanto, o Zuma está consciente que o conflito em Moçambique pode afetar economicamente a África do Sul.
O Zuma não gostaria que houvesse um conflito em Moçambique, não está interessado. Acredito que ele pode ser um bom mediador.
Não se pode esquecer que a África do Sul, apesar de tudo, é uma potência económica da África austral, e todos conhecemos o peso que tem. Nem há comparação com a Zâmbia, Malawi ou a Namíbia.
Afonso Dhlakama (AD): O problema não é o diálogo. O problema é sabermos sobre o que dialogar, o que falar, saber como chegar a um compromisso. Porque a partir do Acordo Geral de Paz que foi apadrinhado pelas Nações Unidas e por todos os europeus que eram observadores em Roma, a FRELIMO pôs no lixo o Acordo Geral de Paz que significava a entrada do multipartidarismo em Moçambique.
As instituições do Estado passaram a pertencer à FRELIMO, como por exemplo, o exército, a polícia, serviços de informação do Estado, tribunais, a Procuradoria da República, o Conselho Constitucional… Estas instituições continuam a estar nas mãos do partido. Agora a pergunta é: Estou disposto a negociar, mas a negociar o quê?Porque a primeira coisa que eu posso fazer com o Nyusi é exigir, de facto, a implementação do Acordo Geral de Paz e os outros acordos que eu assinei com Guebuza em 2014 que até agora estão pendentes. Muitos dirigentes europeus pensam que se o Dhlakama e o Nyusi se encontrarem é uma solução. Mas não é. A solução passa pela aceitação por parte da FRELIMO da democracia efetiva pluralista, para que existam eleições livres e transparentes, Direitos Humanos, justiça e a separação das instituições do Estado porque elas não podem receber ordens do partido FRELIMO e atacar a oposição.
DW África: Entretanto, para que esses pontos sejam resolvidos, é necessário que as negociações entre as duas partes continuem a ter lugar, mas isso não está a acontecer. Como pretende então ultrapassar isso?
AD: Ninguém nega o diálogo. É evidente que o diálogo, mesmo dentro das nossas casas com a família, é necessário. Quem rejeita o diálogo não é bem visto. Tudo o que negociámos e já assinámos, a FRELIMO pôs no lixo. Agora, diríamos sim, estou disposto para negociar e obrigar a FRELIMO a aceitar a democracia em Moçambique porque o problema de tudo isto é a FRELIMO não querer a democracia. Quer continuar a estar no poder através do roubo dos votos e enganar os europeus de que existe democracia nesse país quando na realidade não há. É a isto que o Dhlakama não pode chamar de democracia. Terem dito que perdi as eleições... eu nunca perdi as eleições, sempre ganhei mas roubaram-me os votos.
DW África: E no caso dos mediadores? Já houve algum avanço para que seja ultrapassado o impasse nesse processo negocial? O Governo concordou com as vossas propostas? Em que pé está o assunto?
AD: Ainda há pouco tempo, aproximámos a igreja Católica e, em Moçambique, a igreja demonstou-se de facto disponível, tendo afirmado que estaria disposta a ajudar Moçambique se o Governo também se manifestasse disponível. Dirigi ainda uma carta ao Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, através da embaixada em Moçambique, e obtive uma resposta que dizia que a RENAMO deve entender-se, em primeiro lugar, com o Governo moçambicano.
DW África: E não vê nenhum problema pelo facto de o Presidente da África do Sul pertencer a um partido irmão da FRELIMO?
AD: Não, não. Nós temos coragem e eu conheço o Jacob Zuma. Quando queremos alcançar a paz, vamos esquecer os partidos, os irmãos da esquerda, de centro, direita, comunistas e tudo.
Hoje, a ideologia no mundo rege-se por interesses como a economia, a paz e o bem-estar. Conheço muito bem o Jacob Zuma que pertence ao Congresso Nacional Africano (ANC). Foi eleito e está a dirigir um país com mistura de etnias, problemas internos, entre outros. No entanto, o Zuma está consciente que o conflito em Moçambique pode afetar economicamente a África do Sul.
O Zuma não gostaria que houvesse um conflito em Moçambique, não está interessado. Acredito que ele pode ser um bom mediador.
Não se pode esquecer que a África do Sul, apesar de tudo, é uma potência económica da África austral, e todos conhecemos o peso que tem. Nem há comparação com a Zâmbia, Malawi ou a Namíbia.
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