O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, condicionou hoje a retoma do diálogo com o Presidente da República, Filipe Nyusi, à aceitação de um grupo de mediadores constituído pelo Governo sul-africano, Igreja Católica e União Europeia.
Na resposta por escrito à carta-convite endereçada pelo Presidente moçambicano na sexta-feira, o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) concorda com o reatamento do diálogo, mas, "como forma de evitar os acontecimentos do passado", sujeita às conversações a pontos prévios, nomeadamente a mediação daquelas entidades.
"A Renamo propõe que o Governo aceite publicamente a credenciação destes mediadores, como forma de mostrar ao povo moçambicano e ao mundo em geral o seu compromisso com a paz e reconciliação nacional", declara o maior partido de oposição, na carta, com data de hoje, assinada pelo chefe de gabinete de Dhlakama.
Na missiva, a Renamo lembra que já tinha proposto o envolvimento daquelas instituições e "cujas respostas foram favoráveis", acrescentando que só indicará a sua equipa de preparação para um encontro com o chefe de Estado "uma vez aceite a credenciação dos propostos mediadores".
O Presidente moçambicano dirigiu na sexta-feira um convite ao líder da Renamo para a retoma do diálogo e pediu ao maior partido de oposição "máxima urgência" na designação dos seus representantes para preparar um encontro ao mais alto nível.
"O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, em cumprimento das decisões do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, endereçou um convite ao presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, para a retoma do diálogo ao mais alto nível, visando encontrar os melhores caminhos para restaurar a paz e prosseguimento do caminho do desenvolvimento", adianta a Presidência num comunicado enviado à Lusa.
A carta, segundo a nota da Presidência, decorre da reunião, a 24 de fevereiro, do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, que determinou a continuação dos esforços do chefe de Estado para a retoma do diálogo com o líder do maior partido de oposição.
No convite, o chefe de Estado solicita "máxima urgência possível" na designação dos representantes da Renamo para o regresso ao diálogo.
Do seu lado, Filipe Nyusi designou Jacinto Veloso, membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, Maria Benvinda Levi, conselheira do Presidente da República, e Alves Muteque, quadro da Presidência, para a preparação do encontro com Dhlakama.
Na resposta, a Renamo saúda a iniciativa do Conselho Nacional de Defesa e Segurança e, "como protagonista do diálogo, ora temporariamente interrompido, concorda que este seja retomado, com vista a encontrar os melhores caminhos para restaurar a paz e prosseguir com o desenvolvimento nacional".
Para justificar a necessidade da mediação da África do Sul, Igreja Católica e União Europeia, a Renamo invoca acontecimentos do passado recente, "que se caraterizaram em encontros ao mais alto nível sem agenda própria, aperto de mão sem verdadeiro sentido de reconciliação e conversas sem registo".
O maior partido de oposição menciona ainda "falta de seriedade" do Governo no cumprimento dos acordos alcançados nas sessões de diálogo de longo-prazo no Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo.
A instabilidade em Moçambique tem vindo a deteriorar-se, com acusações mútuas de ataques armados, raptos e assassínios de dirigentes políticos.
Nas últimas semanas, foram registados ataques a colunas de veículos civis escoltadas pelos militares atribuídos à Renamo, em dois troços da principal estrada do país, na província de Sofala, centro do país.
Nyusi e Dhlakama avistaram-se duas vezes no início de 2015, mas o diálogo entre Governo e Renamo está bloqueado há vários meses, levando o líder da oposição a ameaçar tomar o poder nas seis províncias onde reclama vitória nas últimas eleições gerais.
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