O que se passa com os órgãos de informação do sector público continua a ser um mistério para mim.
Cada vez que fala sobre o assunto, Filipe Nyusi dá orientações concretas sobre a forma como esses órgãos de informação devem encarar a sua principal tarefa. E são orientações correctas, de acordo com a Constituição e a Lei de Imprensa. Mas o que é publicado, diariamente, contraria frontalmente essas orientações.
E não acontece nada.
Ainda agora, na festa de aniversário da TVM, Nyusi disse coisas como estas:
.A TVM deve ser uma janela de vidro transparente que transmite
a certeza dos factos narrados e uma porta através da qual entram as denúncias do que não está correcto e se salientam as boas práticas, contribuindo para o desenvolvimento de Moçambique;
. A TVM não pode servir facções políticas. Pelo contrário deve promover a imparcialidade, o rigor e a objectividade nos conteúdos que são transmitidos;
. Não podemos encorajar a televisão de todos nós a servir de arma política ou ideológica contra os seguidores de qualquer partido;
. A TVM deve promover e estimular um debate organizado para ajudar a criar uma opinião pública informada, séria, crítica e patriótica.
(Estas citações foram traduzidas da notícia da AIM em inglês).
Ora, o que está a acontecer é exactamente o oposto. Ainda há poucos dias, ao tomar posse do cargo de Director de Informação da Rádio Moçambique, Abdul Naguibo afirmou: “Nós temos de ser aqueles que mobilizam as pessoas a compreenderem melhor aquilo que são os objectivos do Governo”. E isto é uma trágica confusão entre o que é o jornalismo e a propaganda.
Esta definição cabe a uma agência de promoção de imagem, não a um órgão de informação. Mas este tipo de confusão vem de cima. Não há muitos meses a actual Directora de Informação junto do gabinete do Primeiro Ministro defendeu posições muito similares.
São pessoas que não percebem que os órgãos de informação públicos não estão ao serviço do Governo do dia, mas sim do país no seu todo.
Cabe-lhes informar sobre a realidade dos acontecimentos quer eles agradem ao Governo, quer não. Como muito bem defende, nos seus discursos, Filipe Nyusi. Só que nada faz para que essas orientações sejam seguidas e o resultado é elas serem completamente ignoradas.
E, continuando as coisas assim, nunca iremos ter uma democracia
efectiva e, muito menos, a Paz...
Finalmente uma boa notícia: A RM retomou a transmissão em directo da Assembleia da República, pelo menos para a sessão de perguntas ao Governo.
PS – O governador de Tete, Paulo Auade, afirmou que as mais de 6000 pessoas refugiadas no Malawi são mulheres e filhos dos homens armados da Renamo, o que pode ser verdade se ele o diz.
Mas, tendo uma família moçambicana média cerca de seis pessoas, isso significa que, só naquela zona da província de Tete, a Renamo tem mais de 1000 homens armados?
E isso não preocupa o digno governador ?
Machado da Graça, Savana 04-03-2016
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