Maputo, 08 mar (Lusa) - A Renamo disse hoje desconhecer a autoria dos sucessivos ataques armados nas estradas do centro de Moçambique, no dia em que denunciou o assassínio e prisões de membros do maior partido de oposição.
"Não sei. Cabe à polícia esclarecer isso. Estou aqui, não estou na estrada. Cabe a quem de direito explicar, trazendo evidências", afirmou hoje em conferência de imprensa o porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), António Muchanga, sugerindo que está limitado no alcance das suas respostas, para não ser confundido como comandante militar e constituído arguido, como já aconteceu no passado.
A polícia atribui ao braço armado da Renamo vários ataques a tiro nas últimas semanas nas principais estradas das províncias de Sofala, Manica e Zambézia, uma acusação que o maior partido de oposição nunca desmentiu.
No sábado, um ataque a tiro contra um autocarro da Nagi Investment matou duas pessoas em Honde, província de Manica, e na segunda-feira uma emboscada a uma viatura da mesma empresa em Zero, província da Zambézia, deixou um número indeterminado de feridos.
Em Sofala, as Forças de Defesa e Segurança montaram escoltas militares obrigatórias para viaturas civis em dois troços da N1, a principal estrada do país, entre Save e Muxúnguè e entre Nhamapadza e Caia.
Na segunda-feira, a procuradora-geral da República disse à Lusa que abriu processos para todas as ocorrências relativas a ataques nas estradas atribuídos à Renamo.
"Em função dessas ocorrências, vamos dar o devido tratamento", referiu Beatriz Buchili, à margem de uma visita a Luanda.
A instabilidade em Moçambique tem vindo a deteriorar-se, com acusações mútuas de ataques armados, raptos e assassínios de dirigentes políticos, além do registo de milhares de pessoas da província de Tete em fuga para o vizinho Malaui.
Na conferência de imprensa de hoje, António Muchanga denunciou e condenou o alegado assassínio de um membro do partido, Aly Jany Ussene Calu, "raptado na cidade de Maxixe [província de Inhambane] e morto a tiro no rio Nhangombe".
Do mesmo modo, o porta-voz da Renamo reiterou a denúncia, avançada à Lusa no sábado, às "prisões arbitrárias" de quatro elementos do partido no bairro 9, na cidade do Chimoio, província de Manica.
Sobre este caso, o comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM) de Manica, Armando Mude, disse no sábado, em conferência de imprensa, que há na Renamo "desinformação exagerada" por parte dos membros daquele partido, o que levou a polícia a tomar medidas para "acalmar a situação".
Este grupo de pessoas, descreveu Mude, tem anunciado que "amanhã vai haver ataque aqui, amanhã vai haver ataque ali, amanhã vamos levar a cabeça de fulano", defendendo que "[a desinformação] é outro tipo de guerra" e leva à "intimidação dos membros do Governo e do Estado", mas não especificando o crime de que aqueles elementos estão indiciados.
Entretanto, em Maputo, a polícia moçambicana anunciou ter descoberto material e fardamento militar da Renamo numa casa no bairro Luís Cabral, subúrbios da capital, segundo o jornal Notícias, uma acusação já refutada pelo partido de oposição.
O porta-voz da Renamo acusou hoje a polícia de falta de profissionalismo e má-fé, alegando que o equipamento apreendido pertence a empresas de segurança privadas.
"Associar o partido Renamo a qualquer assunto de natureza criminal é má-fé e visa justificar o fracasso da polícia no combate à criminalidade", disse António Muchanga.
O agravamento da crise política e militar levou o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, a dirigir uma carta convite ao líder da Renamo para a retoma do diálogo, mas Afonso Dhlakama condicionou as conversações à presença da mediação do Governo da África do Sul, Igreja Católica e União Europeia.
A Renamo ameaça tomar o poder, a partir de março, em seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
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