Maputo, 17 fev (Lusa) - As bancadas parlamentares da Frelimo, partido no poder em Moçambique, e da Renamo, principal força de oposição, responsabilizaram-se hoje na Assembleia da República pelo agravamento da instabilidade no país.
Na abertura da terceira sessão ordinária da Assembleia da República, a líder parlamentar da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) insistiu no apelo para negociações e a sua colega da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) respondeu que o seu partido está preparado para dialogar, mas questionou a boa-fé da outra parte.
"Quanto às negociações ou diálogo para a paz, a Renamo está preparada", afirmou Ivone Soares, acrescentando que já houve acordos assinados anteriormente mas não implementados e questionando as garantias de que "no futuro os compromissos serão honrados no espírito e na letra".
Manifestando a sua vontade de rever a Constituição, a chefe da bancada da Renamo afirmou que o principal partido de oposição está disposto a debater "coisas sérias" para que haja paz e democracia em Moçambique "e não um país assolado com o troar de canhões e BTR [blindados]".
A líder parlamentar da Frelimo disse, por seu lado, que "nada justifica que a avidez pelo poder de alguns ponha em causa o sossego, a convivência e a harmonia de milhões de moçambicanos".
Segundo Margarida Talapa, a Frelimo estimula o Governo a prosseguir a sua disponibilidade para um diálogo baseado no "bom-senso e na razão e não na chantagem política", instando o líder da oposição, Afonso Dhlakama, a aceitar "sem condicionalismos" o convite que lhe tem sido repetidamente dirigido pelo chefe de Estado para negociar.
Apesar da disponibilidade para o diálogo manifestada pelas partes, os discursos das duas deputadas foi marcado por acusações mútuas sobre a criação de instabilidade em Moçambique.
"O país vive um clima de tensão, criado pela Renamo, colocando em risco o desenvolvimento", declarou Talapa, lamentando que no parlamento sejam proferidos "discursos incendiários e totalmente irresponsáveis" e que deputados incitem "à desobediência civil, ao divisionismo, ao tribalismo e à guerra para se chegar ao poder".
A chefe de bancada da Renamo disse, por seu lado, que Moçambique vive "uma guerra silenciosa" perante o "silêncio do Governo de Maputo" e negou que o seu partido esteja a atacar civis.
"Ora, isto não constitui a verdade. Quem de facto criou a situação de refugiados, a catastrófica situação de moçambicanos no Malaui foi a Frelimo. Que se crie imediatamente uma comissão de inquérito parlamentar para ir averiguar os factos no terreno", declarou.
Insistindo que o seu partido não quer a guerra, Ivone Soares acusou as forças de defesa e segurança de atacarem homens da Renamo que aguardam integração no exército e na polícia e de desrespeito do Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, assinado a 05 de setembro de 2014.
"É inadmissível o cenário que se vive no país, pois as populações são atacadas, raptadas, mortas só por serem apoiantes da Renamo e ninguém aqui se manifesta contrário. Isso não significa que para a Frelimo o rio Save é fronteira?", questionou a líder parlamentar, referindo-se ao rio que separa o sul do centro de Moçambique.
Também o MDM (Movimento Democrático de Moçambique), terceira força parlamentar, se referiu à crise política e militar, defendendo que "os moçambicanos não merecem uma outra guerra" nem mais violações dos direitos humanos e um Estado autocrático.
"A violência instalada deve cessar para dar lugar a um diálogo construtivo e engajador", apelou o líder parlamentar do MDM, Lutero Simango, acrescentando que "a paz não é um assunto de um partido ou dois", mas "um imperativo nacional" que deve ser agenda de todos.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
2 comments:
Porqué que no rio save age-se como se fosse fronteira? Inspencçao dum lado da ponte e outra inspecçao doutro lado da mesma ponte; o mesmo que acontece quando se atravessa dum país para o outro; sera que é isto que chamam de livre circulaçao de pessoas e bens? Por favor governo de Moçambique: deixe o povo em paz e gozar dos seus direitos no seu país, nada de colocar barreiras para incomodar a populaçao!
As províncias do sul deste país gozam de estatuto especial, acredite se quiser. Não sei se reparou de há uma espécie de produtos agrícolas vinda do centro que não é aceite atravessar a fronteira instalada no Save...? Eu acredito de que este país não é aquele de que se levanta todos os discursos sobre a unidade nacional, a Frelimo quer o Centro e Norte para explorar recursos que o Sul não tem e ponto final.
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