Todo o mundo ficou mudo, quando o líder da oposição, Afonso Dhlakama, foi atacado em Manica por duas vezes em Setembro de 2015, uma acção levada a cabo, segundo a retórica governamental, por “uma terceira força”.
A Assembleia da República, o mais alto órgão legislativo, onde a Renamo detém 89 deputados, constituindo-se na segunda maior força política, ficou calada. O Governo sustentado pela Frelimo idem. O Presidente da República permanece até hoje em estranho silêncio. O regime ficou mal na fotografia perante claras evidências – inclusive testemunhas oculares – da participação de forças securitárias à paisana nos ataques a Dhlakama.
Os protestos – sociedade civil e algumas chancelarias – vieram dos suspeitos do costume, para glosar o clássico “Casablanca”.
Os ataques contra a oposição, no seu todo, não começaram hoje. Vêm crescendo de maneira alarmante, estimulados pelo clima de ódio gerado pela postura histericamente belicista, de alguns sectores radicais do regime. Durante a campanha eleitoral em 2014 eram expediente normal as mortes, espancamentos, inceneração de bandeiras, sedes e casas de responsáveis. Mais recentemente, é o terror noturno em zonas de Nhamatanda, Gorongosa e Tsangano. As mortes continuam selectivas.
Com o atentado há uma semana contra o Secretário Geral da Renamo, Manuel Bissopo, na cidade da Beira, região que sempre votou oposição, assistimos a uma estranha mudança de actuação.
A Frelimo, através do seu diligente porta-voz, Damião José, apressou-se a condenar, considerando uma acção criminosa que “lamentamos profundamente e condenamos naturalmente este tipo de acções que põem em causa a integridade física dos cidadãos”.
A Assembleia da República, que nos anteriores ataques se manteve
silenciosa, também condenou a acção por via da sua Comissão Permanente, considerada pela chefe da bancada da Renamo, como “terrorismo de Estado”.
Jorge Khalau, o actual Comandante-geral da polícia, descrito como detendo uma posição de “pivot” nos eventos contra Dhlakama em Manica e defensor feroz da necessidade do desarmamento da Renamo, também convocou a imprensa para condenar a acção contra Bissopo.
O ataque agudizou os momentos de incerteza política que o país vive e, em alguns sectores, chegou-se a acreditar numa reacção de força mais ousada por parte da Renamo, mas, tal como em ocasiões anteriores, Afonso Dhlakama apelou à contenção.
A Renamo e Afonso Dhlakama parecem ter-se apercebido que a ideia – tal como aconteceu em Setembro de 2015- é empurrá-los para uma confrontação, acção que poderia levar alguns sectores a colocarem em prática a “solução Savimbi”, colocada por algumas alas da Frelimo como parte da equação para a solução da actual crise política.
A aparente mudança de postura por parte dos mais importantes órgãos do Estado e do próprio partido Frelimo parecem mais um apelo à calma e o aumentar do lastro para que, de novo, Filipe Nyusi tome uma iniciativa de paz, apesar do enorme fosso de desconfiança e descrédito cavado em relação à Renamo e a Afonso Dhlakama.
Fevereiro – Comité Central da Frelimo - e Março - mês anunciado por Dhlakama para governar seis províncias onde reivindica vitória - estão bem pertinho.
E por isso, é preciso que algo aconteça.
Editorial, Savana 29-01-2016
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