Compra de consciências na Frelimo
Quando em devida altura alertamos que a lei dos mais endinheirados estava a substituir a meritocracia nos pleitos eleitorais na Frelimo, não faltaram vozes que, como sempre, tentaram ridicularizar o que chamaram de especulações da comunicação social. Mas o tempo, esse, encarregou- -se por desfazer a máscara que vestem alguns camaradas quando o assunto é é arrancar o poder no partidão.
Eram primeiras horas de sexta- -feira. As atenções estavam viradas para a Escola Central do partido, sita na Matola, a capital provincial de Maputo, de onde se esperava o prenúncio de uma nova era, com o presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, a sair com o poder fortalecido naquela que foi a II Sessão Extraordinária do partido.
Exactamente, decorria a sessão de abertura, quando os Combatentes da Luta de Libertação Nacional deram o tiro para o próprio pé (leia-se da Frelimo).
Numa mensagem de saudação ao evento, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), uma das organizações sociais da Frelimo, deixou claro, intencionalmente ou não, que reina no partido a lei do mais rico.
Sem papas na língua, os combatentes - que em Fevereiro de 2014
contrariaram o então Secretário- -geral do partido, Filipe Paúnde, sobre a entrada ou não de mais pré-candidatos rumo às presidenciais - exortaram, na passada sexta-feira, a todos os membros do Comité Central para abandonarem a compra de consciências, mas também o dualismo, as ambiguidades e subjectivismos, abrindo espaço para debate de ideias de modo a que o órgão delibere à luz da letra e espírito dos estatutos daquela
formação política.
“Os combatentes da luta de libertação nacional exortam a todos os camaradas aqui presentes para que abandonem o dualismo, a compra de consciências, as ambiguidades e subjectivismos para dar lugar ao debate de ideias e eleições dos membros de secretariado de forma a permitir que o Comité Central delibere à luz da letra e espírito dos estatutos da nossa organização”, apelaram os combatentes, minutos antes do início da decisiva fase eleitoral.
Com a lição estudada nos pleitos internos anteriores, a consagrada
geração do 25 de Setembro prosseguiu: “nós os combatentes da luta de libertação nacional sentimo-nos com a responsabilidade acrescida de assegurar que a agenda da sessão decorra normalmente
para que a implementação da directiva sobre eleições internas do partido seja observada na sua íntegra e os que serão eleitos para os cargos do secretariado sejam camaradas que vão dignificar a Frelimo e o Governo de todos osmoçambicanos”.
Foi de resto um tiro a sair pela culatra para um partido que sempre negou haver esquemas de compra de consciências quando o assunto é arrancar o poder nas eleições internas.
Mas as informações que escapam de dentro são assustadoras e dão conta de que esse maquiavelismo constitui mesmo o modus vivendi no partido. É assim quando se concorre, internamente, a candidato de deputado, conta-se.
Mas um dos ainda frescos casos foi o X Congresso da Frelimo, realizado em Setembro de 2012, na cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado. No conclave, relatou-se esquemas de compra de votos na eleição de alguns membros do Comité Central e da Comissão Política.
Uma estória que se terá repetido em Março de 2014, no suposto lobby que terá determinado a eleição do candidato da Frelimo às eleições presidenciais de Outubro do mesmo ano.
Armando Nhantumbo, Savana 12-02-2016
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