Tuesday, 16 February 2016

Correntes opostas

 
Duas correntes de pensamento ganham, crescentemente, na praça política e social de Moçambique, cada vez mais nitidez pelo facto de não se interpenetrarem no campo do entendimento e das soluções políticas que o país procura. Duas correntes à procura de mais e mais argumentos para que cada uma delas se afirme como a mais válida relativamente a outra. São correntes que parecem dever algo à comissão da verdade e reconciliação nacional, que por estas bandas não existe e nem existiu.
A primeira corrente defende, há já algum tempo, que a Constituição da República (CR) seja respeitada (como se antes esse respeito tivesse sido uma raridade potenciada pela nulidade). Defende que a Renamo, ao aceitar ocupar os assentos no Parlamento concordou tacitamente ou, se quisermos, inequivocamente, com os resultados eleitorais por si contestados; que o Presidente da República (PR) sempre esteve aberto ao diálogo político com a Renamo e com outras forças políticas, etc. Os mais radicais dentro desta corrente são a favor de uma “savimbização” de Dhlakama (já ensaiada com os mediáticos atentados) e, outros, os mais moderados, percebem o significado da canção que diz que por morrer uma andorinha não acaba a primavera; que o “nó-górdio” foi um ensinamento a não esquecer. Entre os círculos de defesa desta primeira corrente está o Governo/Frelimo.
A segunda corrente não olha para a CR como um problema em si, mas sim quem a usa despropositadamente como escudo em seu benefício e não do povo; concorda que ela seja respeitada por todos. Defendem que as eleições foram visivelmente fraudulentas; que o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) ali colocado pela Frelimo tinha a tarefa de legitimar os resultados favorecendo quem ali o colocara; que os comandos supremos das instâncias superiores à CNE, uma vez apresentado o problema das gravíssimas irregularidades eleitorais, alinharam pelo mesmo diapasão que o do presidente da CNE. Perante tudo isso e mais alguma coisa alegam como solução única para o diferendo político o diálogo aberto e sincero com o Governo/Frelimo e, passando este nível, a Renamo propõem-se a governar nas províncias onde obtive significativas vantagens eleitorais.
Tanto a primeira como a segunda corrente concordam que as regras do jogo se definam antes do jogo. A primeira corrente acusa a segunda de tentar alterar as regras do jogo no decurso do mesmo, pois as eleições foram gerais e não provinciais. A segunda corrente, por seu turno, lembra à primeira, que a fraude não fazia parte das regras do jogo. Considerando as duas acusações, está claro que as regras parecem ter sido violadas pelas duas correntes. Uma mais do que a outra. Uma violação terá suscitado outra.
Cá entre nós: as paixões partidárias originam alguma dificuldade em apurar-se de forma isenta e clara quem, de facto, não está ou nunca
esteve a cumprir com as regras estabelecidas antes do início do jogo. Cada uma acusa a outra.
Mas, os factos no terreno provam tudo. Sempre esteve claro que a CNE e o STAE não eram o problema, mas sim os que usam ou usavam estes órgãos de forma obscura em seu benefício. Este é, portanto, um grave problema de partida que tem desencadeado tantos outros, como por exemplo, os confrontos militares, as mortes, os refugiados, os raptos e assassinatos, a arrogância, etc. Como será o entendimento nas próximas semanas? A ver vamos.
Luís Guevane, Savana 12-02-2016

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