Wednesday, 9 December 2015

Quem manda na informação?

 
Há muita gente que comenta a aparente falta de poder real por parte de Filipe Nyusi dando como exemplo o que se passa com as Forças de Defesa e Segurança que, muitas vezes, aparecem a tomar iniciativas graves sem cobertura do seu Comandante em Chefe, pelo menos a nível teórico.
Eu tenho uma ideia bastante semelhante sobre os poderes de Nyusi
mas, talvez por deformação profissional, prefiro usar exemplos na area da Informação. A verdade é que, nos vários discursos que já pronunciou sobre esse tema, Nyusi tomou sempre posições correctas, de acordo com a Constituição e a Lei de Imprensa. Tem defendido sistematicamente que os órgãos de informação do sector público devem ser palco de confronto e debate de ideias diferentes de forma a transmitirem ao seu público uma perspectiva correcta sobre a real situação do país e sobre as diferentes sugestões para a resolução dos problemas existentes.
Só que os órgãos do dito Sector Público apressam-se a transmitir as
suas palavras, de preferência em directo, e depois continuam, como até aqui, a fazer o oposto. Sem que nada aconteça a quem os dirige. Dando o exemplo da Rádio Moçambique, de quem sou ouvinte regular, sobre qualquer assunto importante da vida nacional, ficamos a saber a opinião do Presidente da Frelimo, do Secretário Geral do mesmo partido, de todos os secretários provinciais e distritais e é porque ainda não se lembraram de entrevistar mesmo as senhoras que fazem a limpeza na sede. Nos dittos debates os painéis são exclusivamente formados por simpatizantes frelimistas.
Ninguém de um outro partido ou observador independente é, nunca, chamado a dar uma opinião que possa ser diferente da opinião oficial. Excepções a esta regra só as que tenham relação com o Parlamento em que seria descaramento total não ouvir as bancadas da oposição. Mas isso são momentos muito raros...
E eu pergunto a quem obedecem os jornalistas da RM quando contrariam, frontalmente, as orientações de Filipe Nyusi? Quem dá as ordens reais e impede que as orientações de Nyusi sejam seguidas?
Um exemplo recente pode dar-nos uma ideia: A Assembleia da República estava numa das habituais sessões de perguntas ao Governo e os deputados faziam perguntas de insistência, enquanto a RM transmitia em directo. Só que, na mesma manhã, iniciava-se, na Matola, o I Congresso da OJM e a RM interrompeu várias vezes a transmissão da sala do Parlamento para ligar à Matola onde, de resto, não estava a acontecer nada porque a sessão ainda não se tinha iniciado.
Portanto tivemos um acontecimento de carácter partidário a sobrepor-se, em termos de prioridade radiofónica, a um outro acontecimento de character nacional, estatal.
Pode-se argumentar que seria Filipe Nyusi a abrir o tal congresso. Mas há que perceber que esse Nyusi estava ali na sua função partidária e não como Presidente da República. Não era a sua presença que dava carácter nacional ao Congresso que, do primeiro ao último minuto, foi apenas uma realização do partido Frelimo.
Numa sua recente palestra o jornalista Rogério Sitoi referiu que a Informação estava permanentemente sujeita a interferências de três origens diferentes: as interferências políticas, as do sector da economia e as do crime organizado.
Foi pena ele não ter dado mais um passo nesse caminho falando do que acontece quando o poder político, o poder económico e uma parte do crime organizado se concentram no mesmo reduzido número de pessoas.

 
Machado da Graça, Savana 04-12-2015

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