Maputo, 16 dez (Lusa) - O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse hoje estar insatisfeito com o estado da nação, quando se dirigiu ao parlamento para fazer o seu discurso anual, numa sessão em que os deputados da oposição da Renamo abandonaram a sala.
"Estaríamos contentes se tivéssemos resolvido definitivamente os problemas básicos da pobreza, da exclusão e da paz", afirmou perante o plenário da Assembleia da República Filipe Nyusi, na Informação Anual do Chefe do Estado sobre a Situação Geral da Nação.
"Esta é a verdade. Se perguntarem se estamos orgulhosos, a resposta é que sim, estamos orgulhosos. Se perguntarem se estamos satisfeitos, a resposta verdadeira e sincera é esta: não estamos ainda satisfeitos", declarou.
Referindo-se ao povo como seu patrão, numa reutilização de uma expressão usada na sua tomada de posse a 15 de janeiro, Filipe Nyusi reconheceu que "há muito para ser feito", mas também razões para que o "desempenho não decorra ao ritmo almejado".
O Presidente da República mencionou as cheias no início do ano, que provocaram "prejuízos diretos e indiretos incalculáveis", e a perda de 72 mil hectares de área cultivável e do rendimento de 85 mil famílias, conduzindo a uma revisão em baixa da previsão do crescimento da economia para 7% contra os 7,5% inicialmente projetados.
Ainda no campo das calamidades naturais, Filipe Nyusi recordou que a seca que atinge há vários meses as províncias do sul do país levou por seu lado a que 64 mil hectares de área arável ficassem perdidos e que 56 mil pessoas na província de Gaza, 66 mil em Inhambane e 73 mil em Maputo ficasse numa situação de insegurança alimentar.
Nyusi disse que a baixa generalizada dos preços de produtos de exportação, como algodão, alumínio, gás, carvão e açúcar contribuíram igualmente para os constrangimentos da economia moçambicana, numa conjuntura que atribui a fatores externos e com impacto no crescimento do Produto Interno Bruto no primeiro semestre, que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, se ficou pelos 6,3 por cento.
"Não temos comando sobre os fatores financeiros que determinam a situação mundial", afirmou o chefe de Estado, que também recordou a crise cambial em Moçambique, em que o metical regista uma desvalorização face ao dólar superior a 70% desde o início do ano.
A taxa de câmbio, assinalou, "é o reflexo da conta corrente externa" e sua estabilidade a longo-prazo "depende de exportações, substituição de importações e criação de ambiente favorável para o investimento externo".
Nesse sentido, o Presidente moçambicano apontou como outras causas que influenciaram a sua governação a redução do investimento direto estrangeiro e a retirada de cinco dos 19 parceiros internacionais de apoio geral ao Orçamento do Estado.
O chamado G19 desembolsou em média nos últimos cinco anos 704 milhões de dólares nas modalidades de apoio geral ao orçamento e apoio programático setorial, segundo Nyusi, que lamentou uma redução de 217 milhões de dólares por ano, além de atrasos nas transferências das doações.
Dos 15 parceiros existentes, "cinco ainda não efetuaram desembolsos", referiu.
Filipe Nyusi disse ainda que o calendário do processo eleitoral de 15 de outubro de 2014 levou a que os instrumentos de governação económica e social arrancassem tarde no ano seguinte, nomeadamente o Orçamento do Estado, que apenas foi aprovado em maio, "o que significa que a execução orçamental começou com cinco meses de atraso".
"Ainda não estamos satisfeitos", insistiu o chefe de Estado, acrescentando que, ao longo de onze meses de mandato, teve de fazer "sacrifícios e escolhas dolorosas".
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