A sensação que tenho, depois do chumbo da proposta da Renamo no Parlamento, é de que a ala radical e guerreira do partido Frelimo deu, consciente ou inconscientemente, mais um passo no sentido de envolver o país em novo confronto armado.
O palavreado jurídico que levou a este resultado (e o parecer da Primeira Comissão, longuissimamente lido por Edson Macuácua, ultrapassou as piores expectativas) é um exemplo de que há quem não compreenda, ou não queira compreender, que o que se precisa agora é de decisões políticas e não de erudição jurídica.
Esta última teria sido útil, em Outubro passado, como base para a severa punição do(s) mandante(s) e dos executantes da fraude eleitoral que nos colocou na situação em que agora estamos. Mas aí os ilustres jurisconsultos brilharam pelo silêncio.
Entretanto, temos vindo a assistir a uma das partes, que vai apresentando sucessivas propostas de resolução pacífica do problema, e a outra que, chumbando todas essas propostas, mostra uma apetência para a “solução militar” deste conflito eminentemente político. Apesar das consequências que isso está a ter na economia e, nomeadamente, no turismo.
Antes de Outubro, sabendo as eleições à porta e querendo chegar lá em Paz, o partido Frelimo pôs de lado os legalismos e aceitou as propostas da Renamo. Agora, confiante nos vários anos de mandato que lhe restam, voltam os discursos dos artigos e alíneas para impedir o avanço do processo.
Para não se dizer que fecharam completamente a porta, os deputados da bancada maioritária, e quem lhes dá ordens, propuseram a criação de uma Comissão ad Hoc para uma revisão mais completa da Constituição.
Só que essa comissão só seria criada a partir de Março do próximo ano (e sabe-se lá o tempo necessário para a criar...) e a proposta de revisão só estaria pronta muitos meses depois.
Com isso se pretende ganhar tempo, mantendo esta paz-podre durante cerca de mais um ano.
Não contam os autores de uma tal estratégia com a impaciência dos homens da Renamo e do seu líder, já fartos de viver no mato mas que não querem de lá sair com as mãos vazias.
Não contam os autores de uma tal estratégia com a impaciência dos homens da Renamo e do seu líder, já fartos de viver no mato mas que não querem de lá sair com as mãos vazias.
E isso pode levar o país outra vez aos tiros e mesmo, numa hipótese improvável mas possível, ao fim violento do actual mandato.
De qualquer forma, o que se passou na Assembleia da República está longe de ter sido uma coisa boa para o país.
Falando à Juventude da Renamo, Afonso Dhlakama prometeu festas em Paz, mas deu indicações de que, passadas estas, em vez de “pachões” possamos passar a ouvir tiros e explosões bélicas.
Quando será que vamos deixar de viver, constantemente, com medo da guerra?
Machado da Graça, SAVANA – 11.12.2015
1 comment:
Chumbamos tanto nas escolas que chumbar da prazer. Quando olhamos o trabalho do outro ou o outro a primeira coisa que nos apetece é encontrar erros... e usar a caneta vermelha. A ideia é de que depois de tirarmos os erros ficará o que é bom. Mas na correção dos erros corrigimos tambem as pessoas e elas descobrem que afinal pouco valem ou se revoltam contra os correctores. Tudo isto começa na escola: corrigir. Corrigir e chumbar humilha...
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