Thursday, 7 March 2013

ONTEM EM DAVEYTON, NA ÁFRICA DO SUL: Revolta e consternação no adeus a Emídio Macia

Graça Machel em Daveyton com a família de Emídio Macia

MAIS de duas mil pessoas marcaram presença, ontem, no Estádio Sinaba, em Daveyton, arredores de Joanesburgo, numa cerimónia realizada em homenagem ao jovem taxista Emídio Macia, morto semana passada por agentes da Polícia sul-africana. Manifestações de revolta dominaram a cerimónia que durou cerca de três horas e meia, na qual numerosos dísticos e cartazes com imagens da vítima exteriorizavam o sentimento de desacordo e repulsa dos presentes para com a actuação da Polícia.
Nem o sol escaldante que se fez sentir ontem naquela região da África do Sul foi suficiente para impedir as pessoas de se manifestarem e apelar para que se faça justiça, punindo exemplarmente os oito agentes da Policia acusados de envolvimento directo no crime.
Com uma forte presença da comunidade moçambicana residente em Daveyton e não só, a cerimónia foi igualmente marcada por uma vigorosa rejeição à tentativa da direcção do Comando da Polícia local presenciar o acto. Devido aos insistentes apupos, os responsáveis da Polícia foram forçados a abandonar o local.
Para os populares, a Polícia não era bem-vinda, uma vez que por estes dias qualquer membro da corporação na região é visto como aqueles que mataram o jovem taxista.
O culto religioso foi organizado com apoio do Congresso Nacional Africano (ANC) e do Partido Frelimo. Entre algumas individualidades moçambicanas presentes destaque vai para Graça Machel, presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade e esposa do ex-Presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Falando a jornalistas depois de confortar a família do malogrado, Graça Machel disse que a sua participação tinha sido movida pelo sentimento de solidariedade como ser humano e, sobretudo, por ser moçambicana. Acrescentou que a sua presença foi também para demonstrar a sua indignação para com tudo o que aconteceu.
Por seu turno, Fernando Fazenda, alto-comissário de Moçambique na África do Sul assegurou à nossa Reportagem que já estão criadas todas as condições para que a transladação do corpo de Emídio Macia ocorra amanhã, conforme o previsto.
Este processo, segundo indicou, conta com o envolvimento dos Governos de Moçambique e da África do Sul, bem como de alguns agentes económicos daquele país vizinho. Intervindo na cerimónia religiosa, Fernando Fazenda apelou aos moçambicanos para não enveredarem pelo espírito de vingança, mantendo-se firmes na irmandade que une os dois povos.
“Temos que olhar para os dois povos como um só, pois a nossa união é antiga. Todavia, o que aconteceu com o nosso irmão é doloroso e não queremos que se repita. Mido tinha a África do Sul como sua segunda casa, pois não viemos cá para roubar, mas sim para trabalhar. Vamos continuar com o nosso propósito”, disse Fazenda.
Apesar da rejeição popular, o acto religioso decorreu na presença de um forte dispositivo policial destacado para assegurar que nada de anormal acontecesse. Uma unidade especial da Polícia canina foi a primeira a chegar ao local, passando em revista todos os cantos do estádio na perspectiva de desactivar eventuais engenhos explosivos que pudessem ter sido colocados. Depois chegou uma frota de viaturas, incluindo blindados, transportando um efectivo considerável de agentes que garantiu a realização do acto sem incidentes.
Enquanto isso, aguarda-se amanhã pelo regresso dos oitos agentes da Polícia ao tribunal para o necessário procedimento judicial.
Igualmente, o Ministério Público deverá apresentar novas provas incriminatórias contra o grupo envolvido, bem como o resultado da perícia realizada para permitir que as testemunhas reconhecessem os autores do crime.
Entretanto, o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Balói, garantiu ontem a jornalistas que o Governo sul-africano já apresentou, formalmente, desculpas às autoridades moçambicanas pelo sucedido, ao mesmo tempo que deu garantias de que está empenhado em que o assunto seja tratado com a necessária responsabilidade.


Hélio Filimone, em Joanesburgo, Notícias

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