Silvestre Baessa, especialista em boa governação
Em Moçambique, Governo da FRELIMO e RENAMO optam pela guerra no mato e pela diplomacia na cidade, numa altura em que procuram pôr termo a crise política. A falta de confiança ainda reina entre as partes antagónicas.
Sobre esta situação, a DW África entrevistou o especialista moçambicano em boa governação Silvestre Baessa:
DW África: Haverá alguma razão para essa atuação paradoxa, de guerra, por um lado, e o relançamento do diálogo, por outro?
Silvestre Baessa (SB): Acho que não, e neste momento muito particular em que há um claro reacender dos confrontos, [isso] faz parte da estratégia de ambas as partes de chegarem a mesa de negociações numa posição de força. Então, se notar, desde a altura em que a comissão mandatada para redigir os termos de referência, ambas as partes têm estado a reforçar as suas ações. Em princípio os termos de referência serão redigidos em breve e aprovados e até lá é importante o que vai ser discutido e como.
DW África: E acha que serão frutíferas as negociações nessas condições?
SB: Temos dois elementos novos: o primeiro é o facto dessas operações que pareciam ser de curta duração e que iriam resultar na eliminação da ala militar da RENAMO não surtiram efeito. Recordamos que essa privação contra a ala militar da RENAMO iniciou praticamente na altura das tentativas do assassinato do presidente [da RENAMO], dos ataques que a sua comitiva sofreu, depois do assalto a sua residência na cidade da Beira. E já lá vai algum tempo e não há sucessos significativos no campo de batalha. Então, eu creio também que é uma tentativa das alas menos belicistas dentro do Governo da FRELIMO de recuperarem algum protagonismo, porque tempo para a opção militar parece não estar a resultar. Então, é preciso tentar de novo dar oportunidade ao diálogo. O segundo elemento, que está ligado ao primeiro, é o facto de o país neste momento não estar em condições de aguentar com uma guerra. Um guerra desta natureza têm custos financeiros e económicos muito elevados e a condição financeira e económica do país não permite que estejamos envolvidos em mais do que duas ou três guerras. A grande questão do diálogo neste momento é que a confiança nunca é totalmente restituida nesses processos negociais. Então, a paz em Moçambique parece que começa a ser percebida como um intervalo entre as guerras.
DW África: Falou em falta de confiança, aliás, uma situação que não é nova. Acha que Moçambique precisa antes de lançar qualquer diálogo de um momento de reconciliação e perdão, a semelhança de países como a África do Sul, por exemplo?
SB: Eu creio que sim, essa é uma das peças que possivelmente terá faltado na altura do Acordo Geral de Paz. Seria um momento para uma verdadeira reflexão mais profunda sobre isso. Repare, entre os vários setores dentro do Governo e do partido, alguns continuam a não reconhecer a RENAMO, continuam a olhar para a RENAMO como um instrumento do apartheid, ainda que este tenha acabado. Enquanto persistir esse tipo de pensamento a integração da RENAMO na estrutura do Estado, não por via do Parlamento, mas perceber-se a RENAMO como uma instituição, como um partido, mas que tem responsabilidade de Estado, não irá acontecer sem conseguirmos ultrapassar os fantasmas do passado. Então, esse é o grande desafio.
DW
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