A SITUAÇÃO na Guiné Equatorial, o mais recente país da
CPLP, é "mais chocante do que aquilo que os críticos descrevem", considera Sarah
Saadoun, investigadora da Human Rights Watch
(HRW).
Entrevistada ao telefone pela Lusa em Washington, antes
de ir para Paris para a divulgação oficial, hoje (15 de Junho) do relatório,
Sarah Saadoun apontou que "ver enormes palácios presidenciais e outros da
família do Presidente ao lado de bairros sem água potável, e com aspecto
totalmente negligenciado, e os hospitais completamente impreparados, é mais
chocante do que aquilo que os críticos
descrevem".
Durante a entrevista, Sarah Saadoun disse que não teve
contacto com o Governo da Guiné Equatorial porque as autoridades não responderam
aos pedidos de contactos da HRW e que não informou as autoridades da sua
presença durante 10 dias em Malabo e Bata no ano passado, "mas também não
precisava, dado ter nacionalidade norte-americana",
disse.
"Nada me preparou para o que vi, foi chocante", resumiu a
investigadora sobre a sua visita ao mais recente membro da Comunidade de Países
de Língua Portuguesa (CPLP) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), descrevendo as situações reais que encontrou durante a sua
visita.
"Não há justificação para gastar metade do Orçamento de
2015 para fazer uma nova capital no meio da selva, simplesmente não há
justificação para isso; há um aeroporto gigante, há um estádio de futebol enorme
e depois não há uma escola secundária sequer", disse, criticando o estado de
degradação das escolas, visível nas fotografias que a HRW colocou no seu
site.
Para Sarah Saadoun, "o país precisa urgentemente de mudar
o ambiente de negócios para ser mais transparente e atrair mais Investimento
Directo Estrangeiro, por um lado, e tem também de investir tremendamente na
saúde e na educação para preparar os jovens para a economia
pós-petrolífera".
O petróleo na Guiné Equatorial representa a quase
totalidade das receitas fiscais e das exportações, mas a produção está longe do
pico de há cinco anos, ficando-se agora abaixo dos 300 mil barris de petróleo
por dia e a produção, se não forem descobertos novos poços, terminará em
2035.
"O momento para diversificar e investir noutras áreas é
agora porque o dinheiro do petróleo vai desaparecer", defende a investigadora,
sublinhando que não é só o Governo que tem culpa de o país ser simultaneamente o
mais rico em PIB per capita e o que tem uma das maiores taxas de pobreza extrema
do mundo.
"Os governos e os investidores estrangeiros têm a
responsabilidade de tentar garantir que as parcerias que fazem no país não são
infestadas pelos conflitos e pelos problemas com membros do Governo que são os
donos de uma empresa e usam esse estatuto para garantir contractos",
defendeu.
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