Sunday, 5 March 2017

Moçambique, um país em stand-by

Mergulhado numa profunda crise económica, Moçambique tem falta de cash e de credibilidade política internacional.

Palma, zona onde está prevista a construção da plataforma de liquefação de gás proveniente da Bacia do Rovuma
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Palma, zona onde está prevista a construção da plataforma de liquefação de gás proveniente da Bacia do Rovuma MANUEL ROBERTO 


Moçambique está num limbo, uma espécie de “nem-nem político”, dizem dezenas de especialistas e diplomatas ouvidos pelo PÚBLICO nas últimas semanas. “É um país à espera”, diz um embaixador. Em stand-by
Principal razão? “Não tem nem guerra nem paz”, resume o professor de Antropologia Fernando Florêncio, da Universidade de Coimbra, especialista em política africana.
Mergulhado numa profunda crise económica, Moçambique tem falta de cash e falta de credibilidade política internacional, depois de o FMI e a comunidade de doadores terem descoberto uma fraude de 2,2 mil milhões de dólares, resultado de um complexo e obscuro negócio que envolveu três empresas controladas pelo Estado, sobre as quais há a suspeita de serem sobretudo empresas de fachada.
O ministro das Finanças Adriano Maleiane disse esta semana que a ProIndicus, uma dessas três empresas, não vai conseguir pagar a próxima tranche de 119 milhões de dólares, cujo prazo, segundo o contrato do empréstimo, termina a 21 de Março. Em Janeiro, Moçambique já falhou o pagamento de 60 milhões relativos ao empréstimo à Ematum, outra das empresas. Vários analistas de consultoras de investimento em África acreditam que, no caso de a ProIndicus falhar o pagamento, vai haver repercussões directas nos bancos nacionais, que compraram parte dessa dívida.
Para complicar a situação, a queda do preço do petróleo e de outras matérias-primas teve um efeito directo na vida das populações. “O preço das matérias-primas baixou e deixou de ser competitivo. A multinacional [norte-americana] Anadarko já fez marcha atrás no projecto da bacia do Rovuma [cuja concessão detém]. Continua a negociar contratos com Moçambique, mas com mais calma”, nota um observador.
“Estamos num momento crucial de impasse”, diz um diplomata. “As empresas de fachada, a mentira do Estado moçambicano, a queda do preço do petróleo, o constante adiar da paz... A ideia de eldorado já desapareceu.” Em 2014, quando foram descobertas enormes reservas de gás natural, os olhos (e o capital) de muitos gigantes internacionais viraram-se para Moçambique. A miragem era 2017, que parecia longínquo. Três anos depois, o novo prazo é 2020 e 2022. Mas todos os investidores parecem estar à espera.



Público

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