Os ciganos são a comunidade mais discriminada em toda a Europa, denunciou o comissário europeu dos Direitos Humanos, apontando que são "convenientes bodes expiatórios" e criticando que o tema tenha saído das agendas políticas.Em entrevista à agência Lusa, a propósito da sua visita de dois dias a Portugal, cinco anos depois de ter visitado o país pela primeira vez, Nils Muiznieks contou como no ano passado escreveu cartas a oito governos diferentes, por causa do despejo de famílias ciganas.
"Houve uma epidemia de despejos de ciganos, frequentemente acompanhados de violência policial, que não resolve nada", criticou.Segundo o comissário europeu, houve ciganos expulsos das suas casas e que acabaram sem-abrigo, além de crianças que deixaram de ir à escola ou de pessoas que perderam o contacto com amigos e vizinhos e foram empurrados para situações de ainda maior pobreza.
"E estas situações pioram ainda mais nas alturas de eleições porque as autoridades locais querem mostrar que estão a ser firmes e que estão a lidar com as questões sociais, mas não resolve nada", apontou o responsável.Muiznieks admitiu recear que esta epidemia continue, aumentando o grau de intolerância para com as comunidades ciganas, lembrando que há uma série de partidos com medidas e políticas anticiganas nas suas agendas.
"Os ciganos são o grupo mais discriminado na Europa em todo o lado e há muito poucos pontos de luz", denunciou.O comissário europeu lembrou que durante algum tempo falou-se de estratégias de integração para as pessoas ciganas ou de inclusão dos ciganos, mas que esses são temas que agora foram "empurrados das agendas políticas porque toda a gente fala de migrações, Brexit, terrorismo, mas não falam de ciganos".
"A relevância das questões relativas às comunidades ciganas na agenda europeia tem decaído ao longo dos últimos anos porque outros assuntos sobrepuseram-se e acho que os ciganos vão sofrer com isso", alertou.
Contra isso, Muiznieks aponta uma solução, sugerindo que os ciganos encontrem parceiros de coligação na luta pela igualdade, defendendo que todos precisam de melhores leis antidiscriminação, melhores policias, melhores organismos de defesa da igualdade.
"Precisam que esta questão da igualdade se torne uma questão política", defendeu.Por outro lado, disse estar esperançoso com aquilo a que chamou de "nova elite de ciganos", referindo-se aos membros da comunidade que têm educação e têm experiencia em ativismo social e que não existiam há 20 anos.
"Isso dá-me esperança de que eles sejam capazes de defender melhor os seus direitos e de trabalhar para implementar mudanças sociais mais do que foram no passado", apontou.
Olhando para o cenário europeu, Muiznieks recusa dar exemplos de más práticas, preferindo antes sublinhar o bom trabalho que a Alemanha tem feito em matéria de habitação -- "Não há colónias de ciganos à volta das cidades alemãs" -- do Reino Unido na área da educação, da Espanha no que diz respeito à promoção do emprego, ou de alguns países do leste onde há uma grande participação dos ciganos na vida pública.
"Não vejo um país que tenha um cesto de boas práticas. Depende muito de país para país e os maus exemplos estão por toda a Europa", sublinhou.
No que diz respeito às prioridades que definiu, no seu trabalho, a curto prazo, está o acesso generalizado à educação, combatendo as situações de segregação na escola, o ataque aos despejos, propondo que os países encontrem soluções de habitação, e a integração dos ciganos, eliminando os preconceitos e os estereótipos, num trabalho com a comunidade maioritária.
Lusa
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