Thursday, 15 September 2016

Os Anjos da Guerra que Falam de Paz






Hoje, os moçambicanos voltam a ouvir o governo a falar de compromissos para com a paz, a concórdia e o diálogo. No meio de apelos à continuação da guerra por parte de veteranos da luta armada que pedem armas - e o governo a considerar e a estudar o apelo dos que estão dispostos a apontá-las contra cidadãos de um mesmo país. Nas vésperas de mais uma ronda de negociações de paz, mediadas por entidades escolhidas pelas partes em conflito.
Para melhor entender esta flagrante contradição, devemos recuar no tempo, quando em Nairobi e em Roma também falavam de paz, e em Moçambique apostavam na guerra – a única linguagem que entendem –para preservação de um sistema que nega direitos, que exclui e discrimina moçambicanos, que ameaça e intimida em redes sociais cidadãos que não pensam da mesma maneira ou não comungam o mesmo ideário político, e que manda abater em vias públicas as vozes que incomodam, que se excedem: “Ou eles, ou nós”.
A notícia é da Rádio Moçambique (noticiário das 21h00 do dia 20 de Fevereiro de 1989):
“Marcelino dos Santos, membro do Bureau Político e presidente da Assembleia da República, disse em Nampula que o caminho certo para a liquidação do banditismo armado é a luta. Marcelino dos Santos, que falava no Distrito de Mossuril, acrescentou que cada moçambicano deve dar o seu contributo na luta contra os terroristas.”
"O membro do Bureau Político, Marcelino dos Santos, disse hoje em Pemba, Província de Cabo Delgado, que a tarefa fundamental de todos os moçambicanos é lutar contra os bandidos armados para alcançar a paz." (RM 16h00, 10 de Junho de 1989)
“A busca da paz exige necessariamente uma acção simultânea no campo da guerra.” – Marcelino dos Santos, sessão de encerramento do 3º Curso Pré-Universitário, Faculdade para Antigos Combatentes e Trabalhadores de Vanguarda, Maputo, 21 de Junho de 1989 (RM 12h30, 22 de Junho de 1989 ).




Joao Cabrita, Facebook

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