O embaixador de Portugal em Moçambique lamentou hoje o ataque na semana da passada contra o secretário-geral da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Manuel Bissopo, e destacou a importância da manutenção da paz para o desenvolvimento do país.
"Nós lamentamos profundamente este incidente com o secretário-geral da Renamo", disse à imprensa José Augusto Duarte, à margem de uma cerimónia de doação de livros e manuais escolares na Escola Portuguesa de Moçambique, em Maputo.
O diplomata sublinhou que a manutenção da paz é um elemento crucial para o desenvolvimento de Moçambique, acrescentando que os portugueses são uma das partes mais interessadas na estabilidade do país.
"Nós gostamos de ver Moçambique a correr bem", salientou, recordando que Portugal é um dos países com mais investimentos em Moçambique.
"Acreditamos que a polícia moçambicana tudo fará para o esclarecimento do caso", referiu o diplomata português, insistindo a importância da paz para a criação de um bom a ambiente de negócios em Moçambique.
O secretário-geral da Renamo, maior partido de oposição em Moçambique, foi baleado por desconhecidos no dia 20 de janeiro, quando conduzia o seu carro na cidade da Beira, tendo o seu segurança morrido no local.
Segundo António Muchanga, porta-voz da Renamo, Bissopo continuava na segunda-feira internado na África do Sul mas apresentava significativas melhoras.
Na sexta-feira, em entrevista à Lusa, o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, responsabilizou a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) pelo ataque a tiro contra Bissopo, acusando o partido no poder há 40 anos em Moçambique de fomentar "terrorismo de Estado".
A Frelimo, por sua vez, lamentou o incidente, no qual não vê motivações políticas, e insistiu na urgência do desarmamento da maior força política de oposição.
O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Jorge Khalau, anunciou na sexta-feira uma comissão de inquérito para investigar o ataque contra o secretário-geral da Renamo, lamentando o incidente e condenando os seus autores.
O porta-voz da PRM, Inácio Dina, disse na terça-feira que a comissão de inquérito criada para investigar o ataque já está no local do incidente e já tem elementos para esclarecer o caso, acrescentando, no entanto, que, em momento oportuno, mais informações serão disponibilizadas ao público.
A União Europeia e os Estados Unidos já condenaram incidente e pediram o apuramento de responsabilidades, num contexto de escalada de violência política em Moçambique.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
Afonso Dhlakama não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda, no terceiro incidente em menos de um mês envolvendo a comitiva do líder da oposição.
Nas últimas semanas, Governo e Renamo têm-se acusado mutuamente de raptos e assassínios dos seus membros.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo, que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar a proposta de criação de novas regiões administrativas, reivindicadas pela oposição, e afirma que só retomará o diálogo após a tomada de poder no centro e norte do país.
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