O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, afirmou hoje estar na posse de respostas positivas por escrito da Igreja Católica e do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, ao pedido que lhes dirigiu para mediarem a crise política em Moçambique.
Afonso Dhlakama, Fonte: Lusa
"Quer a Igreja quer a África do Sul responderam positivamente, esperando que o outro lado manifeste também essa vontade, isto é, que a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] aceite a mediação", avançou Dhlakama em entrevista por telefone à Lusa.
O presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) declarou que estava a falar a partir da Gorongosa, onde alegadamente se encontra refugiado desde o cerco da polícia à sua residência na Beira, a 09 de outubro, não sendo visto em público desde então.
Segundo Dhlakama, a África do Sul respondeu através da sua embaixada em Maputo e a Igreja já se pronunciara publicamente através do arcebispo da Beira.
Apesar desta iniciativa, a Renamo considera que o diálogo com o Governo está parado e só espera vir a retomá-lo depois da anunciada intenção da força de oposição tomar o poder, a partir de março, nas seis províncias do centro e norte do país onde reivindica vitória nas eleições gerais de outubro de 2014.
"Acredito que tudo sempre terminará em negociações, mas neste momento não há nenhuma indicação, sobretudo depois daqueles ataques, aquelas emboscadas todas", disse o presidente da Renamo, referindo-se aos incidentes com a sua comitiva em setembro na província de Manica e ao cerco da sua residência na Beira.
Antes destes episódios, a Renamo já interrompera a sua participação nas sessões de diálogo de longo-prazo com o Governo, alegando falta de avanços e quando o país já assistia a uma série de confrontos localizados entre as forças de defesa e segurança e o braço armado da oposição.
Afonso Dhlakama justificou o convite a Jacob Zuma, dirigente do ANC (Congresso Nacional Africano), partido próximo da Frelimo, e antigo exilado em Maputo durante o regime do "apartheid" com a própria segurança da África do Sul.
"A estabilidade em Moçambique pode ajudar também a segurança na África do Sul e foi por aí que decidi indicar o Zuma", explicou o líder da oposição, lembrando que o leste do território sul-africano faz as suas exportações através do Porto de Maputo.
Além disso, o presidente da Renamo referiu-se também ao investimento sul-africano em Moçambique e que o país vizinho importa gás de Inhambane através da petrolífera sul-africana Sasol e também energia de Cahora Bassa.
"Qualquer conflito em Moçambique afeta a economia da África do Sul", reforçou Dhlakama, recusando também a ideia de desarmamento do braço militar do seu partido.
Para o presidente da Renamo, "não há desarmamento, essa palavra não pode existir, é uma palavra que até aborrece", uma vez que, sustenta, a guarda do partido está enquadrada pelo Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992 e que terminou 16 anos de guerra civil.
A Frelimo, afirmou Dhlakama, "põe isto como se tratasse de um exército quando diz que a Renamo é um partido armado", acusando o partido no poder de rejeitar a reintegração dos homens da oposição nas forças de defesa e segurança.
"Tudo está parado, o meu irmão [Presidente moçambicano, Filipe] Nyusi que entenda bem que ninguém será desarmado, a Renamo continuará com as armas para se proteger, até que Moçambique tenha de facto um estado de direito, até que a polícia seja realmente para todos os moçambicanos e não para a própria Frelimo", destacou o líder da oposição.
Segundo Dhlakama, "mesmo que a Frelimo quisesse, não tem capacidade militar para desarmar a Renamo", devolvendo a acusação de "partido armado" à força no poder.
"A Frelimo é um partido armado porque nas forças armadas todos os comandantes têm cartão da Frelimo, quem não tem não é promovido", disse ainda o líder da oposição.
Moçambique vive uma situação de incerteza política desde as eleições gerais de 2014, cujos resultados não foram reconhecidos pela Renamo.
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