A sociedade civil deveria exigir a demissão do comandante-geral da Polícia, por este estar a actuar claramente como sipaio do regime. A recente entrevista deste sipaio do regime deixa-o nu. Ao sustentar a tese de que as teleconferências do líder da oposição criam instabilidade e intranquilidade públicas no país, o sipaio do regime mostra o que até aqui esteve oculto, relativamente à acção dos esquadrões da morte do regime e a sua conexão com este e outros crimes. Isso explica-se na medida em que o nexo casualidade daquela tentativa de assassinato do Manuel Bissopo foi exactamente a teleconferência que ele organizava, e que se previa para o dia daquela ocorrência sinistra.
Mau grado, a mesma não se realizou.
O sipaio do regime é, pois, infeliz, na forma como tenta manipular a opinião pública. O sipaio do regime, conhecedor da estratégia de induzir as massas com dificuldades de pensar por si próprias, pretendeu que as suas afirmações encontrassem o efeito multiplicador junto dos nacionais e dos esquadrões da morte do regime, que, um pouco por todo o país, têm actuado de forma intolerante, assassinado cidadãos indefesos, fazedores de opinião e quadros de partidos opositores ao regime.
Todavia, a infelicidade do sipaio do regime acaba por implicar os esquadrões da morte do regime, na explicação falhada que apresenta sobre aquele sucesso, pois parece ele pretender afirmar que, se Bissopo não tentasse organizar aquela teleconferência, jamais teria sido baleado.
O sipaio do regime foi patético, pois dificilmente conseguirá ilidir quanto ao efeito e causa que considera estarem por detrás daquele acontecimento sinistro, pois a Polícia não dispõe de nenhuma pedra filosofal nem nenhuma bola de cristal que lhe possibilite avaliar, com uma leitura precisa, e que dela se conecte com as teleconferências do líder da oposição, refugiado em parte incerta, no quadro da decisão do regime de desarmar forçosamente, e à margem dos entendimentos de Roma, a guarda daquele.
As declarações do sipaio do regime, ademais de uma aberração, espelham que o país não tem uma Polícia imparcial. Depreende-se nas afirmações do sipaio daquela que deveria ser a nossa Polícia nacional, que, além de insinuosas, há clara intenção de formar a dimensão única de pensamento, para levar a maioria dos nacionais a pensarem que o líder da oposição está onde está guiado por motivo de criar caos no país, abstraindo, contudo, da quota-parte da responsabilidade que a Polícia e as forças de segurança têm em toda a instabilidade, desde os dois atentados praticados contra aquele líder político, subscritor de dois acordos de paz com o Governo.
As afirmações do sipaio do regime colam à paranóia do regime, pois nem a Polícia nem o regime podem demonstrar que as teleconferências são a prova de alguma instabilidade política, social e económica em que o país vive.
Outrossim, o que parece claro, o sipaio do regime, conhecedor de que a manipulação pode levar à obediência cega das massas menos esclarecidas, joga uma cartada perigosa na imputação, à liderança da oposição, da inflação e aumento do custo de vida das populações, de forma que estas atribuam ao rosto daqueles que representam a oposição o sufoco em que se encontra a economia doméstica.
A conduta do sipaio do regime não foge ao despotismo tendente a influenciar de forma cega a quase generalidade dos nacionais e, com isso, legitimar a perseguição a que estão sujeitos os quadros do segundo e terceiro partidos de oposição. Ademais, revela a obsessão de estrangular de forma definitiva a democracia e a liberdade de expressão no país.
Em suma: com um sipaio desse jaez, uma inequívoca encarnação da intolerância, com um sipaio que certamente busca uma recompensa pelos altos serviços prestados ao regime, dificilmente teremos a estabilidade e paz de que tanto precisamos.
(Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 28.01.2016, citado no Moçambique para todos