Saturday, 25 February 2017

Mais de uma centena de detidos nos protestos anti-imigração em Pretória


Polícia sul-africana disparou granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar confrontos em marcha anti-imigração. Desta vez, emigrantes respondem aos ataques dos nacionais. Não há vítimas a registar.
 
Cerca de 500 pessoas aderiram à marcha anti-imigração na capital sul-africana, alguns empunhando paus, depois de o Presidente do país, Jacob Zuma, ter condenado a violência xenófoba das últimas semanas.
Foram já detidas mais de 130 pessoas em Pretória devido a ataques contra estrangeiros. A maioria das detenções teve lugar esta sexta-feira (24.02) ao longo da marcha organizada pelo Grupo dos residentes preocupados de Mamelodi.
Em conferência de imprensa, o Comissário Nacional da Polícia da África do Sul, Khomotso Phahlane, não especificou o número de nacionais e estrangeiros detidos devido a violência.
Os nacionais saíram à rua para, entre outras reivindicações, mostrarem a sua insatisfação face ao fluxo de estrangeiros no país, que, defendem, ocupam postos de trabalho criados para sul-africanos.
Marcha sem vítimas
Ao contrário de outros anos, desta vez, os emigrantes responderam aos ataques dos nacionais. A polícia criou um cordão no meio de duas comunidades prontas para o confronto. Os agentes dispararam balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os confrontos.Não há registo de vítimas, mas a polícia reforçou a segurança.
O ministro sul-africano dos Assuntos Internos, Malusi Gigaba, disse que se tinha encontrado com os organizadores da marcha a quem pediu para "se expressarem de uma forma responsável”. Algo que acabou por não acontecer.
Para além do caos, lojas pertencentes a imigrantes foram saqueadas.
Recorde-se que em 2015, protestos anti-imigração na cidade de Durban e arredores resultaram em, pelo menos, seis mortos. Em 2008, cerca de 60 pessoas morreram em situações semelhantes.
Incertezas entre moçambicanos
A reportagem da DW-África, contactou jovens emigrantes moçambicanos residentes em Mamelodi, o maior bairro residencial de negros a leste da cidade de Pretória, e que alberga uma grande comunidade moçambicana. Segundo Lucas Sitoé, quando saiu de manhã, "estava tudo normal”.
"Os que não vieram [ao trabalho] foram os da zona de Atteridgeville e Pretória West, onde esta manhã a situação estava mal. Para dizer a verdade, todos querem saber o que vai acontecer mais logo. Depois da marcha não sabemos o que pode vir a acontecer”, acrescenta Elias Guambe.
Os ataques contra imigrantes na África do Sul são recorrentes. O país acolhe um grande número de estrangeiros, num contexto social marcado pelo desemprego - superior a 25% - e pela criminalidade violenta.
Pilhagens e destruição

Na última semana, registaram-se pilhagens e destruição de casas arrendadas por nigerianos nos bairros de Joanesburgo e Pretória, alegadamente con­tra a venda de drogas e prostituição.
Para a Amnistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos, este tipo de reivindicações são constantemente reportadas à polícia, mas esta tem fracassado na implementação das leis e ordem do país.
David Matsinhe, pesquisador moçambicano junto da Amnistia Internacional em Joanesburgo, apela a uma mudança de comportamento do Governo sul-africano.
"Depois de vitimizar algumas pessoas, os perpetradores podem ser conhecidos, mas a polícia e o sistema judicial nunca agiram contra essas pessoas. Nunca agem para responsabilizar os culpados. Então, este ciclo vicioso continua sempre e sempre e nunca muda”, defende.
Muitos emigrantes na África do Sul são considerados refugiados económicos que procuram melhores condições de vida, disputando oportunidades com os sul-africanos nos centros urbanos e nas comunidades. 



DW

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