O passado de Lidimo mostra uma figura sinistra e a mensagem que nos é transmitida com esta nomeação é de que a lei da espada falará mais alto
Com o anúncio formal da ascensão do general na reserva Lagos Henriques Lidimo à chefia máxima do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), fica deste modo completado o que alguns analistas rotulam de “pentágono do poder” em Moçambique. Foi nestes termos que alguns analistas comentaram a indicação de Lagos Lidimo para liderar o SISE. Efectivamente, o Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, mandou anunciar esta segunda-feira que Lagos Lidimo passa a chefiar o SISE ‒ a secreta moçambicana ‒, em substituição de Gregório Leão José.
A decisão foi anunciada por meio de um comunicado de Imprensa do sector de Política e Comunicação Social da Presidência da República de Moçambique enviado na manhã desta segunda-feira à Redacção do jornal Correio da manhã em Maputo.
Ao que apurámos, antes de mandar distribuir o comunicado oficial dando conta da mexida na “secreta” moçambicana, Nyusi passou algumas horas na sede do SISE, a alguns metros do seu gabinete de trabalho, presumivelmente para fazer a apresentação formal dos novos corpos dirigentes daquele sector sensível do Estado.
O novo director do SISE já foi chefe do Estado-Maior General e, até à data da sua nomeação, era general na reserva. Mesmo meio adolescente na altura, Lagos Henriques Lidimo foi um temido e importante comandante da guerrilha da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) contra o exército colonial português. Posteriormente chefiou os serviços de informação militar durante a guerra civil moçambicana de 16 anos que opôs o partido no poder desde a independência do país e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), actual maior força política de oposição.
Director-geral adjunto
Para o cargo de director-geral adjunto (não existia), o Presidente moçambicano nomeou Sérgio Nathú Cabá, um quadro relativamente jovem, natural da província da Zambézia, Centro de Moçambique.
Analistas ouvidos pelo Cm acreditam que tendo em conta o perfil de Lidimo e de Cabá, este será aquele que melhor se relacionará com as congéneres estrangeiras.
“Lidimo pode não ter a diplomacia e o domínio das tecnologias de informação que a actual conjuntura exige, mas acreditamos que Cabá estará à altura de dar conta do recado”, comentou um dos nossos interlocutores, que, entretanto, pediu para não ser nomeado.
Muito respeitado pelos colegas, intelectual e discreto, Sérgio Cabá é um “veterano” dos “serviços” e domina diversos dossiers sensíveis de Moçambique.
Importa referir que Cabá foi membro das equipas técnicas que prepararam a assinatura do Acordo de Nkomati entre Moçambique (Samora Moisés Machel) e África do Sul (Pieter Willen Botha), em 1984.
No curriculum vitae de Sérgio Cabá consta que durante alguns anos exerceu docência na Faculdade de Ciências Sociais (Departamento de História) na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) em Maputo.
Gregório Leão José ocupou o cargo de chefe da secreta moçambicana durante 11 anos, tendo sido antes embaixador de Moçambique em Portugal.
Filipe Nyusi, Atanásio Salvador M’Tumuke (actual ministro da Defesa de Moçambique), Salésio Teodoro Nalyambipano (que já dirigiu o Serviço Nacional de Segurança Popular, SNASP, antecessor do SISE), Alberto Joaquim Chipande (primeiro ministro da Defesa de Moçambique no pós-independência) e Lidimo, todos eles naturais de Cabo Delgado, são considerados pela maioria dos analistas políticos por nós abordados como sendo os homens mais influentes da actualidade em Moçambique.
O (quase) mutismo da Renamo
António Pedro Muchanga, porta-voz oficial da Renamo e do seu líder, Afonso Dhlakama, foi espantosamente lacónico quando convidado a comentar esta operação pelo Correio da manhã.
“É uma acção normal que não merece nenhum comentário da nossa parte”, foi nestes termos que nos respondeu Muchanga, porta-voz do principal partido da oposição parlaparlamentar em Moçambique.
MDM “surpreendido pela negativa”
Já o chefe da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, não foi por meios termos e disse taxativamente que o seu partido foi “colhido de forma surpreendente, pela negativa” pela decisão de Nyusi.
“O passado de Lidimo mostra uma figura sinistra e a mensagem que nos é transmitida com esta nomeação é de que a lei da espada falará mais alto. Este homem [Lidimo] está relacionado com as páginas mais negras da história recente de Moçambique, particularmente no que toca à violação dos Direitos Humanos. É um homem de acção, de imposição e não de diálogo”, prosseguiu Simango.
“Por estas alturas esperávamos por um director-geral do SISE que desse sinais de modernidade e de se poder adaptar às novas tecnologias. Repito: estamos surpreendidos pela negativa”, frisou Lutero Simango.
CORREIO DA MANHÃ – 31.01.2017, no Moçambique para todos
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