Wednesday, 1 February 2017

Completado o “pentágono do poder”


O passado de Lidimo mostra uma figura sinistra e a mensagem que nos é transmitida com esta nomeação é de que a lei da espada falará mais alto
Com o anúncio formal da ascensão do general na reserva Lagos Henriques Lidimo à chefia máxima do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), fica deste modo completado o que alguns analistas rotulam de “pentágono do poder” em Moçambique. Foi nestes termos que alguns analistas comentaram a indicação de Lagos Lidimo para liderar o SISE. Efectivamente, o Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, mandou anunciar esta segunda-feira que Lagos Lidimo passa a chefiar o SISE ‒ a secreta moçambicana ‒, em substituição de Gregório Leão José.
A decisão foi anunciada por meio de um comunicado de Imprensa do sector de Política e Comunicação Social da Presidência da República de Moçambique enviado na manhã desta segunda-feira à Redacção do jornal Correio da manhã em Maputo.
Ao que apurámos, antes de mandar distribuir o comunicado oficial dando conta da mexida na “secreta” moçambicana, Nyusi passou algumas horas na sede do SISE, a alguns metros do seu gabinete de trabalho, presumivelmente para fazer a apresentação formal dos novos corpos dirigentes daquele sector sensível do Estado.
O novo director do SISE já foi chefe do Estado-Maior General e, até à data da sua nomeação, era general na reserva. Mesmo meio adolescente na altura, Lagos Henriques Lidimo foi um temido e importante comandante da guerrilha da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) contra o exército colonial português. Posteriormente chefiou os serviços de informação militar durante a guerra civil moçambicana de 16 anos que opôs o partido no poder desde a independência do país e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), actual maior força política de oposição.

Director-geral adjunto

Para o cargo de director-geral adjunto (não existia), o Presidente moçambicano nomeou Sérgio Nathú Cabá, um quadro relativamente jovem, natural da província da Zambézia, Centro de Mo­çambique.
Analistas ouvidos pelo Cm acreditam que tendo em conta o perfil de Lidimo e de Cabá, este será aquele que melhor se relacionará com as congéneres estrangeiras.
“Lidimo pode não ter a di­plomacia e o domínio das tecnologias de informação que a actual conjuntura exi­ge, mas acreditamos que Cabá estará à altura de dar conta do recado”, comentou um dos nossos interlocuto­res, que, entretanto, pediu para não ser nomeado.
Muito respeitado pelos co­legas, intelectual e discreto, Sérgio Cabá é um “veterano” dos “serviços” e domina di­versos dossiers sensíveis de Moçambique.
Importa referir que Cabá foi membro das equipas técni­cas que prepararam a assina­tura do Acordo de Nkomati entre Moçambique (Samora Moisés Machel) e África do Sul (Pieter Willen Botha), em 1984.
No curriculum vitae de Sér­gio Cabá consta que durante alguns anos exerceu docên­cia na Faculdade de Ciências Sociais (Departamento de História) na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) em Maputo.
Gregório Leão José ocupou o cargo de chefe da secreta moçambicana durante 11 anos, tendo sido antes em­baixador de Moçambique em Portugal.
Filipe Nyusi, Atanásio Sal­vador M’Tumuke (actual ministro da Defesa de Mo­çambique), Salésio Teodoro Nalyambipano (que já di­rigiu o Serviço Nacional de Segurança Popular, SNASP, antecessor do SISE), Alberto Joaquim Chipande (primeiro ministro da Defesa de Mo­çambique no pós-indepen­dência) e Lidimo, todos eles naturais de Cabo Delgado, são considerados pela maio­ria dos analistas políticos por nós abordados como sendo os homens mais in­fluentes da actualidade em Moçambique.

O (quase) mutismo da Renamo

António Pedro Muchanga, porta-voz oficial da Rena­mo e do seu líder, Afonso Dhlakama, foi espantosa­mente lacónico quando convidado a comentar esta operação pelo Correio da manhã.
“É uma acção normal que não merece nenhum comentário da nossa parte”, foi nestes termos que nos respondeu Muchanga, porta-voz do prin­cipal partido da oposição parlapar­lamentar em Moçambique.

MDM “surpreendido pela negativa”

Já o chefe da bancada par­lamentar do Movimento De­mocrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, não foi por meios termos e disse taxativamente que o seu partido foi “colhido de forma surpreendente, pela negati­va” pela decisão de Nyusi.
“O passado de Lidimo mos­tra uma figura sinistra e a mensagem que nos é trans­mitida com esta nomeação é de que a lei da espada fa­lará mais alto. Este homem [Lidimo] está relacionado com as páginas mais negras da história recente de Mo­çambique, particularmente no que toca à violação dos Direitos Humanos. É um ho­mem de acção, de imposi­ção e não de diálogo”, pros­seguiu Simango.
“Por estas alturas esperáva­mos por um director-geral do SISE que desse sinais de modernidade e de se poder adaptar às novas tecnolo­gias. Repito: estamos sur­preendidos pela negativa”, frisou Lutero Simango.


CORREIO DA MANHÃ – 31.01.2017, no Moçambique para todos

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