Wednesday, 23 November 2016

Os moçambicanos e os “moçambicães”

 
A banca foi montada para servir os detentores do poder, e isso vem acontecendo desde a I República.
Não vale de nada aparecer e resumir tudo à supervisão bancária do BM.
Aqueles senhores são parte de um “complot” erigido por pessoas concretas, que foram agindo ao longo dos anos com total poder e impunidade. Chefes de Executivos governamentais, ministros, deputados, governadores de banco, administradores de bancos comerciais, todos juntos sabem como o sistema bancário se encontra à beira do colapso.
Não é preciso fazer grandes exercícios mentais analíticos para desvendar o que é perceptível e claro como água “Vumba”.
O assunto é sério e precisa de esclarecimento oficial, mas, como sabemos ou sentimos, tudo vai ficar em “águas de bacalhau”.
Em países normais, a lei é igual para todos, não importando o tamanho da fortuna. Pca’s de bancos considerados criminosos são julgados e encaminhados para a cadeia como qualquer ladrão.
Gove e a sua equipa fazem parte de um “grande plano” de enriquecimento rápido. Eram cumpridores de instruções. Isso não os iliba. Mas eram manifestamente acessórios, sem qualquer possibilidade de desobedecer.
Senão demitir-se, o que, entre nós, não só é perigoso, como prática raríssima.
Chegamos a este patamar de precariedade e informalidade bancária a mando de compatriotas que nunca esconderam que eram os que tomavam as decisões.
Estamos vivendo dias complexos em que “cabeças já deveriam estar rolando”, mas, como impera o proteccionismo estruturado ao mais alto nível, nada acontecerá.
E, já agora, importa referir que a impunidade foi sendo adubada por chancelarias internacionais com embaixadas em Maputo.
Quando um ministro desvia bolsas de estudo e é recompensado com o cargo de PCA, dispensa análise quanto a consequências.
Rouba-se e desrouba-se em pleno dia, sem que surjam acusados, culpados, julgados e condenados.
Há esforços hercúleos de pessoas que sempre foram informadas no sentido de salvar um partido que se apresenta cada vez mais esclerótico.
Exercício louvável? Sim, embora tardio. Sim, mas insuficiente. Sim, mas resta saber se esses compatriotas estão dispostos e realmente interessados em promover a transparência dentro dos órgãos que contam no seio do seu partido. Proclamações na praça pública têm interesse relativo, sobretudo quando se sabe que pouco tem acontecido em termos de consequências.
Há uma clara envolvente de autoprotecção, que determina o que se faz e quando se faz. Uns dirão que já houve ministros presos, mas aquilo foi folclórico e feito com fins marcadamente eleitoralistas e de “marketing” político.
Uma sociedade em que uns poucos comandam e estão claramente acima da lei produz o tipo de situação que se vive na arena política e financeira.
Quando a mediocridade substitui a meritocracia, está tudo dito.
Nem a multiplicação exponencial de doutores dos aviários universitários acrescenta aquela qualidade essencial para a descoberta e implementação de soluções exequíveis.
Não se pode travar a derrapagem dos bancos se não houver vontade política.
Peixe miúdo não é atum nem tubarão.
Ninguém tenha ilusões, pois as soluções dos nossos problemas serão dolorosas.
Existe oportunidade de usar as dificuldades e a crise política, financeira, para atacar com objectividade os nossos cancros constitucionais.
A CRM convenientemente aprovada revela-se agora uma mina retardada explodindo de forma faseada.
E já não se pode aceitar a reticências e hesitações dos “libertadores-mores” em admitir esgotamento e afunilamento das suas proposições.
Repetir discos furados irrita os tímpanos, pois de música digna desse nome não sai.
É urgente que se tratem as feridas conhecidas.
Basta de haver moçambicanos e “moçambicães”.
Noé Nhantumbo, CANALMOZ – 23.11.2016, no MoçAMBIQUE PARA TODOS

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