Por Edwin
Hounnou
O turbulento processo de recenseamento eleitoral
termina hoje, dia 23 de Julho, segundo garantem as autoridades competentes, sem
grandes sucessos, deixando enormes campos de dúvidas e preocupações legítimas. Não
há prorrogação. Muita gente com idade de votar, quase metade das previsões
iniciais, vai ficar de fora da possibilidade de votar e ser votado porque tanto
as avarias dos equipamentos quanto a incompatibilidade dos tinteiros, o
desconhecimento da lei por parte dos brigadistas contribuiram para colocar
vários potenciais eleitores não puderam se inscrever. O “vem amanhã que não
temos sistema”ou “vai recensear na sua terra de origem”, ou ainda, “não pode
recensear” mancharam, de forma bastante significativa, este processo que,
intencionalmente, se pretendia que fosse abrangente para todos os cidadãos
moçambicanos e partidos políticos.
Os apetites insaciáveis de acumular fortuna de maneira
pouco clara de alguns governantes, com grande destaque na pessoa do nosso
Presidente da República, não permitiram que o recenseamento fosse transparente.
Uma empresa ligada ao Chefe de Estado foi indicada para adquirir equipamentos
de recenseamento, sendo ele parte interessada nas eleições, constitui um golpe
ao processo democrático. Enquanto os políticos no poder não souberem onde
termina o Estado e começa o seu partido, estes problemas vão continuar a ser
observados, criando instabilidade
político-social e cimentando a desconfiança. O entrave fundamental consiste no
facto de o nosso Presidente da República querer tirar proveito pessoal em tudo
quanto seja empreendimento do Estado. Esta postura abominável cria confusão na
sociedade, e não só.
Em muitas autarquias, as estruturas de base do partido
no poder, tais como os famigerados Grupos Dinamizadores, secretários de células
e de quarteirão substituiram as instituições públicas, passando declarações,
credenciais, impondo programas de recenseamento aos potenciais eleitores, etc.
Existem documentos relevantes que comprovam essa intromissão política com a
cumplicidade do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral que,
falsamente, se proclama equidistante às forças políticas. Os ditos
representantes da sociedade civil não são nem nunca foram da sociedade civil,
mas, do partido governamental. São, em toda a linha, membros do partido no
poder. Dizer que são da sociedade civil é vender gato por lebre. É enganar a
comunidade internacional que drenado rios de dinheiro dos seus povos para
financiar eleições fraudulentas no nosso país.
Para que o processo eleitoral seja transparente e
credível, o partido governamental tem que se comportar como qualquer concorrente
e não como proprietário exclusivo. Os processos eleitorais, em democracia, pertencem
aos partidos e aos eleitores e jamais ao partido no poder, pois, a acontecer de
tal modo, é uma grave fraude porque realizar
uma fraude não consiste somente em introduzir em introduzir falsos boletins nas
urnas, como se fazia nas eleições anteriores, mas, iniciar um recenseamento com
turbulência, é, também, fazer fraude. Entre nós, a fraude foi posta em marcha a
partir do dia quando em que os equipamentos deixaram de funcionar, e foram mais
de oito dias consecutivoss, se recusaram recensearalegando falta de qualquer documento
de identificação legal para este efeito. As manobras para recensear o menor
número possível de eleitores foram infinitas.
O eleitor de hoje é diferente dos processos
anteriores. Tem mais informação bastante, por isso, a sua decisão de escolher
os seus representantes para a governação local será mais consciente. Isso tira
sono a muitos governantes dirigentes porque sabem que, doravante, uma eleição
será um verdadeiro julgamento. Adiar esse julgamento é o que se tem tentado
fazer, incluindo com recomendações verbais para se recensear pouca gente. A abstenção
beneficia a quem se encontra no poder e a não oposição. Isso faz ressuscitar fantasmas por
temerem ajuste de contas. Receiar deixar o poder, quando o voto popular assim o
indicar, é prova de que nos governam mal.
A prática de torturas a seguir à Independência e a
activa perseguição política que nos fazem perseguem algumas almas. O enriquecimento sem causa de governantes apoquenta-os
e todos os meios, incluindo os ilícitos, servem para se defenderem da fúria o povo
que anda farto de gente desonesta e incompetente de desenvolvimento o país onde
todos os cidadãos se possam sentir reflectidos.
Eu ja tenho o meu bilhete que dará o livre acesso ao
julgamento de 20 de Novembro de 2013. Sem a habitual intimidção da FIR nem de
juizes arregimentados ao partido no poder, a festa poderá vir a animar. Apelo
aos que ainda não se recensearam para o fazerem hoje!
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