Depois o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, afirmar, recentemente, em Maríngwè, província de Sofala, que “não quer mais saber de guerra”, a chefe desta bancada parlamentar, Ivone Soares, lançou achas à tensão política que se vive em Moçambique, em resposta àquilo que condissera provocações da Frelimo. Em sede da Assembleia da República (AR), a deputada afirmou que o seu partido e “os seus homens fortes, que a Frelimo chama de homens armados, vão continuar com as suas armas em punho, firmes e conscientes” de que as mesmas são supostamente para “defender os interesses do povo” e avisou "não brinquemos aos soldadinhos".
Volvidos sensivelmente quatro meses de actividades, que culminaram com a aprovação 23 pontos dos 33 arrolados, a primeira sessão ordinária da oitava Legislatura da AR terminou com apelos à consolidação da paz da Frelimo, pela Renamo e pelo MDM, da unidade nacional (chavão do partido no poder) e aposta no diálogo permanente.
As declarações de Ivone Soares são, claramente, uma resposta à Comissão Política da Frelimo, que exigiu há dias o desarmamento, sem pré-condições, dos homens residuais da Renamo, a maior força da oposição do país.
Neste contexto, a chefe da bancada parlamentar da Renamo, afirmou: “a decisão da Comissão Política da Frelimo de se proceder ao desarmamento incondicional da Renamo faz-nos rir. Quem é esse que vai conseguir, pela via da força, desarmar-nos? Vamos ser sérios! Não brinquemos aos soldadinhos”.
Num outro desenvolvimento, Ivone Soares endureceu o tom e numa espécie de desafio ao partido no poder e ao Governo, questionou: “Quem é esse que vai ter força para desarmar a Renamo sem diálogo? Quem é esse?”.
Segundo Ivone Soares, em Moçambique, a “Perdiz” pretende “darantir que os moçambicanos possam ser bem servidos porque merecem, porque se trata dum povo que já consentiu imensos sacrifícios”.
No que tange aos ataques que são relatados em algumas zonas do país, mormente em Tete, onde já houve pelo menos duas emboscadas este ano atribuídas à própria Renamo pelo Executivo, Ivone disse que se deve alcançar a paz e exige o término das perseguições aos membros desta formação política, alegadamente “protagonizados pela Frelimo e pelo seu Exército”.
Relativamente aos impasses que prevalecem no diálogo político entre o Governo e a Renamo, a chefe da bancada parlamentar deste movimento considerou que se deve pautar “por conversações sérias, honestas e frutíferas”.
A Comissão Política da Frelimo exigiu ainda que a Renano cumpra, sem pré-condições, o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares assinado a 5 de Setembro de 2014. Ivone Soares respondeu: “Se quiserem arrancar as nossas armas, cumpram com o Acordo Geral de Paz, cumpram com o Acordo de Cessação de Hostilidades, dialoguem connosco, e desarmem-se também. O que nós queremos é que o Exército seja estatal, que a Polícia seja estatal e que não esteja a servir a um grupinho de pessoas que há quarenta anos nada fazem, nada fizeram, apenas enganam as populações”.
Para Ivone Soares, a primeira sessão ordinária da AR “termina num momento em que o povo moçambicano ainda aguarda para que este partido e o seu presidente, Afonso Dhlakama”, sejam declarados “vencedores das eleições de 2014” e, por via disso, governem “as províncias do Niassa, de Nampula, de Tete, da Zambézia, de Manica e de Sofala”.
A Frelimo e o seu governo não são legítimos vencedores e a sua maioria no Parlamento é fruto da fraude, pelo que o poder deste formação política há 40 anos no poder “é um desafio à paciência e à tolerância” dos moçambicanos. E promete não desistir das autarquias provinciais.
Entreguem as armas
Por sua vez, Margarida Talapa, chefe da bancada parlamentar da Frelimo, apelou à Renamo para que entregue as armas em sua posse ao Governo e coloque os seus homens armados a conviverem com os moçambicanos. “Saiam das matas, entreguem as armas e venham juntar os vossos braços aos milhões de outros que, numa só força, (...) pedra a pedra constroem o novo dia dos vossos filhos”.
A intolerância e exclusão políticas continuam
Já o MDM, entende que a primeira sessão ordinária da oitava Legislatura, iniciou “com um parto difícil”, porque ainda imperam a manipulação, a intolerância e a exclusão políticas. “Ignorar este quadro é perpetuar a ditadura, é perpetuar a violência (...)”.
“(...) O processo de reconciliação não é efectivo, a intolerância política e manipulação do sistema judiciário continuam a ser os factores que aumentam o campo da desconfiança”, disse Lutero Simango, chefe da bancada parlamentar daquele partido, tendo denunciado uma suposta existência de “membros e quadros do MDM que estão a ser injustamente notificados para responderem nas procuradorias e em tribunais sobre um processo eleitoral que se caracterizou por uma intolerância e fraude”por parte “de quem detém o poder e manipula os órgãos de justiça. Sob o manto dessa manipulação, muitos são acusados e condenados”.
Lutero Simango defendeu que o diálogo político entre o Governo e a Renamo deve terminar, pois “queremos ter a liberdade de fazer trabalho político em todo o território nacional sem restrições. Queremos circular livremente. Os nossos compatriotas querem ter a plena paz e liberdade de materializar e desenvolver os seus sonhos, viver para um futuro certo”.
Sem apresentar provas da tal situação, Lutero Simango considerou que o julgamento, em Agosto, dos cidadãos Fernando Mbanze e Carlos Nuno Castel-Branco, por crimes contra a segurança do Estado e abuso de liberdade de Imprensa, é uma forma de ludibriar a opinião pública e os guardiões da legalidade fogem das suas atribuições, fingem não ver aqueles dirigentes e gestores públicos que delapidam o erário à medida grande e nada lhes acontece.
O MDM apelou para que o Parlamento não esteja “a reboque de quem quer que seja” e paute “pelos princípios de participação, abrangência e inclusão”. Há uma tendência de tornar a “Casa do Povo” “refém de agendas ocultas, deixando de ser o centro de debate democrático (...)”.
Para a Frelimo, a primeira sessão ordinária que marcou o início dos cinco anos da oitava Legislatura da AR foi, como sempre, positiva.
Haja sentimento de pertença
“O sentimento de pertença deve ser comum. O povo moçambicano merece uma flor que se chama paz, uma paz perene”, disse Verónica Macamo, presidente da AR, para quem “cabe a vós (...) a defesa intransigente da nossa jovem democracia, como quem defende uma criança que precisa de amparo, de convívio e de paz na família para crescer de forma sã e harmoniosa”.
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