"Instabilidade política, contínuas mudanças políticas, sociais e ideológicas, espasmos sociais e xenófobos persistentes, saúde precária e falta de saneamento básico…
25 de Maio está consagrado como Dia de África. Mais um que se passa e mais um ano que África vê alguns dos seus Estados em convulsões pouco agradáveis. Como seria bom que África padecesse de agitações provocadas por um crescimento económico consistente que resultasse num abalo social vitorioso. Infelizmente, vemos que os Objectivos do Milénio para 2015 estão perigosamente próximos da sua data limite e aqueles para os quais a ONU batalhou parecem cada vez mais longínquos.
África comemora o seu dia há cerca de 36 anos, desde que a ONU instituiu, em 1972, a data da formação da OUA como o Dia de África. Mas África continua, infelizmente, igual a si mesma.
Ou seja, mantém uma insistente instabilidade política, contínuas mudanças políticas, sociais e ideológicas, espasmos sociais e xenófobos persistentes, saúde precária e falta de saneamento básico.
Quando tudo parece que os dirigentes africanos caminham no sentido de dar aos seus povos aquilo que mais desejam, Paz, Saúde, Estabilidade ou Desenvolvimento há sempre uma qualquer agitação que coloca em causa esse desiderato.
Elas são as eleições, cujos resultados raramente são aceites sem estrebuchamento do perdedor – se à partida todos são vencedores porque todos estão no jogo democrático, no final não há vencedores porque o maior derrotado é o povo que depositou na urna o seu veredicto e nunca é formalmente aceite sem haver questiúnculas, por vezes e não poucas vezes, por motivos mais imbecis que camuflam a verdade: a vontade iníqua do poder! Ainda não há uma verdadeira unidade africana.
Persistem crises inesgotáveis – ou como inextinguíveis, por vontades externas, – como os de Darfur, no Chade, na Somália ou na República Democrática do Congo, para já não falar das crises surdas dos Grandes Lagos ou das tentativas sessionistas de Cabinda, na Nigéria, ou mesmo embrionárias no Príncipe.
E depois temos casos ainda mais flagrantes e incompreensíveis.
Autocratas, ditadores e assemelhados exercem o poder e blasonam fortunas que ninguém sabe esclarecer como obtiveram.
E do que dizer daqueles que vegetam em seu torno com miseráveis fortunas ainda maiores que dos detentores do Poder, quando há pouco tempo não passavam de simples e magníficos guerrilheiros que lutavam pela Liberdade dos seus Países em nome de ideais altruístas e monumentais.
Que eu saiba nas guerras de Libertação não havia como em tempos imemoráveis os despojos de guerra para fazer fortunas.
Por isso como é que elas apareceram ao ponto de haver quem mande aviões às suas fazendas buscar cabeças de gado para si e para familiares…
Para onde caminha África com estes contínuos e persistentes despropósitos?
Será que alguma vez veremos a União Africana afirmar que a unidade e solidariedade entre os países e povos de África, a defesa da soberania, integridade territorial e independência dos seus Estados membros e a integração política e socio-económica do continente, o grande sonho dos líderes pioneiros que em 1963 criaram a OUA está realizada?... Ou próximo?
Tal como Martin Luther King, eu ainda tenho um sonho.
Ver África como o Grande e Próspero Continente onde as doenças endémicas estão erradicadas; onde não se veja umas pequenas centenas de pessoas riquíssimas – com fortunas estranhas – e milhões, muitos milhões a padecerem de fome; estradas e caminhos-de-ferro levarem o desenvolvimento ao interior; cidades urbanizáveis e não aglomerados de pobres e indigentes; água, luz e todo o saneamento básico como um facto habitual e não uma amostra – pequena amostra – num todo.
Eu ainda mantenho o sonho de ver África como um Continente próspero e não como um local exótico!
( Eugénio Costa Almeida )
24-Maio-2008
©Publicado no Notícias Lusófonas, na rubrica "Manchete", em 24.Maio.2008, (http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=21131&catogory=Manchete)
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