O porta-voz da Renamo União Eleitoral, RUE, na Assembleia da República e deputado pelo círculo eleitoral da Cidade de Maputo, Eduardo Namburete, veio a público, ontem, manifestar a indignação e repúdio da sua bancada, pela actuação do Governo, no trato das recentes manifestações.
Para a bancada parlamentar da RUE, pelo menos, a morte de três cidadãos inocentes pela Polícia da República de Moçambique, PRM, Surpresa Mussane, 36, José Cuna, de 22 anos de idade, este último que encontrou a morte não por acidente e de um cidadão não identificado, deve ser responsabilizada ao Governo, e o Ministério do Interior deve pronunciar-se, assumindo a responsabilidade pelo incidente.
Segundo Namburete, Mussane, mãe de 5 filhos, encontrou a morte, por volta das 17 h04as, quando tentava proteger as suas crianças do gás lacrimogéneo arremessado pela Polícia , na Avenida Acordos de Lusaka, perto da Praça dos Heróis. Cuna, “trabalhador e pacato cidadão”, foi morto por tiros da PRM, por volta da meia noite do dia 5 de Fevereiro, sentado a pouco mais de 20 metros da sua residência, também na Acords de Lusaka, nas proximidades do cruzamento com a Avenida Joaquim Chissano. O terceiro cidadão, cuja identidade os deputados não conseguiram apurar, foi morto pela PRM, na mesma avenida, e, também, não estava participando das manifestações. “O seu pecado foi, apenas, passar por onde estava a Polícia da República de Moçambique”.
“À altura do assassinato de Cuna, os tumultos já tinham cessado, em quase toda a cidade, e não havia razão para a polícia ter disparado a matar contra o jovem que, segundo testemunhas, apenas estava sentado na companhia de amigos, nas proximidades da sua residência”, disse o porta-voz da RUE, reafirmando que “sob o pretexto de restabelecer a ordem e tranquilidade públicas, a polícia matou pelo menos três pessoas que nada tinham a ver com as manifestações”.
“Acreditamos viver numa sociedade democrática onde as manifestações são uma das formas de luta pelos direitos de cidadania, uma forma de manifestar a vontade e preocupações. Manifestações ocorrerão, em outros momentos da vida do País, pelo que apelamos ao Governo a repensar a sua forma de lidar com situações de levantamentos populares, priviligiando outros meis para conter tais situações, como o recurso a jactos de água, balas de borracha, gás lacrimogéneo, e mais importante, envolver nestas operações pessoa treinadas para lidar com manifestações populares e não pessoas treinadas para matar”, disse.
Os deputados da RUE, que não concordam com a violência e a destruição de bens e propriedades individuais ou colectivas, por mais nobres que sejam as razões das manifestações, repudiam e condenam, com veemência, a utilização de balas de chumbo para conter manifestações.
Consideram, ainda, insensato, arrogante e até falta de pudor, o Governo vir a público falar de violação dos direitos, quando o mesmo Governo, que as dveria proteger atirou com balas de chumbo ferindo e matando crianças, jovens, mulheres e idosos.
De acordo com a fonte, as manifestações do dia 5 resultam da decisão desconcertada do Governo e dos transportadores dos semi-colectivos de aumentar as tarifas para níveis considerados inaceitáveis e intoleráveis para a maioria dos citadinos A decisão mostra, no entender da RUE, por si só, o quanto o Governo da Frelimo, ao mesmo tempo que propala a sua preocupação com o bem estar estar das populações, “retira a mínima possibilidade de estas populações se erguerem da miséria imposta por políticas demagógicas que governam o país há mais de 32 anos”.
“Entendemos que o transporte é um direito que os moçambicanos têm e é uma obrigação do Estado. O povo não tem que negociar com Governo o direito a transporte, da mesma forma que não tem que negociar o direito à educação, habitação e saúde. Um direito é um direito. Uma obrigação é obrigação”.
Namburete recordou que, ainda, no dia 22 de Março de 2007, mais de 100 pessoas inocentes foram mortas e outras 500 feridas, pelos artefactos bélicos, sob a guarda do Ministério da Defesa, e “temos relatos de que, até hoje, pessoas há que perderam familiares e bens, mas o governo ainda não se dignou a compensá-las”. (IC)
(Retirado, com a devida vénia, do “A Tribuna Fax”, de 08-02-08).
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