Monday 9 April 2018

A intolerância agudiza-se, em contramão com alguns discursos de ocasião.


Não é segredo para muitos que de há uns anos a esta parte quem pensar ou se expressar livremente, principalmente contra o sistema instalado (salvo alguns “críticos autorizados”), tem à espera um balázio ou pé-de-cabra, de tal sorte que tudo indica que uma indústria ou comércio de urnas funerárias e canadianas (vulgo muletas) tem tudo para dar certo por estas bandas.
Para agravar o cenário, basta acompanhar os mais recentes comentários públicos dos senhores dos (des)consensos, que cinicamente se tratam por “irmãos”.
Falando para os seus seguidores na Matola durante a mais recente sessão do Comité Central (23-25 de Março), o presidente do partido Frelimo e da República, Filipe Nyusi, afirmou não esperar que o seu contraparte, líder da Renamo, Afonso Dhlakama, venha com novas exigências.
Nyusi deu a entender que a descentralização e o desarmamento dos homens residuais da Renamo eram duas faces da mesma moeda.
Dhlakama, por seu turno, tem outro entendimento: esta semana foi citado por um semanário a afirmar que o seu “irmão” Nyusi estava equivocado ao associar a descentralização e o desarmamento dos homens da “perdiz”.
“Descentralizar é uma coisa e (o desarmamento e) a integração dos homens da Renamo é outra coisa”, teria dito Dhlakama, acrescentando mesmo que “o presidente Nyusi nunca me abordou oficialmente para me dizer que a descentralização é para trocar com o desarmamento (…) Eu acho que estava a fazer política, e compreende-se (…). Se calhar foi para contentar os camaradas nervosos com a derrota de Nampula, não sei. Mas cada um tem os seus problemas, e eu também tenho os meus”.
Estas palavras, acrescidas a um comentário de Dhlakama segundo o qual “a Renamo não vai retirar armas da sua segurança e entregar a um conjunto de pessoas que recebem ordens do partido Frelimo. Isso nunca vai acontecer, aliás, todo o mundo sabe (disso) desde 1994”, reflectem tudo, menos consensos sérios entre Nyusi e Dhlakama.
Isto tudo, associado aos atentados, raptos, torturas e mortes selectivas que se assistem na “Pátria Amada” apenas dão para concluir que o ambiente está simplesmente inquinado e que falar de consensos deve ser para fazer boi dormir, porque parece que os dois arquirrivais continuam vivamente motivados a aniquilar/decapitar a outra parte, apenas esperando o primeiro deslize.
Se há um desejo que gostaria de exprimir neste momento, é, sinceramente, de estar redondamente enganado, mas lá que a coisa está feia, bem me parece.

Refinaldo Chilengue, Correio da Manhã (Moçambique) – 09.04.2018

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